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Ucranianos relatam medo de serem enviados à força para campos de refugiados na Rússia

Por várias semanas, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky vem denunciando que centenas de milhares de ucranianos estão sendo levados à força para a Rússia por meio de centros de triagem. Moscou reconhece que cerca de 500.000 "refugiados" ucranianos estariam na Rússia hoje. Organizações de defesa dos direitos humanos investigam as condições desses deslocamentos, mas poucas pessoas que passaram por esses acampamentos estão livres para depor.

Tanques das forças armadas ucranianas na região de Donetsk. Em 18 de abril de 2022.
Tanques das forças armadas ucranianas na região de Donetsk. Em 18 de abril de 2022. REUTERS - SERHII NUZHNENKO
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Nas áreas sob domínio russo no leste e sul da Ucrânia, os moradores têm medo de fazer parte da próxima onda de deslocamentos forçados para a Rússia, como relatam as correspondentes especiais da RFI Aabla Jounaïdi e Oriane Verdier.

Num pequeno café ao lado da estação de trem de Odessa, as jornalistas conversaram com Maria, uma ucraniana que havia acabado de fugir de Kherson. "Os invasores russos anunciaram que fechariam a região de Kherson de 1° a 10 de maio para fazer um falso referendo, criar um dia da independência e nos anexar à Rússia”, conta a refugiada. “Tínhamos medo de que eles nos deportassem para a Rússia e nos obrigassem a pegar um ônibus para a Sibéria, para o Extremo Oriente russo ou para Sakhalin [uma ilha russa ao norte do Japão]", acrescentou a mulher.

O prefeito de Mariupol foi um dos primeiros a alertar sobre o que denunciou como sendo uma “deportação” dos habitantes de sua cidade. Foi o que aconteceu com o sobrinho de Lara, uma ucraniana que fugiu de Mariupol. "Meu sobrinho me ligou do telefone de outra pessoa. Eu entendi que ele estava sob pressão porque tínhamos combinado um código. Então, eu fiz as perguntas com muito cuidado e só tivemos alguns minutos de conversa”, explica. “Ele me disse que seu telefone havia sido tirado dele, e que agora seria deportado para a Rússia ou, na pior das hipóteses, convocado para o serviço militar da República Popular de Donetsk", diz ela.

Vários testemunhos semelhantes apareceram nos últimos dias na mídia ucraniana. Todos os refugiados passaram por este campo de triagem localizado na autoproclamada República de Donetsk, sob autoridade de Moscou. De lá, mulheres e crianças seriam então enviadas para regiões pouco povoadas da Rússia.

Nova fase

A Rússia confirmou nesta terça-feira (19) ter realizado dezenas de ataques no leste da Ucrânia, região que Moscou pretende "libertar". O chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, referiu-se ao início de uma "nova fase" da guerra na Ucrânia, que já dura quase dois meses.

O ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, disse que havia seguido o "plano de libertação" das "repúblicas" separatistas pró-Rússia de Donetsk e Lugansk, estabelecido pelo presidente russo Vladimir Putin ao reconhecer a independência de ambas as regiões. A força aérea russa disparou "mísseis de alta precisão" e neutralizou treze quartéis do exército ucraniano, a quem os russos exigiram rendição.

As forças armadas ucranianas confirmaram que as tropas russas haviam "intensificado a sua ofensiva" no leste do país. As autoridades locais ucranianas pediram aos moradores para que fugissem desse "inferno", apesar da ausência de corredores humanitários.

Nas últimas semanas, depois de não conseguir assumir o controle da capital Kiev, a campanha militar russa voltou a se concentrar no Donbass, região parcialmente controlada por forças pró-russas desde 2014.

Veículos militares russos circulam em uma estrada da área controlada por forças separatistas apoiadas pela Rússia perto de Mariupol, Ucrânia. Na segunda-feira, 18 de abril de 2022. Mariupol, um porto estratégico no Mar de Azov, está sitiada por forças russas há mais de seis semanas. (Foto AP/Alexei Alexandrov)
Veículos militares russos circulam em uma estrada da área controlada por forças separatistas apoiadas pela Rússia perto de Mariupol, Ucrânia. Na segunda-feira, 18 de abril de 2022. Mariupol, um porto estratégico no Mar de Azov, está sitiada por forças russas há mais de seis semanas. (Foto AP/Alexei Alexandrov) AP - Alexei Alexandrov

Novas sanções

Nesta terça-feira, os Estados Unidos e a União Europeia chegaram a "um amplo consenso sobre a necessidade de aumentar a pressão sobre o Kremlin, em particular por meio da adoção de novas sanções". A informação foi confirmada pelo governo italiano, após uma reunião virtual dedicada à ofensiva russa na Ucrânia entre o presidente dos EUA, Joe Biden, e seus principais aliados.

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