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Fato em Foco

Caso extraconjugal de Hollande revela mudanças na sociedade francesa

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Com um índice de impopularidade recorde de 72%, tudo que o presidente francês não precisava era de um escândalo. A França não costuma se interessar à vida privada dos políticos, mas desde a revelação de que François Hollande mantém uma relação com a atriz Julie Gayet, na quinta-feira, o assunto não saiu mais das manchetes no país. Segurança presidencial, negligência com os compromissos oficiais e até a extinção das funções da primeira-dama foram evocados, uma série de críticas que impactam na imagem de “presidente normal” que o socialista prometia dar à função.

A atriz Julie Gayet teria um caso com o presidente francês, François Hollande, há vários meses.
A atriz Julie Gayet teria um caso com o presidente francês, François Hollande, há vários meses. Reuters
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O episódio acontece justo com Hollande, que na época em que comandava o Partido Socialista tanto criticou o lado pop star de seu antecessor, Nicolas Sarkozy. Ontem, diante de mais de 500 jornalistas, o presidente se recusou a responder perguntas sobre a sua vida privada. Ele direcionou a entrevista coletiva anual que concede no Palácio do Eliseu para importantes medidas políticas, econômicas e sociais que tinha a anunciar.

Na opinião do cientista político Stéphane Monclaire, da Universidade Paris 1, esta foi uma estratégia acertada. “É uma maneira de não desviar a atenção dos jornalistas do tema da entrevista. Coisas superimportantes foram ditas, como a promessa de reduzir, de 2015 a 2017, as despesas do Estado em 50 bilhões de euros”, destaca. “Podemos dizer que, desde sexta-feira, era ainda mais necessário para Hollande bater na mesa e dizer ‘olhem todas as reformas importantes que a gente está organizando’.”

Chefe de Estado x cidadão

Monclaire observa que, ao se recusar a comentar a sua vida privada, Hollande reforça a sua autoridade enquanto chefe de Estado, que comanda o país diante de desafios mais importantes do que as escapadas amorosas. “Hollande decidiu ficar presidente do início ao fim do discurso. A pessoa que falava era o presidente da República, o chefe de Estado, e não um homem que tem uma vida privada”, constata.

Já Eddy Fougier, cientista político do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas, acha que a falta de explicações sobre o caso não ajudará em nada à popularidade do presidente. Para ele, a percepção segundo a qual os franceses não se interessam pela vida privada dos políticos é ultrapassada.

“A idéia que tínhamos antes, da separação estrita entre a vida privada e a pública, é algo do passado. A instrumentalização e a divulgação de certos pontos da vida privada dos políticos mostram que nós passamos para um outro mundo: o das redes sociais, da instantaneidade”, afirma. “Há também uma espécie de obsessão pela transparência. Os políticos se comprometem a ser transparentes sobre a sua personalidade, as suas atitudes, portanto isso vale também para a vida privada. Eles mesmos instrumentalizam tudo, ao fazerem esporte, um regime, ao mostrarem boa forma, etc.”

Notoriedade por vias tortas

Eddy Fougier destaca que a França hoje se encontra no meio caminho entre um país como a Alemanha, que mantém o desinteresse pela esfera privada, e o Reino Unido, onde os escândalos amorosos podem acabar com a carreira de um político. No plano internacional, o pesquisador acha que essa exposição de Hollande tem o seu lado positivo.

“Tem um paradoxo que é o fato de que François Hollande sofria um déficit de notoriedade na escala mundial. E eu acho que agora este déficit está diminuindo. É irônico”, diz. “Neste momento, há uma ampla cobertura, bastante incomum sobre a França e ainda mais sobre Hollande, na imprensa inglesa e americana. Em termos de notoriedade, é nada mau, ainda que o tema desta cobertura não seja necessariamente positivo para ele.”

Nas próximas semanas, o presidente francês realiza importantes viagens internacionais, aos Estados Unidos e ao Vaticano. Ainda é uma incógnita se a primeira-dama vai estar ao seu lado nestes compromissos.
 

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