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Com expansão ao leste, Comunidade Política Europeia marca isolamento da Rússia no continente

Reunidos em Praga, na República Tcheca, nesta quinta-feira (6), líderes de 44 países europeus enviam um sinal claro em favor do isolamento da Rússia e tentam criar uma nova ordem continental sem Moscou.

A primeira cúpula da Comunidade Política Europeia acontece em Praga, na República Tcheca. Em 6 de Outubro 2022.
A primeira cúpula da Comunidade Política Europeia acontece em Praga, na República Tcheca. Em 6 de Outubro 2022. © Official twitter Maia Sandu President of the Republic of Moldova
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Com informações dos correspondentes da RFI em Praga, Alexis Rosenzweig, em Kiev, Anastasia Becchio, e em Istambul, Anne Andlauer

Os 44 países participam do lançamento da Comunidade Política Europeia (EPC na sigla em inglês), um novo formato de cúpula proposto pelo presidente francês, Emmanuel Macron, destinado a reunir os países do continente. O novo fórum de intercâmbio sobre assuntos de interesse comum tem como pano de fundo a invasão da Ucrânia pela Rússia.

"Esta reunião é uma tentativa de encontrar uma nova ordem sem a Rússia. Isso não significa que queremos excluir a Rússia para sempre, mas esta Rússia, a Rússia de Putin, não tem lugar", disse Josep Borrell, chefe da diplomacia europeia (UE). "O sinal que queremos enviar é que, infelizmente, não podemos construir uma ordem de segurança com a Rússia. A Rússia está isolada. Não tem assento, mas todos os outros estão aqui", acrescentou Josep Borell.

Esta primeira reunião da Comunidade Política Europeia acontece em Praga porque a República Tcheca detém, atualmente, a presidência rotativa do Conselho da UE. O objetivo do encontro é fortalecer a segurança e a estabilidade do continente europeu, no momento em que a guerra na Ucrânia já entra no seu oitavo mês.

"Mensagem de unidade"

Enquanto o continente europeu é abalado pela guerra e suas consequências, Emmanuel Macron afirmou, nesta quinta-feira, em Praga, que a nova Comunidade Política Europeia envia "uma mensagem de unidade". No Castelo de Praga, onde se realiza o encontro inédito, Macron também insistiu na necessária "solidariedade europeia" diante da crise energética.

Em entrevista aos jornalistas, na chegada ao local do evento, o líder francês destacou a necessidade de "compartilhar uma mesma leitura da situação na Europa, de traçar uma estratégia comum com diálogos estratégicos que antes não existiam para encontrar soluções". 

Dois temas principais estarão no programa: energia e clima; paz e segurança. Além dos 27 países-membros da UE, 17 outros Estados são convidados para o lançamento da Comunidade Política Europeia. O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, a primeira-ministra britânica, Liz Truss, e o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, cuja presença provoca polêmica, fazem parte da lista.

A Turquia é o mais antigo candidato à adesão na União Europeia. Porém, Emmanuel Macron não escondeu que o convite para o país participar do encontro em Praga teve de ser debatido entre os Estados-Membros. O presidente turco não demostrou nenhum entusiasmo por este novo formato de cúpula, e confirmou a sua chegada apenas cinco dias antes. Erdogan parece hesitante em ingressar em um "clube contra Putin", como alguns veem o grupo.

Macron insistiu com seu colega turco sobre a necessidade de impor sanções contra a Rússia por causa da guerra na Ucrânia. O presidente "sublinhou a importância dos regimes de sanções europeus para pôr fim à escalada russa e apelou à luta contra qualquer estratégia de evasão" sobre o assunto, indicou o palácio do Eliseu após um encontro entre os dois líderes, à margem da primeira reunião em Praga.

A intervenção do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, no início da reunião mostrou a “gravidade” do momento, disse um funcionário europeu. O presidente ucraniano interveio por videoconferência e pediu para "punir o agressor russo" e "impedir que seus tanques" se dirijam para Varsóvia ou Praga.

Bem na foto

Porém, o fato de o presidente turco posar na foto principal com os líderes gregos e cipriotas ou a oportunidade de líderes armênios e do Azerbaijão se encontrarem em Praga podem ser vistos como sinais muito positivos quanto aos méritos deste projeto continental, pensado como uma reação à profunda crise por que passa a Europa.

A "foto de família" tirada no imponente Castelo de Praga, construção que domina a cidade velha, teve como objetivo marcar os ânimos e mostrar solidariedade num momento em que a Europa teme, com a aproximação do inverno, uma crise energética sem precedentes por causa da guerra na Ucrânia.

Acolhendo o evento como uma "grande inovação", o chanceler alemão, Olaf Scholz, julgou que o encontro é um bom eco "pela paz", "segurança" e "desenvolvimento econômico". "Todo o continente europeu está reunido aqui, com exceção de dois países: Rússia e Belarus. Isso mostra como esses dois países estão isolados", reforçou o primeiro-ministro belga, Alexander De Croo.  

Seis anos do Brexit

Seis anos após a votação do Brexit e a retirada do Reino Unido da União Europeia, os posicionamentos da nova primeira-ministra britânica, Liz Truss, que não disse uma palavra ao chegar ao Castelo de Praga, são cuidadosamente examinados.

Durante uma reunião bilateral com o primeiro-ministro tcheco, Petr Fiala, ambos enfatizaram a importância de apresentar uma "frente europeia unida" diante da "brutalidade de Putin".

Nesta quinta-feira, a primeira-ministra britânica voltou atrás e disse que o presidente francês era um "amigo" do Reino Unido – depois de ter deixado a entender o contrário, durante o verão europeu. "Ele é um amigo", disse Truss a repórteres em Praga.

Em um momento extremamente difícil no Reino Unido, o encontro pode permitir que Truss encontre "uma postura internacional, uma forma de influência no continente", explica Elvire Fabry, do Instituto Jacques Delors. "Liz Truss também vê um interesse de curto prazo nisso", acrescenta o analista. "A situação energética no Reino Unido é tal que precisa deste espaço de diálogo".

Os organizadores da cúpula esperam o anúncio de possíveis projetos concretos de cooperação no ramo da energia. Porém, nenhuma declaração final será assinada por todos os participantes.

Uma nova reunião do grupo está prevista para a primavera de 2023 no hemisfério Norte, com uma alternância entre países membros da UE e países não membros. A Moldávia já está na fila para sediar o próximo encontro da EPC.

(Com informações da RFI e da AFP)

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