Acessar o conteúdo principal

"A Itália faz parte da Europa e do mundo ocidental", assegura Giorgia Meloni em discurso no Parlamento

A nova primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, fez um discurso diante do Parlamento, nesta terça-feira (25), para apresentar a sua política de governo, após a vitória de seu partido, Irmãos da Itália, nas eleições legislativas de setembro. A premiê negou qualquer "simpatia ou proximidade" com o fascismo ou com regimes antidemocráticos.

A nova primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, discursa na Câmara dos Deputados, para quem apresentou sua política de governo.
A nova primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, discursa na Câmara dos Deputados, para quem apresentou sua política de governo. AP - Alessandra Tarantino
Publicidade

Meloni será submetida a um voto de confiança dos deputados no final do dia e, na quarta-feira (26), cumprirá o mesmo ritual no Senado. O seu governo promete ser o mais conservador da Itália desde a Segunda Guerra Mundial. Porém, a premiê garante que não vai desviar dos valores democráticos e que vai "lutar contra qualquer forma de racismo, antissemitismo, violência política e discriminação".

Durante o discurso no Parlamento, que deve aprovar a confiança no governo, Meloni tentou acabar com as dúvidas sobre sua militância desde a juventude em movimentos fundados pelos herdeiros do fascismo. "Nunca tive simpatia ou proximidade com regimes antidemocráticos. Por nenhum regime, incluindo o fascismo", insistiu. Entretanto, no passado, ela já declarou admiração pelo ex-ditador Benito Mussolini, que governou a Itália durante mais de 20 anos, entre 1922 e 1943.

Primeira mulher no cargo

Primeira mulher chefe de governo da Itália, a líder de extrema direita também mencionou nomes de italianas que marcaram a história do país, como a jornalista Oriana Fallaci, que esteve envolvida com a Resistência Italiana, e a líder antifascista Tina Anselmi. A premiê prometeu que não irá interferir na lei de 1978, que autoriza as mulheres italianas a abortarem.

Na área econômica, analistas apostam que o governo da líder da extrema direita irá se concentrar na crise energética e na inflação que castiga as famílias e as empresas. Apesar das críticas ao último governo italiano, liderado por Mario Draghi, o programa de Meloni deve se inscrever na continuidade das medidas adotadas pelo ex-presidente do Banco Central Europeu. O principal desafio da premiê será a redução da inflação, que atualmente é de 8,9% na Itália, e também da dívida pública, que compromete 150% do PIB do país.

Devido à alta da inflação, Meloni assume como "prioridade" reforçar as medidas de apoio às famílias e empresas, tanto em relação às contas de energia quanto dos combustíveis. “Um compromisso financeiro que vai drenar grande parte dos recursos disponíveis”, reconhece a chefe de governo.

Integração europeia

Líder de um partido considerado eurocético, Meloni garantiu que a Itália é "plenamente parte da Europa e do mundo ocidental”. Ela assegurou que a atitude italiana não é "impedir e sabotar a integração europeia", mas melhorar as relações e a máquina administrativa. “A Itália respeitará as regras europeias”, afirmou a primeira-ministra. A UE é "uma casa comum para enfrentar os desafios que os Estados-membros dificilmente poderiam enfrentar sozinhos", disse ela, julgando que o bloco não fez o suficiente, no passado.

Parceira da Otan

Giorgia Meloni também prometeu que a Itália permanecerá "um parceiro confiável da Otan no apoio à Ucrânia, que se opõe à agressão da Rússia", denunciando uma "chantagem" por parte do presidente russo, Vladimir Putin. "Ceder à chantagem energética de Putin não resolveria o problema, só o tornaria pior, abrindo caminho para mais reivindicações e aumentos futuros do preço da energia", disse. “O contexto em que o governo terá de atuar é muito complicado, talvez o mais difícil desde a Segunda Guerra Mundial", enfatizou Meloni.

Sobre a imigração ilegal, um cavalo de batalha da extrema direita, Meloni afirmou a determinação de seu governo em "deter as saídas ilegais (da África) e acabar com o tráfico de pessoas" no mar Mediterrâneo.

“Havia em seu discurso uma vontade de tranquilizar seus parceiros – Estados Unidos, Otan e UE”, analisa Hervé Rayner, professor de ciências políticas na universidade de Lausanne, na Suíça. “Ela condenou todos os regimes não democráticos, incluindo o fascismo”, o que este especialista em questões ligadas à Itália contemporânea classificou como uma "mentira". Rayner recorda que “há vídeos de Meloni homenageando a obra de Mussolini”.

Autor do livro “A Itália em Mutação”, o professor da Universidade de Lausanne também destacou o fato de Meloni ter citado João Paulo II em seu discurso aos deputados. Defensora do "papel da família", ela conheceu pessoalmente o ex-pontífice.

“Foi um discurso genérico e enquanto não há medidas concretas, ela não arrisca desagradar ao seu eleitorado”, analisa Rayner. “Foi uma fala para mostrar uma unidade programática, ainda que haja desavenças dentro de sua coalizão”, completa.

Meloni ainda prestou uma homenageou ao seu antecessor. Ela certamente ganhará a confiança do Parlamento, já que sua coalizão de direita e extrema direita tem maioria absoluta nas duas casas.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.