Acessar o conteúdo principal

Prigozhin perdeu o controle, mas máquina de desinformação na Rússia continua ativa

Dez dias após a revolta abortada do grupo Wagner, o império construído por Yevgeny Prigozhin continua a desmoronar. A máquina de influência criada pelo magnata nas redes sociais está desaparecendo – ou saindo do controle.

O chefe do grupo paramilitar Wagner, Yevgeny Prigozhin, em Moscou no dia 8 de abril de 2023.
O chefe do grupo paramilitar Wagner, Yevgeny Prigozhin, em Moscou no dia 8 de abril de 2023. AP
Publicidade

Com informações de François-Damien Bourgery e Anastasia Becchio, da RFI

À primeira vista, nada mudou. Apesar de Yevgeny Prigozhin ter sido banido para o exílio em Belarus, sua fábrica de trolls, a Internet Research Agency (IRA), continua a funcionar a todo vapor. "Nos últimos dias, não vimos nenhum sinal de queda significativa na atividade de seus perfis falsos", relata o analista russo Antibot4navalny, que monitora a atividades dessas contas no Twitter e que prefere permanecer anônimo.

Ainda que Prigozhin tenha se rebelado contra o governo russo, não há nenhum sinal de uma possível batalha campal entre contas favoráveis ao presidente Vladimir Putin e outras leais ao fundador do grupo Wagner. Esses trolls continuam a operar em conjunto com o mesmo objetivo: defender os interesses do Kremlin.

Essa lealdade ao governo tem levado muitos desses usuários a se voltarem contra seu criador.

De acordo com a agência investigativa Agentsvo, as primeiras críticas a Yevgeny Prigozhin apareceram nas redes sociais já em maio, no momento em que ele criticava o Ministério da Defesa da Rússia.

"A partir de meados de maio, muitas dessas contas publicavaram uma série de comentários favoráveis a Prigozhin, ao mesmo tempo que o criticavam em outros posts", disse Antibot4navalny à RFI.

Mudança dos rumos

Mas em junho, quando o fundador de Wagner anunciou sua intenção de lançar seus homens contra Moscou, as reações dessa vez foram quase unânimes. "Durante o motim, eles se voltaram completamente contra ele", diz Darren Linville, pesquisador da Universidade de Clemson, na Carolina do Sul. "Aqueles que estavam ativos tornaram-se ainda mais ativos e publicavam comentários furiosos."

Até o momento, apenas cerca de 1.400 contas no VKontakte, o Facebook da Rússia, continuam a apoiar Prigozhin regularmente, em comparação com 15.000 em maio.

Após o desmantelamento da milícia Wagner, cujos combatentes devem se juntar ao exército regular ou se exilar em Belarus, e o fechamento de vários de seus meios de comunicação, Yevgeny Prigozhin agora parece estar perdendo o controle de sua fábrica de trolls.

Para Antibot4navalny, a mudança de atitude desses trolls pode ser explicada por um "alinhamento" com a retórica desenvolvida pela mídia russa. "Os trolls são uma extensão da máquina de propaganda do Kremlin. Se toda a mídia descreve Prigozhin como um traidor, os trolls fazem o mesmo", explica ele.

E se houvesse uma mudança de proprietário, o especialista em desinformação russa no Twitter tem certeza que a equipe não seria desmontada, mas simplesmente transferida para outra entidade próxima ao Kremlin. "Tenho certeza de que ninguém vai desfazer a equipe e criar uma nova a partir do zero", afirma ele.

Uma ferramenta valiosa

Criado em 2013 em São Petersburgo, a agência IRA é uma ferramenta valiosa para o regime de Vladimir Putin. Na Rússia, seus trolls espalham e amplificam histórias pró-governo, desacreditam o discurso dos oponentes, da mídia independente, das ONGs e dos países europeus, e mergulham as redes sociais em uma névoa de publicações contraditórias, em casos embaraçosos para o Kremlin -- como o envenenamento do ex-espião Sergei Skripal ou o de Alexei Navalny

Esta máquina também realiza campanhas de desestabilização do poder em outros países. Por exemplo, o IRA foi acusada de tentar influenciar a eleição presidencial dos EUA de 2016, favorecendo Donald Trump, e depois, a eleição de 2020.

Em março de 2022, a invasão de milhares de documentos internos do grupo Wagner revelou que o IRA também estava realizando atividades de desestabilização em uma dúzia de países africanos. "O grupo de Prigozhin tem experiência e know-how que não são fáceis de transmitir e são estratégicos demais para desaparecer", disse ao jornal Le Monde o pesquisador Colin Gérard, autor de um estudo sobre as atividades de influência do bilionário russo. "É também parte intrínseca da proposta da milícia Wagner aos estados africanos, que vai de mercenários a campanhas contra adversários ou outros atores, como a França."

O codinome dessa poderosa empresa de influência é "projeto Lakhta", em homenagem ao distrito de São Petersburgo onde o bilionário russo tinha seus escritórios.

Em 2019, ela deu a si mesma uma fachada mais respeitável com a criação do Patriot, um grupo formado por 11 veículos de mídia financiados por Yevgeny Prigozhin e uma rede de mais de 150 parceiros de mídia.  Nos jornais russos, um nome sempre volta a aparecer quando se fala sobre a aquisição da fábrica de trolls e do império de mídia do oligarca rebelde: o de Yuri Kovalchuk, amigo íntimo de longa data de Vladimir Putin.

Seja qual for o caso, a Internet Research Agency ainda tem um futuro prometedor pela frente. "O verdadeiro chefe sempre foi Putin. Prigozhin era apenas uma engrenagem na máquina. Remova essa engrenagem e a máquina ainda funcionará", resume o pesquisador americano Darren Linville.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.