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Fato em Foco

Além de tragédia humana, Síria vive catástrofe cultural

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A Síria está mergulhada em um conflito entre exército e opositores ao regime de Bachar al-Assad há três anos, com um saldo sangrento de mais de 130 mil pessoas, desde março de 2011. Diante dessa catástrofe humanitária, fala-se menos de uma outra tragédia, a cultural.

Mercado histórico que foi incendiado na Cidade Velha de Aleppo.
Mercado histórico que foi incendiado na Cidade Velha de Aleppo.
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Em abril, um minarete da mesquita dos Omeyyades, tesouro da cidade de Aleppo, uma das mais atingidas pelos conflitos, desmoronou. A mesquita data do século 8, reformada no século 13. Em setembro de 2012, o bazar de Aleppo, um dos mercados fechados mais antigos do mundo, foi parcialmente destruído por chamas. A citadela de Aleppo também foi danificada.

Esses são apenas alguns exemplos em somente uma cidade de um país que pode ser considerado um dos berços da civilização, como conta Michel al-Maqdissi, ex-diretor de escavações e estudos arqueológicos da direção geral de antiguidades dos museus sírios:

“O potencial arqueológico da Síria é enorme. Desde as primeiras escavações, por volta de 1860, os sítios arqueológicos não param de revelar a importância dessa região, situada entre o mundo mediterrâneo à oeste; o mundo mesopotâmio e o platô iraniano à leste; o mundo da Anatólia ao norte, com os hititas; e o mundo egípcio ao sul.”

Berço da civilização

O especialista explica que “a arqueologia na Síria é particularmente interessante porque ela cobre um extenso período cronológico, desde o paleolítico e o neolítico, ou seja, do fim do nomadismo, até a chegada de grandes soberanos e a construção de cidades, da era do bronze até a chegada de Alexandre, o Grande, em 331 a.C, seguido pela forte influência da cultura helênica, da chegada dos árabes, que constituíram um verdadeiro império universal.” Segundo al-Maqdissi, “todas essas histórias têm vestígios na Síria, oferecendo informações-chave não só a respeito do país, mas também sobre toda a região a leste do Mediterrâneo.”

A Síria tem seis sítios inscritos na lista de patrimônio mundial da Unesco. Todos foram danificados. O jornal britânico The Guardian publicou uma reportagem com fotos de vários locais históricos antes e depois do início dos conflitos. As imagens são devastadoras. Outra grande ameaça para o tesouro histórico sírio são as pilhagens, que já existiam antes da guerra. Os bombardeamentos não poupam prédios históricos e museus. A ausência de uma autoridade arqueológica regulamentadora favorece a ação da máfia internacional de antiguidade.

Ajuda teórica

Há quase um ano, a Unesco (Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura) lançou um apelo para as partes envolvidas nos conflitos fizessem o possível para “assegurar a proteção do patrimônio cultural excepcional” do país. Em junho, a Unesco colocou esses seis sítios do patrimônio mundial em uma lista de emergência, reforçando o apelo ao governo e aos rebeldes para que poupassem o tesouro histórico sírio.

Michel al-Maqdissi não esconde sua frustração com o órgão da ONU:

“A Unesco sempre chega atrasada. A Unesco vai lançar apelos, fazer declarações, mas não vai fazer nada de prático, nada de verdade. Ela vai agir no final dos conflitos, e já vai ser tarde demais. A Unesco vai enviar seus especialistas, como faz sempre, em todos os lugares, como foi no Afeganistão, no Mali, no Iraque. Os especialistas vão elaborar relatórios e mais relatórios, vão dar conselhos, mas são conselhos vazios, que não servem pra nada.”
 

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