Eleitores devem aprovar Constituição do Egito sem conhecer o texto
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Ouvir - 04:08
Cerca de 53 milhões de egípcios, 52 milhões no país e um milhão no exterior, foram chamados às urnas nesta terça e quarta-feira (14 e 15) para votar no referendo sobre a nova Constituição do país, reescrita por um grupo nomeado pelos militares após a queda do ex-presidente islamita Mohamed Mursi, em julho do ano passado. A votação, no entanto, é vista também como um referendo ao chefe das Forças Armadas e o resultado poderá dar impulso à sua eventual candidaturaà presidência do Egito.
O referendo parece ter uma única opção. Há várias semanas, as ruas do Cairo foram tomadas por diversos cartazes estimulando a população a comparecer às urnas e aprovar a Constituição. A maioria dos partidos aderiu ao discurso do governo e apoia o voto no “sim”. Na televisão, também só há espaço para campanha a favor do texto, já que a maioria dos canais privados apoia o atual governo.
Hugo Bachega, o correspondente da RFI no Cairo, explica que a campanha pelo “não” é praticamente inexistente, mas não pela falta de opositores. Grupos que pregam o “não” alegam ter sofrido repressão de autoridades. Sete integrantes de um partido foram detidos pela polícia por estarem portando cartazes contrários à nova Carta.
Hugo também informa que a Irmandade Muçulmana, do ex-presidente Mursi, e vários outros grupos, anunciaram que irão boicotar o pleito e pediram para que seus partidários façam o mesmo. Mas é incerto qual será o efeito desta posição, já que centenas de lideranças e partidários islâmicos foram detidos nos últimos meses em meio a uma forte ofensiva do governo contra a Irmandade.
Bachega também observa que a votação tem sido vista como um referendo ao general Sisi e pode incentivar uma eventual candidatura dele à presidência. Sisi e o Exército são imensamente populares entre os egípcios. Cartazes com o rosto do general estão por toda a parte no Cairo e é fácil encontrar demonstrações de apoio nas ruas. O jornalista conversou com vários eleitores nos últimos dias e eles eram praticamente unânimes no voto a favor da nova Constituição.
Hugo revela um dado sintomático da situação: uma pesquisa divulgada na semana passada apontou que os egípcios deverão aprovar a nova Constituição mesmo sem conhecer o seu conteúdo, já que 59% disseram não ter lido nenhum trecho. Outros 36% relataram terem lido apenas partes do texto.
O referendo é mais um passo no mapa do caminho traçado pelos militares que depuseram Mursi, que prevê a realização de eleições parlamentares e presidenciais ainda neste semestre. As datas e a ordem de votação ainda não foram divulgadas.
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