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Fato em Foco

Agência francesa diz que modelo de crescimento brasileiro está esgotado

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A Agência Francesa de Desenvolvimento, um organismo público francês que financia projetos no exterior, divulgou nesta terça-feira, em Paris, o primeiro relatório sobre a economia brasileira. No documento, intitulado “Como está a economia brasileira?”, a AFD desenha um quadro preocupante do país, marcado por infraestruturas deficientes, falta de investimentos e degradação das contas públicas.

Obras de ampliação do Aeroporto Internacional Pinto Martins em Fotaleza.
Obras de ampliação do Aeroporto Internacional Pinto Martins em Fotaleza. REUTERS/Davi Pinheiro
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Segundo os especialistas franceses, depois de alguns anos de crescimento acelerado, agora “a situação no Brasil está difícil”. A crise internacional também contribuiu para a piora da situação, mas não explica tudo, na opinião dos franceses, que estão presentes do país desde 2007.

A agência avalia que o modelo de crescimento, baseado no consumo interno, “chegou ao seu limite”. Por uma década, este modelo sustentou a economia brasileira e tirou milhares de pessoas da pobreza. Mesmo assim, as desigualdades sociais permanecem elevadas, diz a agência.

Agora, o governo precisa enfrentar problemas estruturais do país se quiser evitar uma “desindustrialização precoce”, nas palavras de Sophie Chauvin, a economista que apresentou o relatório nesta manhã. A equipe dela ainda observa que as exportações brasileiras, focadas nas matérias-primas, ficam à mercê da conjuntura na China, que é uma das principais importadoras.

“É verdade que a questão da concentração da economia nas matérias-primas existe. Se observamos o comércio exterior, a parte dos produtos primários nas exportações é muito importante, talvez demais”, constata. “Mas felizmente o Brasil ainda não é uma economia que se tornou completamente primária. De fato, seria necessário que as autoridades pensassem em desenvolver mais políticas de industrialização.”

Um dos principais problemas é o de infraestruturas deficientes, que somadas a uma carga tributária elevada, acabam impactando na competitividade do Brasil no cenário internacional. O país investe apenas o equivalente a 18% do PIB, contra uma média de 30% nas grandes economias emergentes, de acordo com a agência.

Impacto da Copa

Diante de jornalistas, Chauvin comentou sobre o impacto da Copa do Mundo na economia para o país. Ela observou que as obras de infraestrutura responderam por apenas 0,7% dos investimentos feitos entre 2010 e 2013. Apesar das promessas, portos, aeroportos e estradas ainda deixam muito a desejar.

Ainda assim, a economista francesa avalia que o Brasil não desperdiçou a realização da Copa, em termos de obras públicas implantadas. “Na realidade, há dois fatores. É verdade que as necessidades para uma Copa do Mundo são bastante específicas, se concentram nas construções de estádios e no entorno deles. De certa forma é normal que os gastos dos investimentos tenham sido principalmente para os estádios”, afirma. “Talvez tenha tido um atraso, digamos, nas outras infraestruturas necessárias, que eram muito mais importantes para a população. Mas não sei se podemos dizer que a Copa foi uma ocasião desperdiçada para fazer tudo isso.”

Outro ponto em que o país fica atrás é em relação à abertura da economia: a agência francesa considera o Brasil um país protecionista, que privilegia as empresas nacionais a qualquer custo e acaba afastando os investidores estrangeiros. E ainda critica as manobras fiscais do governo para cumprir as metas do superávit primário, o que para ela tirou a credibilidade do Brasil nos mercados. Em março, a agência Standard & Poor’s piorou a perspectiva da nota brasileira, de BBB para BB-.

Eleições

Sophie Chauvin antecipa que o ano de 2015 vai ser difícil, qualquer que seja o presidente. Medidas econômicas importantes, mas impopulares, que poderiam ter sido tomadas neste ano, acabaram adiadas em função das eleições, em outubro. “2015 vai ser um ano bem difícil. Mas é preciso continuar otimistas. Apesar dos problemas, eu acho que as bases do Brasil são muito boas”, disse. “Agora estamos em um ano eleitoral, e todos os países, quando passam por um ano eleitoral, registram poucas mudanças. E no Brasil os mandatos ainda são curtos, de apenas quatro anos. Então precisamos esperar 2015 e ver o que vai acontecer. Até o momento, os brasileiros sempre souberam ser pragmáticos, e tomar as boas medidas no momento certo.”

O Brasil foi o tema da 12ª edição da coleção MacroDev, da Agência Francesa de Desenvolvimento. Os estudos são coordenados pela divisão de Análise Macroeconômica e de Risco País.
 

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