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França

Jornal Libération enfrenta pior crise da história

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Fundado em 1973 por Jean Paul Sartre, o jornal francês de esquerda Libération vive uma de suas piores crises. Nesta quinta-feira, o diretor do jornal, Nicolas Demorand, pediu demissão do cargo, poucos dias depois dos novos acionistas anunciarem uma reformulação completa do jornal.

Capa do jornal Libération 9 de fevereiro
Capa do jornal Libération 9 de fevereiro ©Libération
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A ideia é transformar o jornal de centro-esquerda, que nasceu calcado na ideologia das barricadas de 1968, em uma rede social. A sede se transformaria em um espaço cultural e a redação seria transferida para o subúrbio de Paris. Uma proposta que revoltou os jornalistas, que negociavam há meses um plano de corte de gastos, que inclui inclusive a diminuição dos salários.

Em sinal de protesto, a capa do jornal do dia 9 de fevereiro trouxe a manchete : "Somos um Jornal, não somos uma rede social, um espaço cultural, um programa de TV, ou uma start up." O jornal vive sua pior crise financeira da história, registrando uma queda de mais de 40% na vendas no período de um ano.

Em 2012, ele foi comprado pela holding Refondation. Seus principais acionistas são o empresário Bruno Ledoux e Edouard de Rothschild, que vem propondo profundas reformulações. Nesta quarta-feira, os proprietários do jornal disseram que aguardava um empréstimo do governo francês, que poderia investir dois milhões de euros no Libération..

Em uma entrevista ao jornal Le Monde, o ex-diretor do Libération critica a dificuldade na implementação de mudanças na redação, que envolvem a transição e a adaptação à era digital com presença em diversos suportes. Um argumento contestado pelos seus jornalistas, como explica Christophe Forcari, repórter do 'Libé' há 20 anos e professor no CELSA, uma das escolas de jornalismo mais conhecidas da França.

"Nós compreendemos muito bem que é preciso uma diversificação para tornar o jornal mais lucrativo, mas de uma outra maneira, não a qualquer preço, não arriscando acabar com a identidade que faz do Libération esse jornal", diz. "Tomamos conhecimento dessas mudanças através de um e-mail de François Moulias, representante dos acionistas, explicando o projeto dos acionistas."

O jornalista também diz que a redação realizou com sucesso a transição para a era digital, contrariando as críticas de seu diretor. "A transição foi feita há muito tempo. O que eles nos propõem é manter o jornal como uma espécie de emblema, uma marca, e paralelamente, utilizá-la nas redes sociais, nos distanciando da essência da nossa profissão, que é o jornalismo e a produção de informação", explica.

Para jornalista, o futuro do jornal é incerto

O jornalista diz que é difícil saber qual é o futuro do jornal nas atuais circunstâncias. "Ainda é cedo para saber qual será o futuro do jornal Libération. É um jornal em perigo, isso ninguém pode negar, somos conscientes disso. Estamos dispostos a fazer um esforço de adaptação, mas não a qualquer preço. Os acionistas deveriam compreender que não brincamos com um jornal, como em outro tipo de empresa. É como pedir para a Peugeot deixar de fabricar carros, para fabricar placas de cozinha."

O colunista da RFI e Alfredo Valladão entrou no Libération em 1981, e trabalhou no jornal durante 12 anos, sob a gestão de Sérgio July. Ele conta que, nesses áureos tempos, o jornal "era uma bagunça generalizada", no bom sentido da palavra, que proporcionava uma liberdade editorial inimaginável se comparada aos dias de hoje. "Com a chegada de um persidente de esquerda ao poder, o jornal cresceu, e todo mundo podia fazer qualquer coisa", conta. Nesta época, diz, o jornal batia recordes de venda.

"O Libération sempre foi um lugar onde os acionistas perdem dinheiro, mas sempre tem alguém para comprar um jornal. Um dos acionistas do Libération, hoje, é proprietário de uma garagem. E hoje ele se pergunta se tranformasse tudo em uma garagem não ganharia mais dinheiro do que se ficasse com o jornal!", declara Valladão.
 

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