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Falta de máscaras na França leva cada vez mais gente a produzir versões caseiras

Diante da ameaça invisível da Covid-19, elas se transformaram numa barreira física cada vez mais procurada. As máscaras de proteção, que há muito tempo entraram para o cotidiano de países asiáticos, agora viraram objeto de desejo em países como a França, onde toda a produção é voltada para suprir as necessidades das equipes médicas. Porém, diante da pandemia, cada vez mais gente tem se lançado a produzir modelos caseiros para evitar a contaminação.

Enquanto as máscaras de proteção são requisitadas para equipes médicas na França, confecções e costureiras produzem modelos de tecido para atender a população durante pandemia.
Enquanto as máscaras de proteção são requisitadas para equipes médicas na França, confecções e costureiras produzem modelos de tecido para atender a população durante pandemia. ISAAC LAWRENCE / AFP
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Apesar de o governo francês ter requisitado todo o estoque de máscaras para os profissionais de saúde desde o início da epidemia de coronavírus, ainda há falta desses equipamentos em várias unidades de saúde.

Antoine é enfermeiro no Hospital Antoine-Béclère, na região parisiense, uma das mais atingidas na França pela epidemia. Ele falou à RFI sobre a escassez de máscaras para os profissionais que atendem pacientes da Covid-19. “Faltam máscaras FFP2, não tem para toda a equipe. No meu hospital, há 30 profissionais contaminados e, sem material de proteção adequado, mesmo pacientes que eram negativo para o coronavírus, quando foram hospitalizados, agora apresentam a doença. E esses profissionais ainda podem levar o coronavírus para as suas casas”, denuncia.

Em resposta à pandemia, o governo francês decidiu aumentar a sua produção de máscaras de proteção em território nacional. Até o fim de abril, mais de 10 milhões de unidades serão fabricadas por semana na França, contra 3,3 milhões antes da epidemia. Além disso, a França encomendou mais de um bilhão de máscaras da China e os primeiros carregamentos já foram entregues.

Desconfiança e falta de informação

Contudo, o esforço das autoridades não diminui a desconfiança de muitos franceses, que ainda se dizem confusos sobre o uso ou não do equipamento de proteção. Muitos reclamam que as autoridades não foram suficientemente claras quanto ao assunto.

No início de abril, durante sua entrevista diária à imprensa, o diretor-geral de saúde da França, Jérôme Salomon, afirmou que as máscaras podiam ser grandes aliadas na luta contra o coronavírus. "Encorajamos o público em geral, se assim desejar, a usar essas máscaras alternativas que estão sendo produzidas", disse o número 2 do Ministério da Saúde. Porém, o próprio Salomon, desde o início do confinamento, em 17 de março, havia repetido aos franceses que o uso de máscaras e luvas era inútil.

“No início era meio complicado saber se deveríamos usar uma máscara ou não, as informações não eram bem claras”, disse à RFI Dominique Menguy, artesã que decidiu produzir as próprias máscaras em casa. “Além disso, eu fui submetida a uma quimioterapia esse ano, então eu não tenho ainda todos os meus anticorpos e por isso pensei que era preciso me proteger”, acrescentou. Formada em alta costura, a francesa não pensou duas vezes antes de sentar-se à máquina. “Eu confeccionei máscaras primeiro para a minha filha e para mim, mas pensei nos meus amigos também. É muito rápido e fácil, é uma forma de solidariedade, de ajudar”, explica Dominique no vídeo abaixo.

De acordo com uma pesquisa do instituto de opinião Odoxa, 76% dos franceses acreditam que o governo não foi claro sobre o uso de máscaras protetoras. No estudo feito com mais de 1.000 pessoas e divulgado em 9 de abril, três em cada quatro entrevistados disseram que o governo teria mentido para dissuadi-los de usar máscaras de proteção por causa da escassez do produto.

Diante da situação, costureiros profissionais e equipes de teatro passaram a fazer máscaras em seus ateliês. São muitos os relatos de empresários que mudaram os rumos de suas fábricas para atender a necessidade da produção de máscaras no país.

