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“Revolução sangrenta não seria injustificada diante das desigualdades”, diz Caetano

De passagem por Paris para dois disputados shows no mítico Grand Rex, o cantor Caetano Valoso aproveitou a ocasião para falar sobre os distúrbios que mexem com o Brasil há quase um ano. Em entrevista ao jornal Le Monde, publicada neste sábado, Caetano diz que “diante das desigualdades escandalosas da sociedade brasileira, uma revolução sangrenta não seria injustificada”.

O primeiro show de Caetano Veloso em Paris para a turnê Abraçaço ocorreu na sexta-feira, 16.
O primeiro show de Caetano Veloso em Paris para a turnê Abraçaço ocorreu na sexta-feira, 16. Divulgação
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O cantor, chamado de “camaleão sofisticado” pela jornalista francesa Véronique Mortaigne, lembra que essa era a sua opinião em 1963 e hoje pensa da mesma maneira. Caetano relata jamais “ter se visto com uma arma na mão”, mas afirma ter “admirado aqueles que arriscavam suas vidas para lutar contra a ditadura, dando às costas ao Partido Comunista, ligado a Moscou, e se orientando à luta armada”.

Em Paris para apresentar o álbum Abraçaço, o músico destaca ao jornal francês que “nunca se falou tanto sobre a ditadura no Brasil” – seja pelo desejo de justiça quanto aos crimes cometidos durante os anos de chumbo, seja pelos “delírios reacionários pedindo o retorno dos militares”.

O cantor ainda comenta o fenômeno dos rolezinhos, os passeios em massa de jovens de periferia em shoppings centers das grandes cidades brasileiras e que “incomodam” a classe média, conforme o Le Monde. Para Caetano, os rolezinhos “são apolíticos, a uma primeira vista, assim como a música funk do Rio de Janeiro”. Mas na realidade, observa, “essas manifestações de energia social não são jamais inofensivas politicamente”.

Para Caetano, de 71 anos, as ocupações dos shoppings estão “em perfeita correlação com a etapa histórica em que nós estamos” – um período prolongado de democracia, mas com muita instabilidade social e a lembrança dos 50 anos da ditadura militar. A persistência das desigualdades sociais indica, conforme ele, que “o Brasil ainda não cumpriu o seu destino diante do mundo”.
 

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