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Síria/França

França destrói centro de treinamento jihadista no primeiro bombardeio contra o EI na Síria

Duas semanas depois de iniciar voos de reconhecimento do território sírio, a França executou os primeiros bombardeios contra posições do grupo terrorista Estado Islâmico (EI), também conhecido como Daech, na Síria. Segundo o jornal Le Monde, os ataques aéreos começaram na quinta-feira (24). A presidência francesa afirma que a operação aconteceu na manhã deste domingo (27).

Aviões de caça Rafale em operação no Oriente Médio.
Aviões de caça Rafale em operação no Oriente Médio. REUTERS/ECPAD/Armee de l'Air/J. Brunet/Handout via Reuters
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O presidente François Hollande, atualmente em Nova York, confirmou os bombardeios, esclarecendo que o ataque visou um centro de treinamento de combatentes na localidade de Deir Ezzor, reduto do EI na Síria, onde jihadistas eram treinados para cometer atentados contra os interesses franceses. O primeiro-ministro Manuel Valls disse que a França agiu em "legítima defesa".

Hollande explicou que seis aviões franceses foram utilizados na operação, incluindo cinco caças Rafale. O centro de treinamento dos jihadistas foi totalmente destruído. Civis não foram atingidos, segundo Hollande.

Para afirmar uma certa independência dos Estados Unidos, o presidente francês destacou que o alvo escolhido demonstra a intenção da França de "lutar contra a ameaça terrorista do Daech". Hollande reconheceu que recebeu informações da coalizão para identificar o alvo. "A França agiu por princípio, para se proteger", enfatizou.

Mudança de posição

Até agora, Paris se negava a intervir militarmente na Síria, temendo que suas ações servissem aos interesses do presidente sírio, Bashar al-Assad, considerado pela França como o principal responsável pela guerra em seu país.

Os franceses iniciaram os voos de reconhecimento sobre a Síria no dia 8 de setembro. Há um ano, Paris lidera uma campanha de bombardeios no Iraque (operação Chamal, com cerca de 215 ataques e 344 alvos destruídos), e expandiu suas operações para a vizinha Síria.

De acordo com Paris, que descartou qualquer intervenção terrestre, os ataques têm como principal objetivo a prevenção de atos terroristas na Europa, visando, de forma orientada, centros de comando, de treinamento e logística do grupo jihadista. A campanha aérea também ocorre em meio à grave crise dos refugiados sírios na Europa. Alguns líderes políticos defendem que os bombardeios contra o EI poderiam ajudar a frear o fluxo de refugiados para o continente.

Desde 22 de setembro do ano passado, a coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos bombardeou quase 7.000 vezes (4.444 ataques no Iraque e 2.558 na Síria), de acordo com dados do comando americano. Quase 80% desses ataques foram realizados por aviões americanos.

Magros resultados

Apesar do intenso bombardeio, a campanha aérea da coalizão não atingiu até agora os resultados esperados. No Iraque, nenhuma grande cidade foi recuperada pelas forças pró-governo. Na Síria, apesar de o EI ter sido contido pelos curdos ao longo da fronteira com a Turquia, os jihadistas tomaram Palmira em maio e fizeram recentemente progressos na região de Aleppo, ameaçando rotas de abastecimento para a Turquia de outros grupos rebeldes.

Além disso, um plano dos Estados Unidos de apoiar e treinar dezenas de rebeldes está prestes a se transformar em um fiasco. O Pentágono admitiu que o último grupo treinado por oficiais americanos para entrar na Síria entregou um quarto de sua equipe, bem como armas e munição, para o braço local da Al-Qaeda.

Desafio diplomático

No plano diplomático, depois de mais de quatro anos de um conflito que deixou cerca de 240.000 mortos, o impasse permanece. O campo ocidental adia uma intervenção terrestre contra o EI. Turcos, sauditas e o Catar apoiam os grupos rebeldes sunitas que enfrentam o regime de Assad, mas com resultados pífios. Assad, confrontado a uma ameaça de perda total da Síria para os ultrarradicais islâmicos, conta cada vez mais com o apoio do Irã e da Rússia para lutar contra os jihadistas.

Moscou tem fortalecido nas últimas semanas suas capacidades militares na região de Latakia (oeste), reduto do regime. E o presidente Vladimir Putin está se preparando para anunciar amanhã, na Assembleia-Geral da ONU, um grande plano para a Síria, com a criação de uma coalizão para combater o EI, e que deverá incluir Assad, atualmente visto como um pária pela comunidade internacional em razão da terrível violência infligida a seu povo.

Para Paris, "o caos sírio deve encontrar uma resposta global", segundo indicou a presidência francesa neste domingo. Alguns analistas veem os bombardeios franceses na Síria como uma mudança na posição francesa em favor do regime de Damasco.

"Os civis devem ser protegidos contra todas as formas de violência, do Daech e de outros grupos terroristas, mas também contra os bombardeios mortais de Bashar al-Assad", insistiu Hollande.

"Mais do que nunca, é urgente estabelecer uma transição política, que reúna elementos do regime e da oposição moderada (...)", de acordo com a presidência.

Alguns especialistas são céticos sobre a eficácia dos ataques aéreos franceses. Eles veem uma dimensão política e uma maneira de voltar a entrar no jogo diplomático, na véspera da abertura da 70ª Assembleia-Geral da ONU, que começa nesta segunda-feira em Nova York.

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