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Fato em Foco

Em três anos, guerra na Síria não poupou nem médicos e hospitais

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140 mil mortos, 2,5 milhões de refugiados, e nenhuma luz no fim do túnel para encerrar um conflito que completa neste sábado o triste aniversário de três anos. Enquanto a Síria se afunda no caos, centenas de voluntários do mundo inteiro tentam ajudar como podem a população civil, refém da guerra civil na qual se opõem o regime do presidente Bachar al-Assad e uma oposição cada vez mais dividida. A violência do conflito faz até a ajuda humanitária se tornar alvo: segundo a organização Save the Children, 60% dos hospitais e 38% dos centros de primeiros socorros foram destruídos ou danificados por bombardeios ao longo destes 1.095 dias de confrontos.

Médico atendendo paciente em um hospital de Allepo.
Médico atendendo paciente em um hospital de Allepo. REUTERS/Hosam Katan
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Uma das entidades mais ativas para prestar socorro aos feridos é a Médicos do Mundo. Mas os riscos na Síria estão tão graves que a ONG não envia mais médicos e enfermeiros estrangeiros para o país. O trabalho de apoio é feito através de profissionais sírios. “A situação atual é dramática porque ocorrem bombardeios indiscriminados, sobre zonas civis. Se tem ou não hospitais ali, não faz a menor diferença: haverá bombardeio. Essa situação é inaceitável porque normalmente os locais de tratamento deveriam ser santuários”, observa o presidente da entidade, Thierry Brigaud.

Brigaud esteve pela última vez na Síria em 2012, na região norte. Ele relata que a escassez de tratamento médico se tornou um problema crônico, que engrossa as estatísticas de vítimas fatais do conflito. “É uma experiência dolorosa porque, em primeiro lugar, sentimos que há muita necessidade de ajuda e que nós não conseguiremos atender a todos. Há uma espécie de angustia permanente: houve bombardeios poucos dias antes de chegarmos em uma determinada região, e você percebe que as pessoas estão sempre vigilantes, ouvindo cada barulho, afinal eles têm medo de que possa acontecer um bombardeio a qualquer momento, o que é muito difícil de agüentar”, afirma. “Não tanto quando estamos de passagem, mas é difícil de viver isso cotidianamente, sobretudo se você pensa que esse conflito já dura três anos.”

Mobilização no exterior

A comunidade síria no exterior também se mobiliza. O oncologista Oubaida al-Moufti coordena, em Paris, a Associação de Ajuda às Vítimas na Síria, presente em vários países para recolher doações de equipamentos e produtos médicos, que são enviados às zonas de conflito. Os profissionais também se deslocam ao país para formar médicos e enfermeiros, e ajudá-los a trabalhar em meio à guerra.

“Quando vemos a situação em campo, é catastrófica porque tem diversas regiões que estão sem nenhum centro médico. Nós tentamos cobrir essas regiões, mas não é nada fácil. São zonas controladas por vários grupos diferentes, armados. Não tem mais quase nenhum aeroporto que funcione, as fronteiras estão fechadas com todos os países, e eles praticamente não deixam mais carros passar”, relata. “Na semana passada, quando estive na fronteira com a Turquia, só havia pessoas caminhando, para poder atravessar. Você vê mulheres e crianças, levando malas e carrinhos, caminhando por dois ou três quilômetros.”

Médicos viram alvos

O impasse político é tão complexo que até os médicos são vistos com desconfiança, tanto pelo regime quanto pelos rebeldes. Thierry Brigaud ressalta que, neste contexto, a colaboração da população civil é essencial.

“Quando refizemos o pedido de autorização para trabalhar no norte da Síria, jamais tivemos resposta. Decidimos não pedir mais documentos oficiais, e estamos em zonas onde há alguma segurança, ou trabalhamos diretamente com os sírios”, conta. “O diálogo com os rebeldes também é impossível, porque a rebelião está fracionada em diversos grupos diferentes. Uma das razões pelas quais a gente não envia mais estrangeiros lá é que o diálogo com os rebeldes são é satisfatório, e eles não podem nos garantir um trânsito seguro para os estrangeiros.”

Para Oubaida al-Moufti, a situação é ainda mais problemática, por se tratar de uma associação síria. O médico tem dificuldades de convencer que a organização não tem relação política com nenhum dos lados do conflito. E desde que facções extremistas passaram a combater junto com alguns grupos opositores, a ajuda internacional à ONG despencou.

“As pessoas não doam mais nada, não querem correr o risco de a ajuda ir parar nas mãos de grupos armados. Só que no meio disso tem uma situação como a de Alepo, bombardeada diariamente nos últimos três meses, tanto por aviões do regime quanto por grupos armados, que são completamente anárquicos, não sabem o que querem, que brigam entre si”, lamenta o oncologista, formado em seu país natal.

Conforme al-Moufti, 180 médicos já foram mortos desde o início da guerra na Síria, e 3 mil profissionais do setor estão presos, acusados de ajudar grupos terroristas.
 

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