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Europa se articula para evitar chegada em massa de refugiados afegãos

Em meio ao caos instalado em Cabul após a tomada do Afeganistão pelos talibãs, os países da União Europeia se articulam para evitar uma chegada em massa de refugiados do país em colapso. O presidente francês, Emmanuel Macron, enfrenta uma onda de críticas da esquerda por ter mencionado, em um discurso na noite de segunda-feira (16), que a Europa deveria “se proteger dos grandes fluxos migratórios irregulares”.

Em uma praça da ilha grega de Lesbos, solicitantes de asilo se reuniram em uma manifestação contra a chegada dos talibãs ao poder em seu país.
Em uma praça da ilha grega de Lesbos, solicitantes de asilo se reuniram em uma manifestação contra a chegada dos talibãs ao poder em seu país. REUTERS - ELIAS MARCOU
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Os ministros europeus das Relações Exteriores realizam nesta terça-feira (17) uma reunião de crise para debater as consequências da queda do governo afegão e a volta dos talibãs. As ameaças à segurança na Europa e o fluxo migratório estarão no foco das atenções.

“A Europa deverá inevitavelmente instalar corredores humanitários e meios de acolhimento organizados, para evitar fluxos descontrolados de imigrantes ilegais. Pelo menos, os países que estão dispostos deveriam fazê-lo”, declarou o comissário europeu de Economia, Paolo Gentiloni, em uma entrevista ao jornal Il Messaggero publicada nesta terça (17).

Polêmica na França

Na véspera, em seu discurso, Emmanuel Macron afirmou que as ondas de imigração “alimentam os tráficos de todas as naturezas” e “colocam em perigo” as pessoas que recorrem a eles. “A Europa não pode, sozinha, assumir as consequências da situação atual”, afirmou o líder francês, em cadeia nacional de rádio e televisão.

As falas foram mal interpretadas por parte da classe política francesa e nas redes sociais, onde a hashtag #EmmanuelLePen – em referência à família Le Pen, ícone da extrema direita francesa – logo subiu entre as mais populares no Twitter francês.

A socialista Audrey Pulvar, por exemplo comparou o discurso a comentários do ex-presidente conservador Nicolas Sarkozy, que disse que “os sírios fugindo do regime fascista de Bachar al-Assad seriam como uma ‘infiltração de água’ que invadiria as casas" dos franceses.

“E essas crianças? Essas mulheres e homens que fogem do horror? A França deve assumir a sua parte”, disse o secretário nacional do partido Europa Ecologia-Verdes, Julien Bayou.

Diante da polêmica, o presidente francês reagiu horas depois. Também pelo Twitter, disse que alguns tentavam “desviar" as suas intenções. “A França faz e continuará a fazer o seu dever para proteger aquelas e aqueles mais ameaçados”, ressaltou.

Abertura para afegãos

Segundo Macron, cerca de 800 afegãos já teriam chegado à França e os esforços de evacuação devem continuar, com o envio de dois aviões e forças especiais.

“É nosso dever e nossa dignidade proteger aqueles que nos ajudaram: tradutores, motoristas, cozinheiros e tantos outros. Quase 800 pessoas já estão em solo francês. Muitas dezenas de pessoas seguem ainda no Afeganistão e por elas nós continuaremos totalmente mobilizados”, afirmou o Chefe de Estado, sem mencionar o número total de pessoas que serão evacuadas.

Mais cedo, a Alemanha anunciou que vai repatriar mais de 10 mil pessoas que hoje estão no Afeganistão. Entre eles, mais de 2,5 mil afegãos que ajudaram as forças da OTAN durante o período de combate ao Talibã, além de advogados e militantes de direitos humanos.

“Assistimos a tempos difíceis”, afirmou a chanceler Angela Merkel. “Neste momento nós devemos nos concentrar na missão de salvamento”, explicou.

Migrantes na Grécia

Na Grécia, um  dos principais pontos de entrada de migrantes vindos do Oriente Médio, o ministro grego de Migração e Asilo, Notis Mitarachi, descartou novos fluxos do Afeganistão. "Nosso país não será porta de entrada para uma nova onda de refugiados", afirmou hoje à TV local.

Na noite de segunda-feira (16), em uma praça da ilha grega de Lesbos, afegãos solicitantes de asilo se reuniram em uma manifestação contra a chegada dos militantes islamitas ao poder em seu país. "Não aos talibãs", cantavam. Cerca de 200 migrantes e refugiados do Afeganistão, juntamente com alguns do Irã, agitaram bandeiras afegãs. "Viemos mostrar ao mundo o que acontece em meu país", disse à AFP Amidi Rahmazolla, 35. Sua família está em Cabul, seu pai é idoso e seu irmão está doente.

Amidi diz que seus parentes também querem chegar à Grécia. "Os talibãs são pessoas perigosas. Não querem que os jovens vão à escola, as mulheres não podem ir à universidade", afirmou.

Os manifestantes disseram temer pela sorte de seus parentes no Afeganistão, alguns dos quais não puderam ser localizados. Para esses refugiados e migrantes, os últimos dias foram um pesadelo. "Não consigo dormir, minha família está mal, precisa de dinheiro", contou Abdul haq Salarzay, 29 anos, que está na ilha grega há dois anos. Salarzay quer conseguir dinheiro emprestado com amigos para trazer a família para a Grécia.

Com informações da AFP

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