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Fato em Foco

Dia da Consciência Negra ressalta gritante desigualdade racial no Brasil

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Dia 20 de novembro é o Dia da Consciência Negra no Brasil, um dia de reflexão sobre a evolução das questões de igualdade racial no país e de poucas comemorações, já que a inserção da população afrodescendente na sociedade brasileira acontece lentamente e enfrenta ainda muita resistência. "Consequência de um longo período escravocrata, que não acabou com a abolição, mas se manteve na hierarquização da sociedade", como definiu há alguns dias a presidente brasileira Dilma Rousseff. Dilma, que faz um apelo para que o Congresso Nacional aprove o projeto de lei que reserva a negros 20% das vagas oferecidas em concursos públicos da administração federal, proposta que tramita em regime de urgência.  

Brasil comemora o Dia da Consciência Negra sob uma triste realidade de desigualdade social e preconceito.
Brasil comemora o Dia da Consciência Negra sob uma triste realidade de desigualdade social e preconceito. http://www.igualdaderacial.ba.gov.br
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Se alguns avanços são registrados na questão da igualdade racial com o regime de cotas para afrodescendentes, no mercado de trabalho brasileiro o panorama não é positivo. Na semana passada, uma pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) alertou para uma triste mas não desconhecida realidade. A população negra representa 48,2% dos trabalhadores das regiões metropolitanas brasileiras. Mas sua média do salário chega a ser mais de 36% menor do que a dos brancos.

O músico e apresentador do programa cultural Pé na Africa, Bukassa Kabengele, expressa esse sentimento de injustiça. "Nós vivemos em um país que a população negra é tão expressiva, mas onde ainda não se considera sua participação como cidadã. A situação está muito aquém do que esperamos", denuncia.

Já a conselheira Maria Aparecida Pinto, do Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra, questiona a desigualdade entre brancos e negros no mercado de trabalho. "A Constituição Brasileira estabelece que somos todos iguais perante a lei. Se você analisa quem trabalha nas grandes empresas, você vê que a maioria dos brancos está nas diretorias ou nas presidências. Quando há um negro que ascende, ele vai receber menos do que um branco", relata.

Para a professora de sociologia da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Priscila Medeiros, que é coordenadora do Grupo de Estudos sobre Raça e Ações Afirmativas, o que falta na sociedade brasileira é uma transformação cultural. Para ela, é fundamental rever a representação social do negro no Brasil. "Já não basta falar em representatividade numérica, ou simplesmente aumentar a renda, porque isso está acontecendo de forma muito lenta. A partir da educação, é preciso fomentar uma mudança cultural, ou seja, trazer um respeito efetivo à população negra, às suas origens e ancestralidade", analisa.

Falta de planos de ação contra o racismo na França

Aqui na França a inserção da população negra na sociedade também é uma árdua luta. No mês de outubro, o país viveu um grave episódio de preconceito racial, quando uma integrante do partido de extrema-direita, a Frente Nacional, comparou a ministra da Justiça, Christiane Taubira, negra de origem guianesa, a um macaco. O caso é lembrado com revolta pelo presidente do Conselho Representativo das Associações Negras na França, Louis-Georges Tin.

"Foram necessárias três semanas para que o presidente francês se manifestasse sobre este caso, e quando ele o fez, falou muito para não dizer nada. Ao invés de colocar em prática planos de ação contra o racismo, ele se contentou em tentar apaziguar a situação - o que não serve para nada. Não temos estatísticas sobre a participação dos negros no mercado de trabalho francês. Esses dados não existem e a França se recusa a apurá-los. Eu acho que a situação para os negros aqui não é melhor do que no Brasil, mas nós não temos indicadores que mostrem isso - o que nos permite de permanecer na negação", lamenta.

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