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Ucrânia acusa Rússia de terrorismo de Estado; Kremlin convoca embaixador dos EUA

O ministro da Defesa ucraniano, Oleksi Reznikov, disse nesta segunda-feira (21) que a Rússia está praticando terrrorismo na Ucrânia e poderá agir contra outros países "se ninguém detê-la."

Barricada erguida perto do teatro nacional em Odessa, atingida nesta segunda-feira (21) pelos bombardeios russos.
Barricada erguida perto do teatro nacional em Odessa, atingida nesta segunda-feira (21) pelos bombardeios russos. © AFP / BULENT KILIC
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A declaração foi dada durante uma coletiva de imprensa ao lado do ministro britânico, Ben Wallace, em Londres. Segundo Reznikov, as Forças Armadas russas mataram pelo menos 150 crianças e destruíram mais de 400 escolas e 110 hospitais desde o início da invasão à Ucrânia, em 24 de fevereiro. "Isso é terrorismo de estado. O Kremlin deve ser detido, porque vai continuar e atacar outros países", disse.

O Ministério russo das Relações Exteriores anunciou nesta segunda-feira ter convocado o embaixador dos Estados Unidos no país, para explicar as declarações "inaceitáveis" do presidente americano, Joe Biden, sobre o chefe de Estado russo, Vladimir Putin, que chamou de "criminoso de guerra". Em um comunicado, o Ministério anunciou que transmitiu uma nota ao embaixador americano, John Sullivan, alertando que as relações diplomáticas entre os dois países estão "à beira da ruptura."

A Rússia bombardeou pela primeira vez, nesta segunda-feira, a periferia de Odessa, no sudoeste da Ucrânia, atingindo diversas moradias. Para o ministro da Defesa ucraniano, a ação da Rússia na Ucrânia é um "ato de terrorismo". O ataque não deixou vítimas, segundo as autoridades municipais do porto do mar Negro. A ação desencadeou um incêndio nos imóveis atingidos pelas bombas.

Na capital Kiev, um bombardeio matou pelo menos oito pessoas em um centro comercial, neste domingo (20). Inaugurado no início de 2020, pouco antes da pandemia de Covid-19, o "Retroville" tinha 250 lojas, cinemas e 3.000 vagas de estacionamento. O prefeito da cidade, Vitali Klitschko, anunciou um novo toque de recolher a partir desta segunda-feira à noite até a manhã de quarta-feira (23).

A Ucrânia também rejeitou o ultimato russo para entregar a cidade portuária de Mariupol, que está cercada, e onde quase 350 mil pessoas estão bloqueadas sem água ou energia elétrica. A cidade vem sendo bombardeada pelas tropas russas há quase um mês. O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, qualificou os ataques de "enorme crime de guerra".

Em outros pontos da Ucrânia, as bombas russas atingiram vários alvos durante a noite, incluindo uma fábrica de produtos químicos no norte do país, na cidade de Novoselytsya, que provocou um "vazamento de amônia" e disparou um alarme. As autoridades ucranianas pediram aos moradores que procurem refúgio. 

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensly, durante entrevista ao canal CNN, em 20 de março de 2022
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensly, durante entrevista ao canal CNN, em 20 de março de 2022 © RFI

Zelensky pede mais pressão

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, pediu que a Europa aumente a pressão sobre Moscou para interromper a invasão, que começou em 24 de fevereiro, e afirmou que o continente deve interromper qualquer tipo de comércio com a Rússia.

"Fechem todas as portas, não enviem seus produtos, rejeitem os recursos energéticos", pediu o presidente ucraniano. "Sem as trocas comerciais com a Europa, sem suas empresas e seus bancos, a Rússia não terá mais dinheiro para esta guerra", acrescentou, em um vídeo divulgado no Telegram.

 As autoridades ucranianas também destacaram que continuam resistindo aos ataques russos em Mariupol, que enfrenta uma situação humanitária crítica. Os defensores da cidade portuária "desempenham um papel importante na destruição dos planos do inimigo e na melhora de nossa defesa", afirmou o ministro da Defesa da Ucrânia, Oleksiy Reznikov.

