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França/ Arte

Censura de peça com crianças irrita ministra da Cultura da França

A censura da cena final de uma peça do dramaturgo italiano Romeo Castellucci colocou a polícia e o Ministério da Cultura da França em confronto. Sobre o Conceito do Rosto do Filho de Deus se encerra com crianças jogando falsas granadas em um retrato de Cristo, durante 12 minutos. Mas na cidade de Mans, a cena final foi proibida pelo secretário regional de Segurança, que alegou a “preservação dos menores de idade que deveriam ter participado” do ato.

Cena final inclui nove crianças jogando falsas granadas na imagem de Cristo.
Cena final inclui nove crianças jogando falsas granadas na imagem de Cristo. Divulgação
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Em sua decisão, o secretário alegou blasfêmia. O jornal Libération afirma que a medida foi tomada depois que a secretaria recebeu diversas cartas de católicos protestando contra o espetáculo.

Em uma entrevista conjunta com Castellucci ao jornal Le Monde, a ministra da Cultura, Françoise Nyssen, alega ter sido informada sobre a censura apenas pela imprensa e não ter sido consultada previamente pela autoridade policial. “O secretário deveria ter me avisado. Aliás, a Direção Regional da Cultura sequer participou, como deveria, da comissão departamental das crianças em espetáculos, que decide sobre a presença de menores em cena”, explicou a ministra. “Uma investigação está em curso para determinar o que aconteceu. Foi um atentado à liberdade de criação e difusão, inscrita na lei”, protestou Nyssen.

No roteiro, nove crianças participam da peça, que foi encenada nos dias 10 e 11 de abril na cidade francesa. O texto do secretário de segurança argumenta que “a ação de jogar bombas pode ser traumática para as crianças”.

Cena amputada

No lugar do encerramento previsto no roteiro, o diretor decidiu simplesmente cortar o final. “Atuar com uma cena amputada é uma forma de denúncia. A decisão da secretaria foi amparada em considerações ambíguas de ordem moral. Há fortes grupos de pressão por trás dela”, justificou Castellucci, na mesma entrevista ao Monde.

O diretor italiano não teve problemas para exibir a obra no mundo inteiro – em praticamente toda a Europa, na Rússia, nos Estados Unidos e na América do Sul. Ele garante que, em nenhum outro lugar, teve de retirar os menores da cena final. “Vejo que, na Europa, o clima está mudando com a ascensão dos populismos e extremismos. Eles atacam uma ideia de cultura que nos engloba a todos. É um momento muito delicado”, comentou Castellucci, ao jornal francês. “É por isso que estou protestando”, complementou a ministra.

Polêmica desde o princípio

O caso provocou a ira de atores, jornalistas e internautas nas redes sociais. A peça foi lançada no tradicional Festival de Avignon de 2011, quando causou polêmica. Associações católicas denunciaram a cena final e pediram a proibição do espetáculo, sem sucesso.

O diretor italiano é conhecido pelas obras filosóficas, com estética por vezes violenta e provocadora. No ano passado, ele apresentou Joana D’Arc nua e abandonada durante uma hora e meia de espetáculo, em Joana na fogueira.

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