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Refinarias, limpeza pública, transportes: quais setores se mantêm em greve na França contra a reforma da Previdência

No aguardo do resultado da votação das moções de censura contra o governo da primeira-ministra francesa, Elisabeth Borne, vários setores continuam em greve na França nesta segunda-feira (20), entre eles, empregados de refinarias de petróleo e agentes da limpeza pública. Centrais sindicais preparam o próximo dia de mobilização nacional contra a reforma da Previdência, quinta-feira, 23 de março. 

Vários distritos de Paris continuam registrando acúmulo de lixo nas ruas nesta egunda-feira, 20 de março de 2023.
Vários distritos de Paris continuam registrando acúmulo de lixo nas ruas nesta egunda-feira, 20 de março de 2023. AP - Aurelien Morissard
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Trabalhadores das refinarias de petróleo da França impedem há vários dias a saída de combustíveis dos depósitos. No sábado (18), a maior da França, explorada pela TotalEnergies na Normandia, no noroeste, anunciou o início da paralisação de sua produção. Outras duas refinarias - uma da Petrolneros, no sudeste, e outra da TotalEnergies, no noroeste, pretendiam fazer o mesmo a partir de hoje. 

Em toda a França, 8% dos postos de combustíveis já enfrentam a falta de gasolina ou de diesel. Líderes sindicais advertem a população a encherem os tanques, um pedido que preocupa as autoridades. A região que mais sofre com a situação é Bouches-du-Rhône, cuja capital regional é Marselha, no sul, onde 50% dos postos são afetados pela paralisação das refinarias. Outros departamentos, como o Gard, Vaucluse, Var e Alpes-de-Haute-Provence, também registram escassez de combustíveis.

Francis Pousse, presidente do sindicato profissional Mobilians, que representa 5.800 postos dos cerca de 10 mil na França, afirma que o problema "não é dramático" por enquanto. Segundo ele, as reservas dos cerca de 200 depósitos petroleiros do país podem evitar uma falta gigantesca de gasolina e diesel. Além disso, ele afirma que 50% dos combustíveis consumidos no país são importados.

Já Emmanuel Lépine, secretário-geral da Federação Nacional das Indústrias Químicas, afiliada à Confederação Geral do Trabalho (CGT), afirma que a escassez de combustíveis vai piorar na França. "Nenhum produto sairá de nenhuma refinaria hoje", disse, em entrevista à Franceinfo.

Lixo nas ruas

Agentes de limpeza pública da prefeitura de Paris também prometem continuar mobilizados contra a reforma da Previdência, após duas semanas de greve. O centro de incineração de Ivry-sur-Seine, na periferia da capital francesa, continua bloqueado por grevistas. 

O projeto de lei prevê que a idade mínima para a aposentadoria desses trabalhadores passe de 57 para 59 anos - uma possibilidade inaceitável para eles. "Todos os dias eu me levanto às 4h45 da manhã para recolher entre seis e 16 toneladas de lixo. Tenho tendinite nos dois cotovelos, dor na lombar. Nossos corpos são castigados pelo trabalho", diz o lixeiro Karim Kerkoudi. 

No celular, ele guarda uma foto de seu nariz ensanguentado. "Neste dia, uma lixeira caiu do caminhão sobre o meu rosto. Dias atrás, meus olhos foram queimados por líquido inflamável que vazou de um saco de lixo", conta. Segundo seus cálculos, se a reforma for adotada, precisará trabalhar até os 67 anos para obter a aposentadoria integral. 

No final da semana passada, o secretário de Segurança Pública de Paris, Laurent Nuñez, requisitou agentes da limpeza pública para obrigá-los a sair da greve e voltar a exercer suas funções. A decisão foi tomada pelo Ministério do Interior depois que a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, pressionada por membros do governo nacional, se recusou a interferir na manifestação dos garis. 

No entanto, as polêmicas requisições de empregados têm efeito limitado e o lixo continua a se amontoar nas calçadas de vários distritos de Paris. Na garagem de Romainville, na periferia da capital, forças de ordem não conseguiram convencer os grevistas a voltar ao trabalho, mas cerca de 10 dos 80 caminhões de lixo puderam deixar o local para que a coleta de lixo pudesse ser realizadas pelos poucos funcionários que não aderiram à paralisação. 

Perturbação nos transportes 

A mobilização também continua no setor ferroviário. Nesta segunda-feira, quatro em cada cinco trens de alta velocidade (TGV) e dois terços dos regionais não estão circulando. Apenas 40% dos trens que fazem a ligação entre as cidades da periferia e Paris funcionam.

Em Rennes, no noroeste, a greve atinge linhas de ônibus. Em Metz, no nordeste, manifestantes bloquearam garagens de ônibus públicos. Militantes também bloquearam rodovias nesta manhã em diversos pontos do país, impedindo a circulação de veículos. Perturbações no tráfego foram registradas na estrada que liga a cidade de Brest, no noroeste, a Nantes, no oeste. Em Caen, no norte, o anel rodoviário foi bloqueado. Em Bordeaux, no oeste, militantes colocaram em prática uma operação no centro da cidade para desacelerar a circulação de veículos.

A Direção-Geral de Aviação Civil também convocou trabalhadores de companhias aéreas do aeroporto de Orly, na periferia de Paris, a cancelarem 30% dos voos nesta segunda-feira. A mesma recomendação foi feita aos funcionários de empresas do aeroporto de Marselha-Provença, no sul, com o pedido de cancelamento de 20% dos voos. 

O aeroporto de Tarbes-Lourdes, no sudoeste, foi ocupado por cerca de 300 manifestantes nesta manhã. No aeroporto de Pau-Pyrénées, no oeste, sindicalistas cortaram a eletricidade durante cerca de meia hora.

Greve no setor da educação

Alguns professores e fiscais realizam uma paralisação nesta segunda e terça-feira (21) contra a reforma da Previdência, momento em que são realizadas as provas do Bac - exames realizados ao fim do Ensino Médio. Até o momento, os sindicatos não divulgaram a taxa de participação no movimento.

Centenas de estudantes da universidade Paris 1 Panthéon Sorbonne votaram nesta segunda-feira a ocupação do campus de Tolbiac, no sul de Paris. "A imposição da reforma da Previdência acordou a juventude", indicou a universitária Lorelia Fréjo, de 23 anos. "Estamos revoltados e convidamos todas as universidades a se unirem a nós", reiterou.

"Em todas as universidades da França, a mobilização se organiza", garante Eléonore Schmitt, porta-voz do sindicato estudantil Alternativa. "Nos unimos a todos os trabalhadores em greve para nos juntarmos a seus piquetes."

(Com informações da AFP)

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