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Corredores humanitários não são seguros: Rússia é acusada de desrespeitar cessar-fogo na Ucrânia

Enquanto soldados russos e ucranianos se enfrentam no front, aumenta o ceticismo por parte da população civil ucraniana quanto aos corredores humanitários anunciados por Moscou para aqueles queiram deixar as zonas de conflito. Apesar do êxodo em massa de dois milhões de ucranianos, muitos ainda preferem ficam em casa, temendo serem atingidos enquanto tentam atravessar o país, principalmente em meio aos bombardeios cada vez mais perto da capital.

Centenas de refugiados chegam aos arredores da capital ucraniana Kiev, os mais velhos são rapidamente evacuados de ônibus. Em 8 de março de 2022.
Centenas de refugiados chegam aos arredores da capital ucraniana Kiev, os mais velhos são rapidamente evacuados de ônibus. Em 8 de março de 2022. © Bertrand Haeckler/RFI
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É o caso de Oleg Sosnov, ucraniano morador de Kiev, que não pretende deixar sua casa. “Anunciaram corredores humanitários, mas as forças russas já mataram pessoas que tentavam deixar a cidade. Então, eu não acredito nem em Moscou, nem em seus corredores humanitários”, disse.

Atualmente, muitos trens e ônibus partem da capital. Porém, há congestionamentos entre Kiev e o oeste da Ucrânia. Trajetos que normalmente são feitos em 5 horas, agora levam 15 horas ou até mais. “Nós realmente precisamos de corredores humanitários, principalmente nos vilarejos em torno de Kiev, onde as pessoas estão bloqueadas há dias, sem eletricidade e sem aquecimento”, completa o morador da capital.

Nesta terça-feira (8), os civis começaram a ser retirados da cidade ucraniana de Sumy, perto da fronteira com a Rússia, em uma nova tentativa de instaurar corredores humanitários para que as pessoas possam se movimentar em segurança. Os bombardeios aéreos russos contra esta cidade, a 350 quilômetros ao nordeste de Kiev e cenário de violentos combates, há vários dias, mataram 21 pessoas, incluindo duas crianças. Dezenas de ônibus saíram de Sumy com destino a Lokhvytsia, 150 quilômetros ao sudoeste, informou o governador interino, Dmitry Lunin.

Alguns minutos antes, a vice-primeira-ministra ucraniana, Iryna Vereshchuk, havia afirmado que "o lado russo pretendia perturbar o corredor", algo que poderia obrigar os civis a "seguirem outro itinerário, que não está coordenado (com as autoridades ucranianas) e é perigoso", acrescentou. "Permitam que retiremos as pessoas tranquilamente. O mundo inteiro está assistindo", declarou ela, no 13º dia de conflito, antes de pedir às tropas russas que "interrompam o seu avanço" durante a operação humanitária.

Horas depois, no entanto, o ministério ucraniano da Defesa acusava a Rússia de não respeitar o corredor humanitário em Mariupol, cidade portuária estratégica ao sul do país. "O inimigo executou um ataque exatamente na direção do corredor humanitário", denunciou o ministério em sua página do Facebook. O exército russo "não permitiu que crianças, mulheres e idosos abandonassem a cidade", acrescenta o texto.

A recepção a refugiados, a cerca de dez quilômetros da cidade de Irpin, na Ucrânia. Em 8 de março de 2022.
A recepção a refugiados, a cerca de dez quilômetros da cidade de Irpin, na Ucrânia. Em 8 de março de 2022. © Bertrand Haeckler/RFI

Rússia anunciou cessar-fogo

Nas primeiras horas desta terça-feira, a Rússia anunciou um cessar-fogo para permitir a saída dos civis das grandes cidades ucranianas, incluindo a capital Kiev. A instauração de corredores humanitários foi o principal tema da terceira rodada de discussões entre representantes da Rússia e da Ucrânia, na segunda-feira (7). Entretanto, no campo de batalha, as tropas russas prosseguem com sua ofensiva no entorno das grandes cidades, o que inclui bombardeios, de acordo com as autoridades ucranianas.

O secretário-geral adjunto da ONU para Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, afirmou no Conselho de Segurança que os civis devem ter condições de fugir para onde desejarem e que o acesso seguro a suprimentos médicos e humanitários deve ser garantido.

Em Busha, perto de Kiev, os moradores também tentavam desesperadamente abandonar a cidade. "Há pessoas em cada apartamento, em cada casa. O mais importante é conseguir retirar as crianças. Há muitas crianças e mulheres", disse Anna, uma moradora, à AFP. "A cidade está à beira da catástrofe humanitária. Não temos gás, água, energia elétrica e a comida começou a acabar", acrescentou ela.

Alemanha abre investigação por crimes de guerra

A Justiça alemã abriu uma investigação sobre possíveis crimes de guerra cometidos pelas forças russas, desde o início da invasão da Ucrânia, informou uma fonte, nesta terça-feira (8). Esta fonte confirmou à AFP a abertura da investigação que, segundo declarações à imprensa do ministro da Justiça, Marco Buschmann, pretende "coletar e assegurar todas as provas" para eventuais processos.

"As eventuais violações do direito penal internacional devem ser perseguidas em conformidade", acrescentou Buschmann em entrevista ao jornal Passauer Neue Presse. Ele especificou que os ministros europeus da Justiça conversaram sobre os procedimentos para documentar possíveis crimes de guerra cometidos na Ucrânia.

A investigação da Procuradoria federal alemã, encarregada de assuntos sensíveis, tem como objetivo reunir documentos e testemunhos de qualquer abuso cometido.

O Tribunal Penal Internacional (TPI) também está investigando acusações de crimes de guerra e crimes de lesa-humanidade, desde a semana passada.

(Com informações da AFP)

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