O comando militar do Kremlin havia anunciado um ultimato às autoridades de Mariupol até as 5h de 21 de março, para que respondessem a oito páginas de reivindicações que, segundo os ucranianos, eram o equivalente a uma rendição.

A vice-primeira-ministra ucraniana, Iryna Vereshchuk, rejeitou o ultimato russo e afirmou que Moscou deveria, em troca, permitir que os moradores bloqueados deixassem a cidade. "Não se pode falar de entregar armas. Já informamos a parte russa", declarou ao jornal Ukrainska Pravda.

 

O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, qualificou os ataques a Mariupol de crime de guerra
O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, qualificou os ataques a Mariupol de crime de guerra REUTERS - JOHANNA GERON

Reunião da UE

Os ministros das Relações Exteriores da União Europeia se reúnem em Bruxelas nesta segunda-feira para examinar novas sanções contra a Rússia. Alguns integrantes do bloco pressionam por um embargo sobre o petróleo e gás russos, mas a Alemanha rejeita a possibilidade, alertando que poderia provocar instabilidade social.

O Kremlin se uniu às advertências contra o embargo e afirmou que o mesmo "afetaria todo o mundo". "Um embargo assim teria uma influência muito grave no mercado mundial de petróleo, uma influência negativa no mercado de energia da Europa. Mas os americanos não perderão nada, é evidente, eles se sentirão muito melhores do que os europeus", afirmou o porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov.

Os preços da energia e a segurança do abastecimento também serão abordados em uma reunião da UE na quinta-feira em Bruxelas, com a presença do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. O presidente americano também participará de uma reunião da Otan e de um encontro do G7 em Bruxelas, antes de viajar à Polônia na sexta-feira (25) para uma conversa com o presidente Andrzej Duda, durante a qual deve debater uma resposta conjunta à crise humanitária que levou dois milhões de ucranianos ao território ucraniano.

Zelensky voltou a sugerir no domingo (20) conversas diretas entre ele e Vladimir Putin. Em uma mensagem ao Parlamento israelense, ele agradeceu o primeiro-ministro Naftali Bennett por seus esforços para mediar as negociações que, segundo Zelensky, poderiam acontecer em Jerusalém.

Autoridades da Turquia, onde representantes russos e ucranianos já negociaram, afirmaram que os dois lados estão perto de chegar a um acordo para acabar com os combates, mas Zelensky parece impor algumas condições. "Não é possível simplesmente exigir que a Ucrânia reconheça alguns territórios como repúblicas independentes", declarou ao canal CNN.

Os refugiados ucranianos chegam em massa à Polônia, desde o início do conflito, em 24 de fevereiro.
Os refugiados ucranianos chegam em massa à Polônia, desde o início do conflito, em 24 de fevereiro. REUTERS - KACPER PEMPEL

Fuga massiva

As condições humanitárias estão cada vez piores nas regiões de língua russa do sul e leste da Ucrânia, assim como no norte, perto de Kiev. Quase 10 milhões de ucranianos fugiram de suas casas - um terço deles para o exterior -, segundo a ONU.

Mariupol sofre a crise humanitária mais grave do conflito e no domingo Zelensky acusou a Rússia de bombardear uma escola da cidade onde centenas de pessoas estavam refugiadas, o que ele chamou de "ato de terror". Na quarta-feira passada, um teatro da cidade no qual mais de mil pessoas estavam refugiadas, segundo as autoridades locais, foi atingido por bombas e centenas de moradores continuam desaparecidos entre os escombros.

As autoridades de Mariupol afirmam que o Exército russo transferiu à força quase mil residentes para a Rússia e retiraram seus passaportes ucranianos, um possível crime de guerra. Um grupo de crianças bloqueado em uma clínica de Mariupol durante semanas está entre os que foram levados ao território controlado pela Rússia, afirmaram à AFP uma cuidadora e um parente de um funcionário do centro médico.

Os 19 menores, com idades entre 4 e 17 anos e em sua maioria órfãos, passaram dias em porões gelados, escondidos dos bombardeios em condições terríveis. Um tribunal de Moscou proibiu, nesta segunda-feira, o Facebook e o Instagram na Rússia, alegando atividades extremistas. O WhatsApp, por enquanto, não será atingido pela medida.

(Com informações da AFP)

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