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Zelensky acusa Rússia de alimentar corrida armamentista com ameaça nuclear

A Rússia alimenta a corrida armamentista ao destacar a potência de seu arsenal nuclear, denunciou neste sábado (26) o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, durante uma participação por vídeoconferência no Forum de Doha, organizado pelo governo do Catar.

Veículos blindados de tropas pro-russes perto de  Dokuchaievsk, na região de Donetsk, na Ucrânia
Veículos blindados de tropas pro-russes perto de Dokuchaievsk, na região de Donetsk, na Ucrânia REUTERS - ALEXANDER ERMOCHENKO
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“Os russos se vangloriam do fato de serem capazes de destruir, com armas nucleares, não apenas um país, mas um planeta inteiro”, declarou o presidente ucraniano em uma mensagem transmitida aos dirigentes presentes no evento.

Ele lembrou que a Ucrânia desmantelou seu arsenal nuclear nos anos 1990 e recebeu, na época, garantias de segurança “da parte dos países mais poderosos do mundo”, incluindo a Rússia.

“Um dos países que deveria dar mais garantias de segurança para a Ucrânia está contra a Ucrânia. Este é um dos maiores exemplos de injustiça que pode existir”, declarou. Nesta semana, Moscou indicou que a “arma nuclear só seria utilizada na Ucrânia em caso de “ameaça na existência” do país. Os ocidentais não descartam um incidente químico ou nuclear provocado pelos bombardeios russos.

A Otan anunciou que forneceria à Ucrânia equipamentos de proteção contra ameaças químicas, biológicas e nucleares. O presidente americano, Joe Biden, alertou na quinta-feira (24), após participar de uma cúpula da Otan em Bruxelas, que a Aliança transatlântica "responderia" caso Putin ordenasse o uso de armas químicas na Ucrânia.

A central nuclear de Zaporijia, na Ucrânia
A central nuclear de Zaporijia, na Ucrânia © Wikimedia/CC BY-SA 3.0/Ralf1969

Na mensagem de hoje, Zelensky também impulsionou os países produtores de energia a aumentarem sua capacidade para que a Rússia não utilize os combustíveis como “um meio de chantagem."

Segundo ele, países como o Catar podem contribuir para a estabilização da Europa. “Eles podem fazer mais para reestabelecer a Justiça”, declarou, lembrando que o Catar é um dos maiores produtores de gás liquefeito do mundo.

O futuro da Europa depende de um esforço conjunto. “Peço que aumentem a produção de energia para que todos na Rússia entendam que nenhum país pode utilizar a energia como arma e chantagear o mundo”, declarou.

O presidente ucraniano também afirmou que nenhum país seria poupado de problemas no abastecimento no setor alimentar após a invasão da Rússia pela Ucrânia, um dos maiores produtores de cereais do mundo.

O Kremlin acusou os Estados Unidos de desenvolver um programa de armamento químico e biológico na Ucrânia e, na sexta-feira (25), afirmou que as declarações de Biden tem o intuito de "desviar o foco" desse assunto.

Em Bruxelas, Biden e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciaram a criação de um grupo de trabalho destinado a reduzir a dependência europeia de combustíveis fósseis russos.

A Ucrânia insiste na necessidade de "aumentar a pressão econômica" contra a Rússia e Belarus, aliado de Moscou. Os 27 membros da UE entraram em acordo para a realização de compras conjuntas de gás para o bloco, com o objetivo de conter a alta dos preços potencializada pela guerra na Ucrânia.

Canteiro de obras do gasoduto Nord Stream 2, perto da cidade de Kingisepp, na Rússia
Canteiro de obras do gasoduto Nord Stream 2, perto da cidade de Kingisepp, na Rússia REUTERS/Anton Vaganov

Russos concentram ofensiva no leste

A Rússia anunciou nesta sexta-feira (25) que concentrará sua ofensiva na Ucrânia na "libertação" do leste do país, após um mês de combates e bombardeios.

