Em Paris, políticos franceses apoiam mobilização contra o fascismo no Brasil
“A situação no Brasil é muito preocupante. Nós esperamos que uma reviravolta seja possível antes que o pior aconteça, mas o que é certo é que nós estaremos ao lado dos brasileiros de Paris, da França e dos brasileiros em geral diante desta situação difícil da história do Brasil”, disse o vice-prefeito de Paris, Emmanuel Grégoire, que, assim como outros políticos franceses, esteve presente à mobilização contra o fascismo no Brasil, na tarde deste sábado (20) no 19º distrito de Paris.
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Grégoire representava a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, que está de férias na Espanha, no ato que reuniu pelo menos mil pessoas em Paris. Assim como ele, a senadora Laurence Cohen se mostrava muito preocupada com a possível eleição do candidato de extrema-direita, Jair Bolsonaro (PSL) no segundo turno das eleições presidenciais brasileiras, no próximo 28 de outubro.
“Esta ascenção de Bolsonaro e da extrema-direita no Brasil vem de longe, ela começa com o golpe contra Dilma Rousseff, seguida pela prisão de Lula, por uma acusação de corrupção que não foi provada, impedindo-o, assim, de concorrer às eleições”, acusa Cohen.
“Eu fui a Curitiba em julho para visitá-lo. Eu fui numa quinta-feira e não tive o direito de visitá-lo, como parlamentar francesa, porque me disseram que o dia de visitas era as quartas-feiras”, indigna-se a senadora, que preside o Grupo de Amizade França-Brasil no Senado francês.
Erika Campelo, copresidente da associação Autres Brésils (Outros Brasis), organizadora do evento, diz que a mobilização para a resistência ao fascismo no Brasil reúne “mais de 35 organizações, sindicatos e partidos políticos franceses”.
“Estamos hoje aqui juntos para mostrar que tem uma resistência, para mostrar que o mundo está olhando o Brasil, que o mundo não acha normal o Brasil eleger um presidente racista, misógino, homofóbico. E que os direitos humanos têm de ser respeitados. O ato é para dizer não ao ódio, não à violência e não ao fascismo”, informa Campelo.
Exilados das ditaduras
Para Fabian Cohen, secretário-geral da associação França-América Latina, fundada há 50 anos para apoiar os exilados políticos das ditaduras do Cone Sul, notadamente do Chile, Brasil Uruguai e Argentina, a situação no Brasil é "grave”.
“Não é possível que isso recomece”, suspira o secretário-geral. “Precisamos dizer, com firmeza, que não vamos esperar parados que o pior aconteça. Temos de nos mobilizar. Precisamos nos opor a esta neutralidade, a este pensamento de que as coisas não são tão graves assim”, acrescenta.
A advogada franco-brasileira Ana Paula Marinho, que está na França há 30 anos, se lembrou que esteve presente em um manifesto contra o ex-presidente Fernando Collor de Mello, em Paris, quando ela tinha apenas 13 anos, em 1992. Hoje ela foi se manifestar contra a candidatura de Jair Bolsonaro e disse estar assustada com as coisas que Bolsonaro fala.
“O que Bolsonaro diz é crime aqui na França”
“É inacreditável estar vivendo isso agora. A dor é muito grande, porque as trocas que estou tendo com brasileiros, inclusive com juristas, mostra uma profunda deformação e desinformação. Eles atacam o programa de Haddad chamando-o de comunista, sendo que boa parte do que ele propõe já existe aqui em Paris e funciona muito bem”, disse a advogada.
Segundo ela, os bolsonaristas estão fazendo uma “comunicação do terror, assustando as pessoas com o mote de que o Brasil vai se tornar uma Venezuela. Há muita má-fé entre os brasileiros que disseminam estas e outras inverdades pela internet”, analisa.
Sobre o discurso de Bolsonaro, ela é taxativa: “O que Bolsonaro diz é crime aqui na França”.
“Aqui na França isso é um delito, ele não poderia nem ser candidato”, disse a advogada, sobre as falas racistas, misóginas, homofóbicas e de apologia à tortura e à ditadura do candidato de extrema-direita.
“Os juristas e cientistas políticos aqui não param de perguntar como ele não é condenado por este tipo de discurso. Espanta que numa democracia este discurso explícito não seja penalizado e ainda permita que uma pessoa seja eleita”, conclui.
A mobilização em Paris foi organizada pelas associações Autres Brésils, França América Latina, Amigos do Movimento Sem Terra, Mulheres Unidas contra Bolsonaro e a Liga dos Direitos Humanos com o objetivo de “bloquear o fascismo”, “pelo necessário levante internacional para além das eleições” e “pelo apoio à construção de uma frente pela democracia” no Brasil.
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