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Diante de crise energética, Alemanha estuda adiar o fim das usinas nucleares

A Alemanha pode adiar o fim da energia nuclear no país, uma promessa da era Merkel levada a sério pelos ecologistas. Diante da atual crise energética, muitos "tabus" estão sendo revistos, onde a dependência ao gás russo força mudanças radicais e, às vezes, reconsiderações dolorosas. Com o crise da energia, o chanceler alemão, Olaf Scholz, considerou nesta quarta-feira (3) que "pode ​​fazer sentido" prolongar a vida útil das últimas três centrais nucleares ainda em funcionamento no país.

Usina nuclear de Philippsburg, na Alemanha.
Usina nuclear de Philippsburg, na Alemanha. © Lothar Neumann
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Pascal Thibautcorrespondente da RFI em Berlim

A hostilidade à energia nuclear tem uma longa história na Alemanha e pode ser resumida no slogan “Atomkraft, nein danke!” ("Nuclear, não, obrigado!"), que foi muito popular no passado. Há mais de 20 anos, o abandono da energia nuclear foi negociado pelo governo de esquerda de Gerhard Schröder, do qual os Verdes participaram. Após o desastre da usina nuclear de Fukushima, no Japão, o governo de Angela Merkel, que havia optado por um uso mais prolongado dessa fonte energética, voltou atrás.

O abandono da energia nuclear no país está previsto para o fim de 2022. Atualmente, três usinas nucleares ainda estão em operação e produzem 6% da eletricidade alemã. Porém, à medida que as energias de fontes renováveis ganham mais destaque, o gás russo barato deveria atender às necessidades da Alemanha, ao lado do carvão, que o atual governo queria eliminar gradualmente "se possível", até 2030.

Entretanto, esta equação foi colocada à prova por causa da guerra na Ucrânia e do desejo europeu de se tornar independente do gás russo a médio prazo.

Mesmo insignificante, o nuclear pode possibilitar alguma economia no consumo de gás, principalmente se Moscou interromper o fornecimento. Dentro da coalizão do governo, os liberais estão pedindo um adiamento para as centrais ainda ativas. Os democratas-cristãos também são a favor. Alguns até pedem a reativação das três usinas fechadas no final de 2021.

Os social-democratas são contra um adiamento do fim do nuclear. E para os verdes, que rejeitam essa fonte de energia, a discussão é um grande tabu. Eles já aceitaram por pragmatismo um uso mais expressivo do carvão, nos últimos meses, e a importação de gás de xisto que produz CO2. Porém, sacrificar o nuclear é mais difícil. Alguns não descartam, pelo menos, um adiamento para o fechamento de uma usina na Baviera.

Primeiro há um problema legal. As usinas atuais não tem mais permissão legal para operar, após 31 de dezembro de 2022.

Numerosos obstáculos

Além da dimensão ideológica, um projeto nesse sentido seria viável? Primeiro há um problema legal. As usinas atuais não tem mais permissão legal para operar, após 31 de dezembro de 2022. Uma lei, no entanto, pode ser alterada. Mas as empresas envolvidas são céticas quanto às chances de continuarem com a atividade em suas usinas.

Há ainda o problema do combustível, que está no fim de sua vida útil. Na melhor das hipóteses, ele pode ser usado por mais alguns meses. Além disso, seria necessário comprar mais para reposição. Uma opção que poderia levar meses e ser muito cara.

Some-se a esse contexto os problemas de manutenção. As usinas ainda ativas já deveriam ter sido reformadas, mas, como estavam paradas, a última reforma planejada não foi realizada. E esse tipo de operação normalmente dura meses. Surgem, portanto, muitas questões técnicas.

Após um primeiro estudo, na primavera, o governo alemão lançou uma segunda consulta para definir se, em caso de uma crise energética aguda, o país pode ou não prescindir da energia nuclear. A resposta deve sair até ao fim do mês.

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