Acessar o conteúdo principal

França acolhe afegãs ameaçadas por talibãs em primeiro 'corredor humanitário feminista'

A França acolheu nesta segunda-feira (4), pela primeira vez, mulheres afegãs ameaçadas pelos talibãs e exiladas no Paquistão, em um corredor humanitário “feminista”. Das cinco afegãs, incluindo uma acompanhada por três crianças, quatro desembarcaram no início da tarde no aeroporto parisiense de Charles de Gaulle, meses depois de fugirem do regime talibã, que recuperou o poder no Afeganistão em agosto de 2021.

A ativista afegã Naveen Hashim fala depois de chegar a Paris com outras quatro mulheres e três crianças após sua evacuação do Paquistão em 4 de setembro de 2023.
A ativista afegã Naveen Hashim fala depois de chegar a Paris com outras quatro mulheres e três crianças após sua evacuação do Paquistão em 4 de setembro de 2023. © Geoffroy Van Der Hasselt / AFP
Publicidade

“Ainda não acredito, sinto que estou sonhando”, declarou Hafsa (que não quis  dar o sobrenome), uma ex-professora de 28 anos, ao desembarcar. Em Cabul, os talibãs a impediram de lecionar e a ameaçaram de pena de prisão em caso de contato com seus alunos, contou emocionada e, finalmente, “segura”.

Ex-diretora de Universidade de Ciências, consultora de uma ONG ou mesmo apresentadora de televisão, as refugiadas têm em comum o fato de não terem podido se beneficiar de pontes aéreas para os países ocidentais durante a queda do poder nas mãos dos talibãs, e tiveram que fugir por conta própria.

“De acordo com as instruções dadas pelo presidente da República, uma atenção prioritária é dada a estas mulheres especialmente ameaçadas pelos talibãs porque ocupavam cargos importantes na sociedade afegã (...) ou tiveram contatos estreitos com os 'ocidentais'. Este é o caso específico das cinco mulheres que chegaram hoje", declarou Didier Leschi, diretor-geral do Escritório Francês de Imigração e Integração (Ofii), órgão tutelado pelo Ministério francês do Interior.

As mulheres afegãs serão alojadas primeiro em um centro de “trânsito” na região parisiense, registradas como requerentes de asilo, e depois encaminhadas para alojamentos de “longa duração”, enquanto o Gabinete Francês de Proteção dos Refugiados e Apátridas (Ofpra) regulamenta seus casos, continuou ele.

Asilo feminista

“Silenciosamente, a Operação Apagan (exfiltração de afegãos para a França) continua”, acrescentou Leschi, sublinhando que é provável que este tipo de operação de retirada “volte a acontecer se outras mulheres com este perfil encontrarem refúgio no Paquistão".

“Um sistema de asilo feminista é, portanto, possível”, reagiu nesta segunda-feira Solène Chalvon-Fioriti, co-líder do colectivo Welcoming Afghan Women, que há meses faz campanha por estas exfiltrações.

“Obrigada (ao) Governo por mostrar que é possível”, acrescentou a ex-ministra socialista Najat Vallaud-Belkacem, agora presidente da ONG France Terre d’Asile, que acolherá as mulheres. “Próximo passo: sair do 'conta-gotas' e criar uma verdadeira câmara humanitária para essas mulheres afegãs”, publicou ela na rede social X (antigo Twitter).

Por um lado, se estas chegadas constituem “boas notícias”, por outro, “não são fruto de uma decisão política”, e foram “obtidas após uma dura luta” de ativistas “para obter vistos”, lamentou Delphine Rouilleault, diretora-geral da France Terre d'Asile.

Refúgio no Paquistão

A associação estima em centenas o número de mulheres afegãs “escondidas” no Paquistão.

Em 2021, o presidente Emmanuel Macron prometeu que a França permaneceria “ao lado das mulheres afegãs”, durante uma operação de retirada – 15.769 pessoas entre abril de 2021 e final de julho de 2023, de acordo com as autoridades.

Dois anos mais tarde, “as mulheres, em particular as mulheres solteiras que não tinham as competências interpessoais necessárias, foram amplamente negligenciadas”, lamentou o coletivo Welcome the Afghan Women em uma coluna no Le Monde no final de abril.

Desde sua volta ao poder, o regime talibã reduziu gradualmente os direitos das mulheres afegãs, que já não podem ir à escola depois dos 12 anos, nem ter acesso a universidades, parques ou centros esportivos.

As mulheres, que devem cobrir-se completamente quando saem de casa, também já não têm o direito de trabalhar para ONGs e são excluídas da maioria dos cargos públicos.

Quando questionados se o resgate realizado nesta segunda-feira será seguido de outros mais significativos, nem o Ministério das Relações Exteriores, nem o Palácio do Eliseu quiseram comentar. E sem que o Governo tome uma posição, lamenta France Terre d'Asile, a operação não tem o valor de “compromisso da França”.

(Com informações da AFP)

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.