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Quando a política faz sombra às Olimpíadas: historiador analisa Jogos de Sochi

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Os Jogos Olímpicos de Inverno em Sochi, na Rússia, começam sob uma série de críticas internacionais, a começar pela chamada lei “anti-gay” promulgada pelo país no ano passado. Também acusações de corrupção na organização do evento, desrespeito ao meio ambiente e até exploração de mão de obra mancham as Olimpíadas.

Grupos denunciam "lei anti-gay" na Rússia. Na foto, manifestação de ativistas Human Rights Watch em Londres, na quarta-feira.
Grupos denunciam "lei anti-gay" na Rússia. Na foto, manifestação de ativistas Human Rights Watch em Londres, na quarta-feira. REUTERS/Paul Hackett
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Todas essas questões se tornaram pretexto para lideranças ocidentais alfinetarem o governo russo, além de recusarem o convite para a cerimônia de abertura dos Jogos, nesta sexta. Ontem, em Sochi, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, incitou o mundo a se levantar contra os ataques aos homossexuais.

Ban se referia à polêmica legislação que proíbe a “propaganda homossexual” diante de menores, um texto que provoca a revolta de entidades de direitos humanos. Em reação, o presidente americano, Barack Obama, ofereceu a atletas gays a missão de portar a bandeira dos Estados Unidos na cerimônia, realizada na cidade à beira do Mar Negro.

O historiador francês Sylvain Bouchet, especialista na história dos Jogos Olímpicos, observa que, de tempos em tempos, as questões políticas fazem sombra às competições esportivas em uma Olimpíada. “Não há um grande entusiasmo, só se fala dos problemas, e é verdade que são muitos. Na França, por exemplo, quase não está se falando dos esportes, das chances de vitória, das competições”, constata. “As Olimpíadas terão sido uma tribuna para falar sobre os problemas das minorias. Foi o que aconteceu nos Jogos de Pequim, quando se falou bastante do Tibete, e hoje não se fala mais.”

História

Bouchet lembra os casos de Berlim em 1936, ameaçada de boicote pelos Estados Unidos e aliados devido à ascensão do nazismo. Em 1968, na Cidade do México, competidores negros aproveitaram a subida ao pódio para protestar contra a segregação racial nos Estados Unidos. E nos Jogos de Munique, em 1972, as competições acabaram em segundo plano após o sequestro e a morte de 11 atletas israelenses.

O historiador destaca ainda que as primeiras Olimpíadas realizadas na Rússia, em Moscou, em 1980, aconteceram sob forte rejeição internacional após a invasão do Afeganistão por tropas russas. “Na época a política também se envolveu, porque houve boicote dos países anglo-saxões e muitos outros. Os Jogos de Moscou foram ignorados, minimizados por causa da política internacional”, diz o autor de La mise en scène est de Pierre de Coubertin. “Neste aspecto, os Jogos de Sochi são vistos por Putin como uma espécie de revanche, e foi por isso que ele deu tanta a importância a eles.”

Na opinião de Sylvain Bouchet, as críticas a Sochi acabaram se amplificando devido à postura do presidente, que fez do sucesso dos Jogos um desafio pessoal. “O caso específico de Sochi é que praticamente não são mais Jogos Olímpicos, mas se tornaram os ‘jogos de Putin’. Este é o grande erro e talvez é onde o COI deveria ter interferido, alertando o Comitê Olímpico Russo”, avalia. “Os Jogos foram personificados, são do Putin, e a partir deste momento se tornam extremamente políticos.”

Brasileiros preferem se manter concentrados

Enquanto isso, na Vila Olímpica, os atletas brasileiros tentam se manter alheios às polêmicas. Isabel Clark vai competir no snowboard e não percebeu qualquer mobilização contra a “lei anti-gay” russa, pelo menos por enquanto. “Aqui na Vila Olímpica, até agora eu não vi nada em relação a isso. Os atletas estão muito focados na competição e acho que ninguém vai querer entrar em histórias políticas”, conta. “O investimento que eles tiveram aqui é impressionante. É tudo muito novo. Eles praticamente inventaram um lugar, onde não havia praticamente nada.”

A patinadora artística Isadora Williams é a primeira a competir nesta modalidade pelo Brasil em uma Olimpíada de Inverno. Ela critica a repressão aos homossexuais, mas espera que os Jogos não sejam prejudicados pela política.

“Eu espero de verdade que as questões políticas não interfiram nos Jogos, porque as Olimpíadas são para o mundo inteiro competir, e estar em paz uns com os outros. E eu espero que poderemos aceitar uns aos outros, que estaremos juntos para as competições, e que não haverá nada mais nos distraindo”, afirmou a brasileira.

Os Jogos de Sochi se encerram no dia 23 de fevereiro.

 

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