Acessar o conteúdo principal

Reino Unido: conservadores devem convocar eleições e aceitar "veredito das urnas" , diz especialista

O Partido Conservador britânico inicia nesta sexta-feira (21) uma campanha para definir o sucessor da primeira-ministra demissionária Lizz Truss, que anunciou sua renúncia nesta quinta-feira (20). Mas, para Aurélien Antoine, especialista em instituições britânicas, os tories deveriam convocar, rapidamente, novas eleições legislativas, que provavelmente resultariam no retorno do Partido Trabalhista ao poder.

A inflação subiu mais de 10% em doze meses no Reino Unido, mergulhando o país em uma crise política e econômica.
A inflação subiu mais de 10% em doze meses no Reino Unido, mergulhando o país em uma crise política e econômica. REUTERS - PAUL CHILDS
Publicidade

Lizz Truss passou apenas 44 dias no cargo e admitiu que não pôde "cumprir o mandato" após abandonar seu polêmico pacote fiscal, que previa cortes de impostos e gerou revolta entre os deputados conservadores. Ela sucedeu Boris Johnson em 6 de setembro, após uma campanha de várias semanas contra o ex-ministro das Finanças, Rishi Sunak, e prometeu reformas para diminuir o custo de vida no país.

Sunak havia alertado para as consequências do plano fiscal de Truss e  agora passou a ser considerado um dos favoritos para assumir o cargo de chefe de Governo. O retorno de Boris Johnson também não foi descartado, apesar dos escândalos que marcaram seu mandato e de sua baixa popularidade.

Para Aurélien Antoine, professor de Direito Público na universidade Jean Monnet, em Saint Étienne, no sudeste da França, o desgaste do Partido Conservador mostra que é hora de aceitar uma provável derrota nas urnas, caso haja novas eleições e o provável retorno dos Trabalhistas ao poder.

"Há uma sucessão de ministros das Finanças e de premiês desde o Brexit, em 2016. Eu me questiono como o Partido Conservador vai se manter no poder até as próximas eleições legislativas", disse em entrevista à RFI. "Alguém honesto e corajoso diria: vamos perguntar aos eleitores. É provável que sejamos derrotados nas eleições, mas temos que admitir que falhamos e não temos mais capacidade de governar e é preciso aceitar a alternância", completa. "Mas se alguém faz isso, pode ser considerado ou um grande personagem político por alguns, ou um "suicida" para outros," observa. Em 15 anos, o país teve cinco primeiros-ministros - apenas Gordon Brown (2007 - 2010) pertencia ao Partido Trabalhista.

A primeira-ministra britânica, Lizz Truss, renunciou nesta quinta-feira (20).
A primeira-ministra britânica, Lizz Truss, renunciou nesta quinta-feira (20). AFP - DANIEL LEAL

"Reino Unido não pode ser cobaia dos conservadores"

Segundo ele, é difícil imaginar que a situação atual, instável, possa durar até a data das próximas eleições legislativas, previstas para janeiro de 2025, sem consequências "trágicas", do ponto de vista econômico e político. Isso enfraqueceria ainda mais o Parlamento. "Se os conservadores querem preservar as instituições deveriam aceitar o veredito das urnas", diz o especialista francês.

O Partido Trabalhista e outras formações da oposição afirmam que os conservadores estão menosprezando o eleitorado. O líder trabalhista, Keir Starmer, pediu eleições gerais antecipadas, dois anos antes do previsto, e afirmou que o "Reino Unido "não pode ser cobaia dos conservadores". "Esta não é apenas uma novela do partido 'tory'. Está provocando um enorme dano ao nosso país e no bolso das pessoas", disse. O país registra, atualmente, uma inflação de mais de 10%.

Os conservadores, entretanto, não parecem dispostos a convocar novas eleições e devem anunciar o sucessor de Truss em 28 de outubro. A imprensa britânica não descarta um possível duelo entre Boris Johnson e Sunak. O novo ministro das Finanças, Jeremy Hunt, descartou uma candidatura e o ex-ministro Tim Loughton, pediu a Sunak, Mordaunt, Hunt e Wallace um acordo para uma candidatura de unidade para que o partido "volte a um certo nível de normalidade".

A ex-ministra britânica do Interior Suella Braverman, da ala mais à direita do Partido Conservador, pode entrar na disputa para o cargo de premiê.
A ex-ministra britânica do Interior Suella Braverman, da ala mais à direita do Partido Conservador, pode entrar na disputa para o cargo de premiê. AFP - ADRIAN DENNIS

Duas votações

Outras candidaturas podem incluir representantes da ala mais à direita do partido, como Suella Braverman, cuja renúncia como ministra do Interior, na quarta-feira, precipitou a queda de Truss. Os candidatos precisam obter o apoio de pelo menos 100 parlamentares conservadores até 14H00 (10H00 de Brasília) de segunda-feira, o que limita a disputa ao máximo de três nomes, já que a Câmara dos Comuns tem apenas 357 conservadores.

Os representantes definirão o líder conservador em duas votações: a primeira reduzirá a disputa a duas candidaturas e a segunda servirá como "indicação" aos membros do partido sobre a opção preferida dos deputados. Então, exceto se os parlamentares apoiarem apenas um nome, serão os filiados do Partido Conservador que definirão a questão em uma votação virtual na próxima semana.

 (RFI e AFP)

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.