Neste ano de Copa do Mundo, o Brasil que por tanto tempo se pretendeu pós-racialista, um éden étnico em que a discriminação não tem espaço, se vê ainda longe de erradicar o racismo não só da sociedade, mas dentro de seu território mais sagrado: o campo de futebol.
Episódios recentes envolvendo o volante santista Arouca, o meia do Cruzeiro Tinga e o juiz Marcio Chagas da Silva mostram que ainda vivemos um problema racial sério no futebol onde, teoricamente, só a técnica importa. Mas Arouca e Tinga têm uma característica em comum que atiça a ira dos racistas: o orgulho expresso de suas raízes africanas.
100% negros
"Ambos têm uma imagem que é o estereótipo do negro", observa o professor Marcel Diego Tonini acerca dos cabelos de Arouca e Tinga. "Eles ão alvos mais fáceis do que aqueles negros que tentam disfarçar as origens, disfarçar as marcas negróides. A afirmação da negritude deles é uma afronta para os torcedores racistas", afirma.
O caso de Marcio Chagas é mais literal - pela própria ausência de negros em cargos importantes no futebol, há uma dificuldade em reconhecer um afrodescente em uma posição de autoridade. No dia 5 de março, depois de apitar um jogo entre Esportivo e Veranópolis pelo campeonato gaúcho, o árbitro encontrou seu carro depredado e coberto de bananas, no estacionamento privativo do estádio do Esportivo.
Punição branda
Julgado STJD, o clube perdeu cinco mandos de campo e foi multado em 30 mil reais. Uma pena branda, se considerarmos a tipificação do crime de racismo na Justiça comum. Esse tipo de distorção, na opinião de Tonini, deve-se ao baixo empenho das entidades do futebol em combater a discriminação.
"Todas as entidades máximas do futebol trabalham de maneira protocolar. Haja vista o caso do Tinga em que, até hoje, a CONMEBOL não deu uma punição, não se pronunciou oficialmente". Estes três casos e outros nem sempre tão escancarados mostram que, no ano da Copa, o Brasil ainda tem muito o que fazer para expulsar o racismo de campo.
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