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“É um genocídio contra o povo ucraniano”, diz prefeito de Kharkiv sobre invasão russa

A guerra na Ucrânia já dura quase 40 dias e, desde o início da ofensiva de Moscou, Kharkiv, no leste do país, tem sido bombardeada continuamente pelo exército russo. Os enviados especiais da RFI, Vincent Souriau e Sami Boukhelifa acompanharam o exército ucraniano na operações de contraofensiva e conversaram com o prefeito desta cidade, nesta sexta-feira (1°). Igor Terekhov denuncia um "genocídio" infligido aos ucranianos pelas tropas russas, que continuam a atacar bairros da periferia, fazendo vítimas civis.

Um blindado russo abandonado em Mala Rogan, primeiro vilarejo libertado pelo Exército ucraniano.
Um blindado russo abandonado em Mala Rogan, primeiro vilarejo libertado pelo Exército ucraniano. AFP - ARIS MESSINIS
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RFI : Como está a situação hoje em Kharkiv?

Igor Terekhov : A situação continua tensa, já que os bombardeios nunca pararam desde o dia 24 de fevereiro. Os ataques visam áreas residenciais e a infraestrutura da cidade: centrais elétricas, usinas termelétricas, redes de abastecimento de gás e de água. Continua extremamente complicado.

RFI: Muito se fala sobre ataques aleatórios, de bombas que podem cair em qualquer lugar da cidade. Este é o seu sentimento?

I.T.: Não, no que diz respeito à infraestrutura, são ataques direcionados. Para se ter uma ideia, quando eles quiseram atacar a rede elétrica, conseguiram destruir todas as nossas redes de distribuição em um único dia.

RFI: Ainda há explosões todos os dias em áreas residenciais?

I.T.: Sim, de acordo com nosso balanço mais recente, há mais de 1.300 casas destruídas em toda a cidade.

RFI: Qual é o interesse dos russos em atacar residências de civis?

I.T.: Qual seria o interesse de iniciar uma guerra? Não estou à frente do governo ou das forças armadas russas, mas, para mim, é incompreensível que tenham começado esta guerra agora, em pleno século XXI. É um genocídio puro e simples que visa o povo ucraniano e a cidade de Kharkiv.

RFI: Qual é o tamanho da mobilização popular na cidade, desde 24 de fevereiro?

I.T.: Antes da guerra, Kharkiv tinha uma população de um milhão e meio de pessoas. Hoje, 30% desses habitantes foram embora. Famílias com crianças saíram primeiro. Eu estive em um dos subúrbios de Kharkiv mais cedo, com aqueles que ficaram e precisam de ajuda humanitária. Geralmente, são pessoas de uma certa idade que não deixaram a cidade. Há também muitos homens em idade de combate que se alistaram, seja nas forças regulares ou na defesa territorial, que foram pegar em armas para defender a cidade.

Igor Terekhov, prefeito de Kharkiv em entrevista aos enviados especiais da RFI. Em 1° de abril de 2022.
Igor Terekhov, prefeito de Kharkiv em entrevista aos enviados especiais da RFI. Em 1° de abril de 2022. © Sami Boukhelifa/RFI

Contra-ataque ucraniano liberta cidade que estava nas mãos do russos

Após passar mais de um mês sob o fogo dos ataques russos, as forças ucranianas lançaram uma contraofensiva na região de Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia. A operação começa a dar frutos e o vilarejo de Mala Rogan, em seus arredores, acaba de ser libertado. Trata-se de uma das primeiras posições tomadas dos russos desde o início da invasão.

Mala Rogan se transformou em um campo em ruínas, constatam os enviados especiais da RFI Vincent Souriau e Sami Boukhelifa, que acompanharam o exército ucraniano até esta região. As estradas, assim como muitas casas, foram destruídas. Um míssil não detonado repousa em frente ao que restou de um tanque carbonizado. As árvores estão cobertas de fuligem negra ou foram lambidas pelas chamas. Sinais de uma luta violenta, conta Lilia, que combate pelas forças ucranianas.

“Lançamos um contra-ataque e conseguimos repelir as forças de ocupação russas. Durante o nosso avanço, destruímos esse tanque que os russos haviam posicionado no meio das residências de civis. As pessoas poderão viver normalmente novamente. Liberamos essa posição e os moradores vão voltar para as suas casas”, diz.

Um soldado ucraniano inspeciona um tanque destruído em Mala Rogan, a leste de Kharkiv, na Ucrânia.
Um soldado ucraniano inspeciona um tanque destruído em Mala Rogan, a leste de Kharkiv, na Ucrânia. © Catherine Norris-Trent / France 24

A maioria dos 3500 residentes de Mala Rogan fugiu. Mas nem todos. Alguns ainda estão escondidos no porão, garante Lilia. Eles não se atrevem a sair ainda. No final de uma rua, Sergei descobre sua casa, devastada pelos combates.

"Eu estava muito assustado. Meu vizinho foi morto. Mas agora nosso exército lançou um grande contra-ataque... A guerra começou há um mês e já podemos mostrar aos russos que podemos enfrentá-los, vencê-los. Espero que esta reconquista continue”, diz o morador, que se refugiou com a família a 5 km dali.

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