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Imprensa europeia lamenta morte de Gal Costa, "lenda da música brasileira"

"Uma das maiores cantoras do mundo", diz o site da televisão francesa BFMTV sobre a cantora baiana Gal Costa, que morreu nesta quarta-feira (9) de infarto em São Paulo. "Musa eterna da Tropicália", escreve Eorope 1. "Uma carreira rica e densa", diz o site France Info. 

Gal Costa em show em  New York, em 2003.
Gal Costa em show em New York, em 2003. Getty Images via AFP - SCOTT GRIES
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"Gal Costa entrou para a lenda da música popular brasileira com suas interpretações de 'Baby', 'Chuva de prata' ou 'Divino maravilhoso', e cerca de 30 discos gravados", destaca a televisão France 24

"Essa cantora de carisma excepcional e voz cristalina marcou toda uma geração", disse o jornal francês Le Figaro

"Com seus abundantes cabelos castanhos e seu sorriso arrasador, ela deu um charme especial às canções de seu amigo Caetano Veloso e também de Tom Jobim, Chico Buarque, Milton Nascimento e muitos outros compositores, ao longo de sua carreira", escreveu a agência de notícias AFP. 

"Gal foi uma revolução das vozes e dos costumes na música brasileira desde o seu aparecimento na cena nacional" nos anos 60, escreve o jornal português Público, que se refere à cantora como uma das maiores vozes da música brasileira

"A cantora, amiga íntima de Caetano Veloso ou Gilberto Gil, foi uma das lendas de seu país, e pertenceu à geração que fez sucesso nos anos 70, enquanto o Brasil sofria com a ditadura militar", descreveu o espanhol El País

O jornal francês Ouest France postou o tuíte de Gilberto Gil em homenagem a Gal Costa, em que ele a chama pelo apelido carinhoso de Gaúcha. 

"Costa foi uma musa da crescente cena da música popular brasileira no final dos anos 1960, e cantou com alguns dos maiores nomes da música brasileira, incluindo Tom Jobim, Chico Buarque, Milton Nascimento e seu amigo Caetano Veloso", escreveu o jornal britânico The Guardian

"A voz cósmica de Gal Costa se apagou", escreveu o jornal belga Le Soir

"Foi uma das mais famosas representantes da música pop brasileira e cofundadora do Tropicalismo", disse o alemão Die Zeit.

O italiano La Repubblica cravou: "Música brasileira perde uma de suas vozes mais conhecidas". La Regione, também italiano, escreveu: "'A cantora mais importante do Brasil': foi assim que a lenda da Bossa Nova João Gilberto definiu Gal Costa".

Os jornais suíços NZZ, em alemão, e 20 minutes, em francês, também destacaram a morte da cantora brasileira, que tem fãs em toda a Europa. 

"Gal Costa deveria se apresentar na Europa nas próximas semanas", diz o francês Le Parisien, que destacou um tuíte com imagens da cantora entoando o hino nacional brasileiro, em 2010, numa partida da Seleção brasileira contra a Argentina.  

Nasceu para cantar

Nascida em Salvador em 26 de setembro de 1945 como Maria da Graça Costa Penna Burgos, Gal teve o apoio incondicional de sua mãe, Mariah Costa Penna, chamada de "Dedé", para dedicar sua vida à música, uma aspiração que foi estimulada desde o ventre materno.

Dedé pressionava a barriga contra o rádio, com a intenção de deixar Gal absorver a musicalidade das canções. "Minha filha, você vai ser uma grande cantora", dizia a ela segundo o músico e cantor baiano Tom Zé, seu vizinho de infância.

"Então, quando a menina saiu já veio com a voz, a voz foi encomendada", acrescentou Tom Zé.

Cantora intuitiva, porque nunca estudou canto, Gal atribuiu grande influência ao seu estilo ao pai da bossa nova, o baiano João Gilberto, que depois de uma audição improvisada lhe disse: "Você é a maior cantora do Brasil", segundo ela mesma contou.

Durante a adolescência em Salvador, conheceu pessoas que a marcaram para a vida: Caetano Veloso, sua irmã Maria Bethânia e Gilberto Gil, artistas baianos que seguiu no Rio de Janeiro nos anos 1960.

"A Gal veio da Bahia, como eu, para tentar ser cantora profissional. Ela nunca quis fazer outra coisa", diz Caetano Veloso em seu livro "Verdade Tropical". Foi em dueto com ele que Gal Costa lançou seu primeiro disco, "Domingo", em 1967.

Musa do desbunde e da contracultura

No ano seguinte, participou do álbum coletivo que revolucionaria a música brasileira: "Tropicália ou Panis et Circensis", ponto de partida do tropicalismo, que defende a abertura cultural e a universalidade da música.

Com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé e o grupo Os Mutantes, ela cantou em vários títulos desse disco icônico da contracultura que mistura samba, bossa nova, jazz e rock psicodélico.

Em 1969, Caetano Veloso e Gilberto Gil tiveram que se exilar em Londres após serem presos pelo regime militar.

Gal Costa garantiu que nunca foi interrogada durante a ditadura (1964-1985), mesmo que a capa de seu disco "Índia" (1973), que a mostra de topless, tenha sido censurada.

Pelo timbre da voz e pela afinação delicada, Gal se tornou a musa do tropicalismo, mas foi sua sensualidade transgressora durante a ditadura, especificamente no espetáculo "Fa-tal" (1971), que lhe rendeu o título de "musa do desbunde", chegando a ser comparada a Janis Joplin.

Com uma encenação - algumas vezes mostrando os seios - e seus trajes sensuais e coloridos ou seus cabelos estilo "black power", Gal foi construindo uma identidade artística.

Mudança de registro

"Depois do tropicalismo, Gal Costa não hesitou em mudar de registro, da interpretação de clássicos do samba carnavalesco para rock, soul, disco, sem falar nas músicas de novelas", escreve BFMTV.

Durante a pandemia de coronavírus, ela comemorou seu aniversário de 75 anos com um show transmitido ao vivo pelo Youtube.

Vencedora de um Grammy Latino em 2011, Gal Costa sempre esteve comprometida, principalmente com a causa feminista, embora tenha, em geral, se mantido discreta em suas convicções políticas.

Isso não a impediu de criticar fortemente a política cultural do presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro e de aparecer fazendo o L de Lula recentemente.

Ela conseguiu manter sua vida privada fora dos holofotes, mas surpreendeu seus fãs em 2021 ao postar uma foto de seu filho adotivo Gabriel nas redes sociais em seu aniversário de 16 anos.

(Com AFP)

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