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França: Direita e extrema direita associam violência à imigração após assassinato de menina por argelina ilegal

A morte trágica de uma menina de 12 anos em Paris suscitou um debate sobre a política de imigração francesa após a polícia indiciar, como principal suspeita do assassinato, uma cidadã argelina que vivia ilegalmente na França. Representantes da direita e da extrema direita denunciam a “frouxidão” do governo diante dos estrangeiros clandestinos e alguns associam diretamente imigração à violência.

Extrema direita associa imigração e violência ao organizar homenagens à jovem Lola, morta brutalmente na semana passada.
Extrema direita associa imigração e violência ao organizar homenagens à jovem Lola, morta brutalmente na semana passada. REUTERS - GONZALO FUENTES
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Desde que o corpo de Lola foi encontrado em uma caixa de plástico no pátio de um prédio no noroeste de Paris com sinais de tortura a abuso sexual, e que a polícia identificou Dhabia B., uma argelina de 24 anos que vivia na França em situação ilegal, como sendo a responsável pelo crime, a morte da garota se tornou um assunto político no país.

No domingo, um dia após a descoberta do corpo, o partido Reconquista, legenda criada pelo ex-candidato de extrema direita à presidência francesa Eric Zemmour, postou em sua conta no Twitter a foto da menina, acompanhada de uma mensagem frisando que “as quatro pessoas detidas suspeitas do assassinato da pequena Lola, 12 anos, encontrada com a garganta cortada e presa em um baú de plástico no 19° distrito de Paris, são todas de nacionalidade argelina”.

Jordan Bardella, presidente da Reunião Nacional, partido de Marine Le Pen, também da extrema direita, insistiu que "o ato bárbaro cometido contra Lola foi perpetrado por uma mulher argelina em situação ilegal", antes de dizer que o Estado e o governo devem assumir suas responsabilidades. Marine Le Pen também acusou o governo de ser complacente com estrangeiros que vivem no país em situação irregular. 

Há cerca de um mês, Dhabia B. havia recebido uma ordem para deixar o território francês, pois o prazo de validade dos documentos que permitiam sua permanência no país havia expirado. No entanto, esse procedimento não representa uma expulsão automática do território francês e o imigrante não é acompanhado até a fronteira, como há anos pedem muitos representantes dos partidos mais conservadores.  

“Desordem migratória pode matar”

Os partidos da direita tradicional também engrossaram o coro das críticas ao governo, associando imigração à violência. Bruno Retailleau, presidente da legenda Os Republicanos na Assembleia Nacional, afirmou que “a desordem migratória pode matar” e que “se essa argelina não estivesse no solo francês, Lola ainda estaria viva”, antes de dizer que “há uma ligação evidente entre hiper violência e imigração em massa”.

O Executivo teve de se defender no Parlamento contra acusações de "frouxidão" na política de imigração. O ministro da Justiça, Éric Dupond-Moretti, acusou os opositores de instrumentalizar o "caixão de menina".

A associação da imigração à violência também suscitou críticas dos grupos de defesa dos direitos humanos e da esquerda. "Tudo isso é uma indecência imunda", declarou o presidente do SOS racismo Dominique Sopo. Segundo ele, "o que foi feito há alguns dias é absolutamente nojento".

"É uma pena que alguns usem o drama para alimentar sua xenofobia", twittou a deputada do partido A França Insubmissa, da esquerda radical, Mathilde Panot.

Mas as acusações não parecem ter acalmado os mais conservadores, que multiplicam declarações cada vez mais extremas. Eric Zemmour afirma que Lola foi vítima de um "francocídio", expressão já utilizada pela extrema direita para classificar o assassinato do professor Samuel Paty por um jihadista em 2020. Já Bruno Retailleau prometeu apresentar um projeto de lei criando um delito de “não-assistência a franceses em perigo”.

Manifestações

Na noite desta quinta-feira (20) centenas de pessoas se reuniram em um protesto em Paris em homenagem à memória de Lola. A manifestação foi organizada pelo Instituto pela Justiça, uma associação próxima do partido de Zemmour, que participou do ato. A sobrinha de Marine Le Pen, Marion Maréchal, assim como outros políticos de extrema direita, também compareceram.

Manifestantes carregam cartazes com o rosto da vítima e mensagens como “Lola poderia ser nossa irmã mais nova”, ou ainda “políticos terão que prestar contas”.

Praticamente na mesma hora os deputados do partido Reunião Nacional faziam um minuto de silêncio na Assembleia Nacional “em homenagem à Lola”. “É um direito e um dever [da parte dos deputados] perguntar ao governo o que ele pretende fazer para que atos desse tipo não se reproduzam”, disse Marine Le Pen, que rejeita qualquer acusação de instrumentalização do caso.

Outra manifestação está prevista na sexta-feira (21) em Fouquereuil, cidade no norte da França de onde é originário o pai da vítima e para onde a família da jovem se refugiou desde o assassinato. “Os pais de Lola decidiram deixar Paris”, informou Gérard Ogiez, o prefeito do município de 1.600 moradores.  

Os familiares da menina pediram "respeito" antes do funeral de Lola, previsto para segunda-feira. 

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