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Venda de gás apenas para quem pagar em rublo: ameaça de Putin seria um blefe?

Não é só no front que se desenrola a guerra na Ucrânia. As ofensivas também acontecem no campo financeiro, com o presidente russo, Vladimir Putin, que anunciou a assinatura de um decreto exigindo que países estrangeiros compradores de gás  e considerados "hostis" paguem em rublos, a partir desta sexta-feira (1°). Moscou ainda ameaça com a suspensão dos contratos atuais, caso suas exigências não sejam cumpridas. Um ultimato que, no entanto, deverá ter repercussões, também, para a Rússia.

Mesmo após a invasão da Ucrânia, os países hostis às manobras militares russas ainda continuam comprando gás de Moscou. A exigência de Putin de exigir pagamento em moeda russa e não em euros seria uma tentativa de complicar a vida dos europeus, mas, sobretudo, uma cartada para o público interno.
Mesmo após a invasão da Ucrânia, os países hostis às manobras militares russas ainda continuam comprando gás de Moscou. A exigência de Putin de exigir pagamento em moeda russa e não em euros seria uma tentativa de complicar a vida dos europeus, mas, sobretudo, uma cartada para o público interno. REUTERS - DADO RUVIC
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Os países ocidentais já anunciaram que não pagarão em rublos. O ministro francês da Economia e Finanças, Bruno Le Maire, informou que a Alemanha e a França estão "se preparando" para uma possível interrupção das importações de gás russo.

Para Alexandre Baradez, analista-chefe da corretora de valores francesa IG, se a Rússia fechar a torneira de gás aos países ocidentais, as consequências também recairiam sobre Moscou, que perderia grande parte de seus recursos. “A Europa compra aproximadamente 74% de todas as exportações russas de gás e eu não vejo como, do ponto de vista financeiro, um país que tem suas reservas congeladas, que sofre sanções bancárias e que precisa de dinheiro para bancar suas atividades militares pode abrir mão desses valores”, disse em entrevista à RFI.

Se Vladimir Putin cumprir suas ameaças e suspender os contratos atuais, as consequências obviamente serão significativas para a Europa. Em especial para a Alemanha, que importa 55% de seu gás da Rússia e que pode viver a sua pior crise econômica em quase oitenta anos, segundo o grupo alemão BASF, um dos maiores consumidores de eletricidade do país. No entanto, o choque econômico resultante da medida, uma queda do PIB de pelo menos 3%, seria “administrável” para o país, de acordo com economistas.

“Se o objetivo é fazer pressão sobre a Europa, é claro que a Alemanha corre o risco de entrar em recessão durante alguns meses. Porém, para a economia russa, com uma previsão de corte de 30% do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano, as consequências domésticas seriam gigantescas e isso seria insustentável a longo prazo”, afirma Baradez.

Mesmo após a invasão da Ucrânia, os países hostis às manobras militares russas ainda continuam comprando gás de Moscou. A exigência de Vladimir Putin de exigir pagamento em moeda russa e não em euros seria, segundo o analista, uma tentativa de complicar a vida dos europeus, mas, sobretudo, uma cartada para o público interno.

“Talvez esta medida seja voltada para a política interna da Rússia. Temos informações de Mario Draghi [primeiro-ministro italiano] e do chanceler alemão Olaf Scholz, que conversaram com Vladimir Putin, e eles não acreditam que a Rússia cortará o gás. Dizem que Moscou havia compreendido que a Europa não pagaria o gás em rublo”, afirma Alexandre Baradez. “Então, há uma dissonância entre o que diz Valdimir Putin e os líderes europeus”, conclui.       

Meta europeia é diminuir dependência até 2023

O gás é a principal fonte de renda da Rússia. O país entrega cerca de 300 milhões de metros cúbicos do produto para a Europa todos os dias, o que lhe rende, diariamente, quase US$ 700 milhões por esses hidrocarbonetos. Diante da atual situação, os europeus já buscam outras fontes de abastecimento. O objetivo é dividir por três a compra de gás russo, até 2023.

Diante desse cenário, a Rússia terá de lidar com repercussões muito maiores, considerando que só as exportações de gás para a Europa representam 15% do produto interno bruto do país. A questão é, portanto, se Vladimir Putin não estaria blefando. Segundo Berlim, o líder russo teria assegurado ao chanceler Olaf Scholz que os pagamentos poderiam continuar sendo feitos em euros. Pelo menos para o próximo mês.

O governo alemão confirmou, nesta sexta-feira, ter recebido o decreto do Kremlin ordenando o pagamento em rublos e que está analisando "os efeitos concretos" dessa decisão, disse o porta-voz do governo, Wolfgang Büchner, em uma coletiva de imprensa.

O texto russo também dá "dez dias" ao banco Gazprom "para explicar os detalhes do novo procedimento" de pagamento. O Gazprombank, uma empresa subsidiária da gigante do gás Gazprom, é responsável pela implementação da decisão do Kremlin.

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