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Entenda o que muda no mercado de carbono da UE com a aprovação do plano climático europeu

O Parlamento Europeu aprovou, na terça-feira (18), o ambicioso plano climático da União Europeia. O acordo sobre as novas regras foi alcançado pelos estados-membros no final de 2022 e uma ampla reforma do mercado de carbono e um mecanismo que amplia o preço das emissões aos produtos importados, além de um Fundo Social para o Clima.

Uma mão com a palavra "pagar", durante a COP27, em Sharm el Sheik, no Egito, em 18 de novembro de 2023.
Uma mão com a palavra "pagar", durante a COP27, em Sharm el Sheik, no Egito, em 18 de novembro de 2023. © AP Photo/Peter Dejong
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As novas medidas fazem parte do pacote legislativo "Fit for 55", ou "Pacto Verde Europeu", o ambicioso plano da UE para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) em pelo menos 55% até 2030 em comparação com os níveis de 1990.

O plano é considerado inovador e ambicioso, mas o que inclui exatamente este pacote de medidas? 

Mudanças no mercado de cotas de carbono

O ponto central do plano é a reforma do mercado de carbono, que tem como objetivo limitar as emissões de GEE através da imposição à indústria de cotas de emissões. Cada participante deve, ao final de cada ano, restituir o número de cotas de CO2 que emitiu na atmosfera. Cada cota do mercado representa o direito de emitir 1 tonelada de CO2. 

Desde 2005, fazem parte do European Emissions Trading System (EU ETS) 11.000 instalações industriais europeias que totalizam sozinhas quase 50% das emissões de dióxido de carbono da UE, representado, em 2016, 1,7 bilhão de toneladas, de acordo com o ministério francês da Transição Ecológica. 

Estão presentes no mercado as indústrias mais poluídas como produtores de eletricidade, refinarias de petróleo, siderurgia, de cimento, empresas de aviação da Europa e aquecimento urbano. 

Cada ano, os Estados europeus determinam o número de cotas que cada empresa terá direito, dependendo do setor de atividade. Se as emissões da empresa são superiores à cota a qual ela tinha direito, a empresa deve comprar partes suplementares no mercado de carbono.

Para incitar a indústria a emitir menos gases de efeito estufa, as cotas diminuem com o tempo. Com a reforma aprovada definitivamente na terça-feira, a redução terá de acontecer em ritmo mais rápido. Já que as emissões do setor coberto pelo ETS devem ser reduzidas em  62% até 2030 (contra 43% na legislação precedente), com relação aos níveis de 2005. 

A reforma prevê igualmente a eliminação progressiva das cotas gratuitas para as empresas a partir de 2026. Também chamadas de "direito de poluir", elas são atribuídas com o objetivo de não fragilizar a competitividade da indústria europeia e evitar a "fuga de carbono" para países onde as regras são mais brandas. Elas devem ser eliminadas de maneira progressiva até 2034.  

A reforma do sistema de troca de cotas de emissão foi aprovado por 413 votos a favor, 167 contra e 57 abstenções. 

O Parlamento também decidiu incluir, pela primeira vez, as emissões de gases do efeito estufa do setor marítimo dentro das cotas e aprovou a diminuição gradual dos "direitos de poluir" para a aviação, esperando promover a utilização, nesta indústria, de combustíveis menos poluentes. 

Também foi incluído dentro do mercado de carbono os transportes rodoviários e o aquecimento residencial, com cotas especiais para estes setores. 

Um avião da companhia aérea Air France no céu e outro na pista de decolagem do aeroporto Chales De Gaulle, no norte de Paris, em 8 de novembro de 2021. O setor aéreo deixará gradualmente de se beneficiar do "direito de poluir" a partir de 2026.
Um avião da companhia aérea Air France no céu e outro na pista de decolagem do aeroporto Chales De Gaulle, no norte de Paris, em 8 de novembro de 2021. O setor aéreo deixará gradualmente de se beneficiar do "direito de poluir" a partir de 2026. AP - Christophe Ena

Dumping ambiental 

Outra medida da reforma foi a aplicação de um "mecanismo de ajuste de carbono nas fronteiras" (MACF), chamado de "imposto de carbono", que visa evitar o chamado "dumping ambiental" ou as fugas de emissão de carbono. 