Segundo relatos, as tropas russas foram forçadas a recuar para regiões ao redor de Kiev e enfrentaram uma contra-ofensiva em Kherson, no sul, a única grande cidade que conseguiram tomar desde o início da invasão, em 24 de fevereiro.

Na cidade polonesa de Rzeszow, a 80 km da fronteira com a Ucrânia, o presidente americano, Joe Biden, elogiou a resistência do povo ucraniano e voltou a chamar o presidente da Rússia, Vladimir Putin, de "criminoso de guerra".

A cidade portuária de Mariupol, no sul, sobre o mar de Azov, sitiada e bombardeada há semanas, se tornou um símbolo da devastação deixada pela guerra."A situação na cidade segue trágica", afirmou o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, em vídeo divulgado na sexta-feira à noite.

As autoridades temem que o bombardeio na semana passada de um teatro em Mariupol que servia de abrigo antiaéreo tenha causado cerca de 300 mortes.

França, Turquia e Grécia lançarão "nos próximos dias" uma "operação humanitária" para tentar evacuar civis da cidade, anunciou o presidente francês, Emmanuel Macron, após uma cúpula da União Europeia (UE) em Bruxelas.

Imóveis atingidos por bombardeios em Mariupol, na Ucrânia
Imóveis atingidos por bombardeios em Mariupol, na Ucrânia REUTERS - ALEXANDER ERMOCHENKO

Bombardeios indiscriminados

Em Kharkov, no leste, o prefeito denunciou bombardeios que deixaram pelo menos quatro mortos. Apesar dos ataques, as tropas russas sofreram importantes baixas e, há algumas semanas, não têm conseguido qualquer avanço significativo.

O exército russo reconheceu na sexta-feira que 1.351 de seus soldados morreram e 3.825 ficaram feridos desde o início da ofensiva militar, em 24 de fevereiro, e acusou os países ocidentais de cometer um "erro" ao entregar armas a Kiev.

Uma parte de Donbass está sob controle de separatistas pró-Rússia desde 2014. O envio à Ucrânia de mísseis antitanques portáteis e de outros armamentos ocidentais ajudaram as forças ucranianas a segurar o avanço russo e até a permitir que as forças ucranianas passem ao ataque em algumas regiões.

As tropas russas tentaram por vários dias cercar Kiev, mas os contra-ataques "permitiriam à Ucrânia recuperar vilarejos e posições defensivas em um raio de 35 km" da capital, detalhou um relatório do ministério britânico da Defesa.

Refugiados ucranianos descansam em ginásio na Polônia
Refugiados ucranianos descansam em ginásio na Polônia Agencja Wyborcza.pl via REUTERS - Jakub Orzechowski/AGENCJA WYBORC

Dez milhões de refugiados

Após mais de um mês de guerra, milhares de ucranianos morreram, entre eles, pelo menos 136 crianças, e mais de 4.300 casas foram destruídas segundo um último balanço comunicado pelo presidente ucraniano, Volodimir Zelensky.

Dez milhões de pessoas tiveram que abandonar suas residências, das quais mais de 3,5 milhões fugiram para o exterior, de acordo com dados da ONU.

As negociações para acabar com a guerra seguem sem apresentar resultados significativos. A Rússia garantiu que as discussões com a Ucrânia não avançam sobre os principais temas e afirmou que o governo de Kiev está preocupado sobretudo em "obter garantias de segurança de potências terceiras" caso "não consiga aderir à Otan".

O ministro ucraniano das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, classificou as negociações com a Rússia como "muito difíceis" e afirmou que a Ucrânia não cederá em questões essenciais.

"Insistimos, antes de mais nada, em obter um cessar-fogo e garantias de segurança e da integridade territorial da Ucrânia", declarou. Putin promulgou uma nova lei que pune com até 15 anos de prisão quem difundir "informações falsas" sobre as ações da Rússia no exterior.

(Com informações da AFP)

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