Gesto de humorista que lembra saudação nazista gera polêmica na França
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Ouvir - 06:21
A França começa o ano com uma nova polêmica envolvendo o humorista Dieudonné, conhecido no país pela sua ligação com a extrema-direita, e condenado várias vezes por injúria e incitação ao ódio racial por suas declarações antissemitas.
Dieudonné criou um gesto chamado em francês de "quenelle", interpretado como uma saudação nazista, invertida. Popular entre seus fãs, que negam a conotação política, ele é visto como uma "crítica ao sistema."
No dia 28 de dezembro, durante um jogo entre West Ham et West Bromwich, o jogador Anelka reproduziu a saudação para comemorar um gol, relançando a discussão sobre os limites do humor.
A atitude de Anelka gerou protestos, e uma rápida reação do governo francês. O ministro do Interior, Manuel Valls, chegou a dizer que pretende proibir suas apresentações a partir deste ano. Segundo o ministro, Dieudonné é um "deliquente recividivista, e não um humorista controverso."
Para o presidente François Hollande, que apoia a iniciativa de Valls, o governo deve ser "intransigente diante do racismo, antissemitismo e discriminação de uma maneira geral."
Advogado de Dieudonné acusa governo de censura
Em entrevista à RFI, o advogado de Dieudionné, Jacques Verdier, criticou a declaração de Valls, que segundo ele, é um ato de censura.
"Não cabe ao ministro do Interior tomar uma decisão para proibir os espetáculos de Dieudonné. Isso é um ato de censura deliberado e caracterizado, e é o que o ministro do Interior Manuel Valls está querendo fazer."
O advogado lembra que as tentativas de proibição de seus espetáculos em várias cidades falharam.
Para Alain Jakubowicz, presidente da Liga Internacional contra o Racismo e o Antissemitismo, "seus delitos se reiteram, e são cada vez mais violentos."
Crítica ao sistema esconde atos antissemitas, diz historiador
O historiador Jean Paul Gautier, especialista em temas ligados à extrema-direita, questiona o ‘’que se esconde por trás de um ato contra o sistema’’, argumento utilizado pelo próprio Dieudonné para se defender das acusações de antissemitismo.
"Como para Dieudonné o sistema está na mão dos judeus, esse é um ato que tem uma forte conotação antissemita e que gera diferentes interpretações : para alguns, é somente uma crítica contra o sistema. Mas a verdadeira interpretação é que se trata de um ato verdadeiramente político. E ele mesmo reconhece. E quando sobe no palco, ele faz política com esse gesto, que tem um forte conotação antissemita."
Segundo ele, o gesto é um símbolo que possibilita aos partidários de Dieudonné de se “reconhecerem” entre si e também de popularizarem sua marca, já que a saudação foi patenteada pelo humorista.
Para o presidente da ONG SOS Racismo, Dominique Sopo, o gesto pode ser interpretado como antissemita.
‘’Este gesto é um símbolo que une pessoas que professam o antissemitismo, e Anelka não pode dizer que ignora esse fato. Nós gostaríamos que Nicolas Anelka colocasse sua notoriedade a serviço de outros combates políticos, em vez desse tipo de manifestação chocante e escandalosa."
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