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Decisão de Macron sobre lockdown pode afetar futuro político do presidente francês

Um ano após a instauração do primeiro lockdown na França, iniciado em 17 de março de 2020, o presidente Emmanuel Macron está sob forte pressão da opinião pública, da imprensa e da oposição. O país enfrenta uma terceira onda da epidemia de Covid-19 e atrasos consideráveis na campanha de vacinação. 

O presidente francês, Emmanuel Macron, já se prepara para a campanha eleitoral de 2022.
O presidente francês, Emmanuel Macron, já se prepara para a campanha eleitoral de 2022. REUTERS - POOL
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"O cerco se fecha em torno de Emmanuel Macron", diz a manchete do jornal Le Figaro nesta quarta-feira (17). A lentidão na vacinação contra a Covid-19 reaviva a perspectiva de um novo lockdown, que o chefe de Estado gostaria de evitar a qualquer preço. A progressão incontrolável da epidemia causa uma impressão de desânimo na população e de volta ao ponto de partida. Na segunda-feira (15), em visita à cidade de Montauban, próxima da fronteira com a Espanha, o presidente francês reconheceu que o "mestre do tempo agora é, infelizmente, o vírus", fazendo referência à célebre frase que costuma repetir, de que ele é o mestre do tempo. 

Para o Le Figaro, a decisão de suspender a utilização do imunizante da AstraZeneca/Oxford chegou no pior momento para o presidente francês. Mesmo que seja temporária, ela alimenta a desconfiança da população contra as vacinas, fenômeno que já é bastante forte no país, além de abalar a estratégia do governo de luta contra a Covid-19, baseada essencialmente na vacinação. O jornal conservador analisa este momento do mandato como uma espécie de "última chance" do presidente em conduzir com sucesso a gestão da epidemia, após o fiasco do aplicativo anti-Covid, desenvolvido por seu governo e rejeitado pelos franceses, e a enorme polêmica gerada pela falta de máscaras no ano passado. 

A decisão de interromper o uso do produto da AstraZeneca foi tomada na terça-feira (16), logo após a suspensão do imunizante na Alemanha, depois da notificação de efeitos colaterais em pessoas que receberam doses da vacina. 

"Mestre do tempo perdido", diz a manchete do jornal Libération, que pergunta se a aposta de Macron de não decretar um lockdown ainda é sustentável. O jornal critica a falta de ação do presidente e questiona: "Onde foi parar o mais jovem presidente da Europa, sua audácia, sua ambição, suas ideias para a França? E onde ele está indo hoje? Para onde ele está levando a França?".

De acordo com o Libération, nos últimos meses Macron tomou decisões que contrariaram a comissão de especialistas que ele mesmo nomeou para assessorar o governo. As divergências entre o presidente e o primeiro-ministro Jean Castex também vieram à luz do dia. Se dependesse do chefe de governo, Castex já teria decretado um terceiro lockdown há várias semanas. Mas Macron preferiu ir por outro caminho, pensando, segundo Libération, na campanha eleitoral de 2022.

Desde dezembro, com o aparecimento da variante inglesa, mais contagiosa, vários países europeus decretaram confinamentos preventivos. Macron optou por manter as escolas e o comércio abertos, adotando medidas pontuais nas áreas de maior contaminação e um toque de recolher nacional das 18h às 6h. A maior parte dos epidemiologistas sempre considerou essas restrições insuficientes diante do elevado patamar de contágios na média móvel, que varia de 20 mil a 30 mil novos casos por dia. Neste nível de circulação do vírus, e com uma variante mais contagiosa, o sistema hospitalar não iria suportar, alertaram os médicos há várias semanas. Macron levou em conta os problemas de saúde mental decorrentes do longo período de restrições, mas a impressão que fica é que o sacrifício das noites em casa foi em vão.

"Não existe herói sem uma prova. A Covid-19 é a dele", teria dito uma fonte próxima do presidente ao jornal Libération. 

Novo lockdown iminente?

Macron deve decidir nesta quarta-feira sobre um novo lockdown para conter a progressão da Covid-19 na região de Ile-de-France, onde fica Paris. A taxa de ocupação dos leitos de UTI supera os 100% na região parisiense, e o presidente se vê obrigado a rever sua estratégia. Uma das medidas em estudo é o confinamento de fim de semana, atualmente aplicado em Dunquerque (norte) e em Nice, no sul do país. 

O diretor da rede de hospitais públicos de Paris (AP-HP), Martin Hirsh, afirmou em entrevista na manhã de hoje que o vírus não está controlado e que a região tem mais doentes em cuidados intensivos atualmente do que na segunda onda da pandemia, em outubro passado. De acordo com a Agência Regional de Saúde, 1.164 doentes estavam internados em reanimação na terça-feira, em Paris e seu entorno. Segundo Hirsh, este número poderia chegar a 1.700 no fim de março. A França tem mais de 90 mil mortos pela Covid-19. 

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