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Nova região separatista da Ucrânia tem menos adesão à Rússia que à Crimeia

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A tensão voltou a tomar conta da Ucrânia nos últimos dias. Não muito distante da Crimeia, agora é Donetsk, no leste do país, que começa a reivindicar a ligação à Rússia. Especialistas avaliam que a chance de uma nova perda de território pela Ucrânia é, por enquanto, pequena.

Manifestantes a favor da anexação à Rússia protestam em Dontesk, nesta quinta-feira.
Manifestantes a favor da anexação à Rússia protestam em Dontesk, nesta quinta-feira. REUTERS/Konstantin Chernichkin
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O cenário ainda é de incertezas: uma parcela minoritária da população do leste ucraniano questiona o novo poder em Kiev, e as reivindicações ainda não estão claras. Os separatistas não esclareceram se desejam mais autonomia em relação ao governo central, se querem a independência do restante do país ou se almejam a anexação a Moscou, a exemplo da Crimeia. Em março, por referendo, a região decidiu voltar a fazer parte da Rússia.

Doutor em geopolítica da ex-União Soviética, David Teurtrie avalia que o cenário atual em Donetsk e o que ocorreu na Crimeia têm poucas semelhanças. “São territórios que de certa forma são bastante pró-Rússia, onde o passado com a Rússia é visto de uma maneira positiva, ao contrário do oeste da Ucrânia. Porém há várias diferenças em relação à Crimeia, onde a maioria da população é russa em termos étnicos. Este não o caso em Donetsk, onde os ucranianos são maioria”, explica. “Também tem a questão do estatuto. A Crimeia havia sido transferida da Rússia para a Ucrânia em um momento bem tardio da União Soviética, sob condições contestáveis, enquanto que esses novos territórios ao leste sempre fizeram parte da Ucrânia.”

Teurtrie, pesquisador do Instituto Nacional de Línguas e Civilizações Orientais (Inalco), em Paris, lembra que a região leste do país desde o princípio contestou a deposição à força do presidente ucraniano Viktor Yanukovich, aliado de Moscou. O governo interino também não agrada aos habitantes de Donetsk e de Lugansk, outro foco dos separatistas.

“Nas primeiras semanas da tomada do poder em Kiev, houve muitas manifestações no leste do país contra essa nova situação. Dezenas de milhares de pessoas participaram. Elas não eram necessariamente contrárias à saída ao presidente Viktor Yanukovich: uma boa parte da população que votou nele estava muito decepcionada com a corrupção e a crise econômica”, recorda. “Entretanto, as pessoas estão contra os novos dirigentes. Primeiro porque a tomada de poder foi contestável, e depois porque uma parte desse novo governo é composta por extremistas, que são extremamente mal vistos pelo leste russófono.”

Retomada da influência mundial

Enquanto isso, a escalada de acusações entre Moscou e Washington também retornou. Na opinião Argemiro Procópio Filho, professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UNB), a intenção da Rússia não é tentar reconquistar territórios da antiga União Soviética – o presidente Vladimir Putin quer é restaurar o poder da Rússia na política e economia internacionais.

“Depois da desagragação, a Rússia passou por um período de desencanto, por um processo quase vexatório. Nesses últimos anos, ela se recompôs, e se tornou novamente uma potência regional de expressivo valor, graças sobretudo ao petróleo”, relembra. “Ela não admite mais qualquer interferência externa na sua área, como os Estados Unidos estão fazendo na Ucrânia. É uma área onde os americanos nunca tinham colocado as mãos, e como estão bastante debilitados, estão colocando as mãos num lugar e na hora erradas. Da mesma forma em que seria inaceitável, por Washington, que os russos tivessem atividades no México.”

Ucrânia, Rússia, Estados Unidos e União Europeia concordaram em sentar à mesa para negociar a crise ucraniana na semana que vem. David Teurtrie está cético sobre a possibilidade de um acordo. “Por enquanto é difícil visualizar a emergência de um compromisso, porque estamos em uma escalada de tensão. Falou-se muito mais de sanções do que da busca por um acordo”, avalia o francês. “Um compromisso é necessário para a estabilidade do continente europeu. A Europa não precisa deste conflito e está refém de um braço de ferro entre russos e americanos.”

Juntas, as regiões de Donetsk e Lugansk têm 6,65 milhões de habitantes.
 

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