Negociações com as Farc viram foco das eleições na Colômbia
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A Colômbia vai às urnas neste domingo (25) para o primeiro turno das eleições presidenciais, após uma campanha marcada por escândalos e denúncias entre os principais candidatos, e principalmente sobre o futuro das negociações de paz com as Farc. O atual presidente, Juan Carlos Santos, busca a reeleição e enfrenta três opositores, mas a batalha se polarizou contra o conservador Oscar Zuluaga.
Segundo as pesquisas de intenções de voto, os dois estão tecnicamente empatados, com cerca de 25% dos votos, e o segundo turno parece inevitável. Em comum, eles dividem um passado de aliança com o ex-presidente Álvaro Uribe, que hoje apoia Zuluaga.
Luis Fernando Ayerbe, professor de Relações Internacionais da Unesp e especialista na América Latina, avalia que a disputa por uma mesma parcela do eleitorado estimulou a polarização na eleição. “Os dois vêm do mesmo campo, mas com a eleição de Santos, houve diferenças em relação a Uribe. Como eles estão disputando o mesmo eleitorado, os escândalos são um fator importante dessa polarização”, afirma. “Acho que a esquerda vai acabar escolhendo o voto útil.”
A principal diferença entre os dois candidatos favoritos é a posição sobre as negociações de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), realizadas por Santos em Cuba. Zuluaga é favorável à solução militar, como Uribe. Este ponto acabou transformando a eleição quase em um referendo, afirma Fábio Borges, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal da Integração Latino-americana.
“Tem uma sensibilidade muito grande em torno desse tema, porque é um assunto que, direta ou indiretamente, afeta todos os colombianos e existe um trauma muito grande. Todo mundo foi afetado por esse conflito, então ele é o centro das questões”, explica o professor. “Os outros temas, como saúde e desemprego, acabaram ficando à margem.”
Interesses regionais
O discurso mais radical de Zuluaga sobre as Farc, mas também a hostilidade do candidato em relação à Venezuela, fazem com que o atual presidente, Juan Carlos Santos, seja o preferido dos vizinhos na América do Sul, na opinião de Ayerbe. “A chegada de Santos configurou uma situação mais pragmática em relação aos países da Unasul. A ideologização que existia, com Uribe mais próximo dos Estados Unidos, diminuiu. Santos tem uma aproximação maior com o perfil do resto da região, embora seja conservador”, lembra. “E a questão da paz regional é fundamental para as elites colombianas, que querem a projeção do país na economia internacional.”
A polêmica sobre as Farc acaba fazendo sombra às propostas dos candidatos a outros temas importantes, como a economia. Apesar do desemprego elevado (9,7%), a Colômbia vive um bom momento, com crescimento em torno de 4%. O PIB do país deve superar o da Argentina já no ano que vem, tornando a Colômbia a terceira maior economia latina, como lembra Borges.
“A condução da economia nos últimos anos traz popularidade para Juan Carlos Santos. É um país que vem crescendo com muito investimento americano e asiático. Mas apesar do crescimento econômico, os problemas sociais continuam muito sérios. A desigualdade é muito grande”, destaca.
O segundo turno das eleições colombianas está previsto para o dia 15 de junho. O mandato é de quatro anos.
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