É o caso da empresa Le Drap Français, localizada em Les Voges, na região da Lorena. "Em tempos de crise, podemos responder muito rapidamente", disse Eddy Chevrier, diretor da Drap Français em entrevista ao jornal Le Parisien. Envolvido na linha de frente dessa guerra contra o coronavírus, ele explica que o inimigo afetou diretamente sua família. O empresário perdeu a sogra, de 78 anos, residente no asilo de Cornimont, um estabelecimento que registrou cerca de 20 mortes desde o início da epidemia de Covid-19 na França. "Eu comecei a iniciativa antes da morte dela porque sabia que poderíamos ajudar com nossa experiência", diz ele.

Faça você mesmo

Em tempos de pandemia de coronavírus, a RFI ensina você a reutilizar camisetas e meias para confeccionar sua própria máscara de proteção. A brasileira Márcia de Carvalho, residente em Paris, explica o passo a passo em dois vídeos. Para isso, basta que você recorte um modelo e use a sua criatividade.

Diretora da associação Chaussettes Orphelines (Meias órfãs), Márcia de Carvalho trabalha com a produção de roupas e acessórios em coleções provenientes da reciclagem.

Companhia de trens propõe exigir uso de máscaras para retomar atividades

Desde o início do confinamento na França, a companhia ferroviária do país (SNCF) opera cerca de 3.000 trens por dia, contra 15.000 antes das medidas de restrição. O tráfego diário de passageiros diminuiu para 100.000, bem menos do que os 3,5 milhões em tempos normais.

A empresa informa que pretende retomar a circulação dos trens gradualmente, a partir de 11 de maio, data prevista para começar o fim do confinamento. Contudo, essa retomada do tráfego terá de ser acompanhada de novas precauções sanitárias, como uma limpeza mais eficiente dos vagões e o uso obrigatório de máscaras para todos os viajantes.

A medida foi defendida pelo presidente da companhia, Jean-Pierre Farandou, em audiência no Senado francês, na quarta-feira (15). De acordo com o executivo, isso permitiria evitar a aplicação estrita de regras de distanciamento entre os passageiros e que ele considera “muito complicadas de manter" dentro dos vagões.

A iniciativa também envolve um fator comercial. Caso os viajantes precisem manter a distância indicada, ou seja, ocupando um assento e deixando dois vazios, a empresa estaria abaixo do ponto de lucratividade, que é de 60% de ocupação em um trem. "A dimensão econômica deve começar a entrar em jogo" nos próximos meses, disse Farandou aos parlamentares.

"É realmente necessário que o uso da máscara seja obrigatório para o transporte público", insistiu. Questionado sobre a possibilidade de a SNCF distribuir máscaras aos passageiros, ele disse se opor a essa opção. "A SNCF não pode assumir a distribuição de máscaras para toda a população francesa", respondeu.

Alemanha anuncia produção de máscaras

A Alemanha, país que começa a sair do confinamento e anunciou ter controlado a epidemia de coronavírus, também vai investir na produção de máscaras de proteção como estratégia para evitar a retomada da Covid-19.

Enquanto na Áustria o uso é obrigatório em lojas e transportes públicos, na vizinha Alemanha as autoridades recomendam fortemente que os cidadãos portem esse tipo de proteção.

De acordo com o ministro da saúde alemão, Jens Spahn, empresas alemãs produzirão 50 milhões de máscaras por semana a partir de agosto, incluindo 10 milhões do tipo FFP2, que apresentam uma proteção maior contra o coronavírus. "Assinamos contratos com 50 empresas que desejam produzir 10 milhões de máscaras FFP2 e 40 milhões de máscaras cirúrgicas a partir de agosto", declarou.

Um experimento com o uso obrigatório de máscaras na cidade de Iena (Turíngia) tende a demonstrar a sua eficácia. Nenhum novo caso foi registrado na localidade por uma semana, segundo a imprensa alemã.

 

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