Em outros termos, evitar que a Europa obrigue suas indústrias a cumprir normas exigentes em seu território e importar bens cuja produção acelere o aquecimento global fabricados em outros países. 

A ideia não é nova e foi submetida pela UE em 1991, um ano antes da Rio 92, voltando com força à agenda da Comissão Europeia em 2019. 

Concretamente, o mecanismo permitirá aplicar custos suplementares, calculados sobre o curso do sistema de trocas de cotas de emissões de carbono ao qual as empresas implantadas na Europa estão sujeitas. 

Uma vez implementado o MACF, os importadores de mercadorias de países terceiros serão obrigados a adquirir certificados das autoridades nacionais, cujo preço será indexado ao CO2 no mercado europeu de carbono. Inicialmente serão contemplados os seguintes setores: ferro, aço, alumínio, cimento, fertilizantes, eletricidade e hidrogênio.

A implementação gradual do mecanismo deve começar a partir de 1º de outubro de 2023. Durante o período de transição previsto pelo executivo europeu — até final de 2025 — os importadores terão apenas que declarar as emissões de carbono dos produtos importados. Eles só começarão a pagar a partir de 2026.

Ao final do período de transição, em 2026, o executivo europeu, que terá uma melhor perspectiva sobre o funcionamento do sistema, poderá estendê-lo a outros setores econômicos. Mas todas as disposições da "taxa de carbono” devem ser aplicadas integralmente a partir de 2034.

Trabalhadores da indústria siderúrgica com cartazes onde está escrito "Parem o dumping da China", durante um protesto para pedir medidas urgentes contra as importações chinesas em 15 de fevereiro de 2019, diante da sede da Comissão Europeia, em Bruxelas.
Trabalhadores da indústria siderúrgica com cartazes onde está escrito "Parem o dumping da China", durante um protesto para pedir medidas urgentes contra as importações chinesas em 15 de fevereiro de 2019, diante da sede da Comissão Europeia, em Bruxelas. AFP/Archivos

Fundo Social do Clima

A extensão do mercado de carbono às residências e ao transporte gerou controvérsias. Para reduzir os custos da transição, os eurodeputados e o Conselho concordaram então em estabelecer um Fundo Social do Clima (FSC) para os cidadãos europeus mais vulneráveis.

O objetivo do fundo, dotado de 86,7 bilhões de euros, será "conceder financiamento aos estados-membros para apoiar medidas e investimentos no aumento da eficiência energética dos edifícios, na descarbonização do aquecimento de residências, incluindo a integração da energia proveniente de fontes renováveis, e na concessão de um melhor acesso à mobilidade com emissões zero ou baixas de transporte", diz o texto publicado na site do Conselho Europeu, sem dar detalhes sobre sua aplicação.

Os consumidores particulares devem começar a pagar o preço do carbono nos combustíveis e no aquecimento de suas residências a partir de 2027. Mas o texto limita este valor a 45 euros/tonelada pelo menos até 2030, e caso se mantenha o atual aumento dos preços da energia, a entrada em vigor seria adiada para 2028.

Os eurodeputados verdes e de esquerda, no entanto, enfatizaram que esse teto não está garantido. "O preço será definido pelo mercado", observou a eurodeputada francesa Marie Toussaint (Verdes).

As receitas do novo mercado de carbono devem alimentar grande parte do montante do fundo FSC, que deve começar a funcionar em 2026. 

O pacote também prevê que mais dinheiro seja disponibilizado para tecnologias inovadoras e para a modernização do sistema energético, principalmente para os países mais pobres do bloco. 

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