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França

No caso Sarkozy, esquerda francesa transformou ouro em chumbo

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A pouco mais de uma semana das eleições municipais, a classe política francesa vive uma crise generalizada. Ao que parecia inicialmente, o ex-presidente Nicolas Sarkozy seria o grande prejudicado e seu partido, a UMP, apanharia os estilhaços. Isso seria o mais lógico: ele é investigado por vários escândalos concomitantes e, embora não tenha emergido nenhuma prova conclusiva contra ele, a imagem de qualquer político é inevitavelmente arranhada por uma investigação.

Nicolas Sarkozy fala ao telefone em Bruxelas, 2009
Nicolas Sarkozy fala ao telefone em Bruxelas, 2009 REUTERS/Yves Herman
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E o ex-presidente tem mais do que sua honra para defender. Ainda que negue querer disputar a presidência em 2017, o ex-presidente tem multiplicado as aparições públicas, tem soltado comentários políticos e não parece se incomodar quando alguém próximo a ele alimenta os boatos sobre sua volta.

Sarkozy é acusado de financiamento ilegal na campanha presidencial de 2007, quando ele teria recebido dinheiro do ex-ditador líbio Muammar Kadaffi. Na mesma campanha, ele é suspeito de coagir a bilionária Liliane Bettencourt, dona da L'Oréal, a realizar doações. Pesa sobre ele uma queixa de abuso de fragilidade já que, na época, ela tinha 90 anos.

Escutas telefônicas

Na sexta-feira, dia 7 de março, o vespertino Le Monde revelou que conversas telefônicas entre Sarkozy e seu advogado Thierry Herzog teriam sido interceptadas pela polícia, sob autorização judicial. Em um telefone que obteu usando um nome falso, o ex-presidente daria indícios de um suposto tráfico de influência entre os dois e um magistrado envolvido no caso Bettencourt. Quer dizer, a cama estava armada para Nicolás Sarkozy.

Mas logo depois da matéria de Le Monde, o conselho dos advogados de Paris enviou uma carta ao presidente François Hollande pedindo uma explicação sobre a suposta quebra da privacidade entre o advogado e seu cliente. A direita viu uma oportunidade de virar o jogo e passou a acusar o Executivo socialista de ingerência no poder Judiciário.

Trapalhada

Não era uma aposta fácil, dado que como define o cientista político Gaspard Estrada, o Executivo francês é "intrinsecamente ligado ao Judiciário". Mas, na quarta-feira, por incrível que pareça, funcionou, com um impulso de uma desastrada coletiva de imprensa da Ministra da Justiça, Christiane Taubira. Perguntada se tinha conhecimento das escutas, ela respondeu: "A resposta a sua pergunta é muito clara. Antes, eu não tinha essa informação".

Mas logo depois exibiu duas cartas que mostram exatamente o contrário. Uma delas contém informações sobre do andamento das investigações sobre o suposto financiamento ilegal da campanha de Sarkozy. A outra deixa claro que policiais "interceptaram" conversas entre o ex-presidente Sarkozy e seu advogado Thierry Herzog entre os dias 28 de janeiro e 11 de fevereiro deste ano. Apesar de Taubira ter garantido que só soube do caso em 28 de fevereiro, as cartas datam do dia 26.

Com essa manobra de rara infelicidade, os socialistas transformaram ouro em chumbo, como se tem dito por aqui. Na guerra de acusações, os espólios perigam parar em mãos perigosas. E tudo isso, a pouco mais de uma semana das eleições municipais.

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