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“Há 48 horas vivemos um pesadelo”: inundações causam catástrofe na Alemanha e na Bélgica

Dois dias de chuvas torrenciais foram o bastante para causar a maior catástrofe natural de décadas na Alemanha e na Bélgica. Uma quantidade de água equivalente a mais de um mês de chuvas fez os rios do oeste alemão e do sul belga transbordarem, inundando as cidades às suas margens.

Vista aérea de região destruída por inundações em Erftstadt, cidade do oeste da Alemanha.
Vista aérea de região destruída por inundações em Erftstadt, cidade do oeste da Alemanha. AFP - SEBASTIEN BOZON
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Na noite desta sexta-feira (16), os boletins apontavam, ao menos, 103 mortos na Alemanha e outras 20 vítimas fatais na Bélgica. No entanto, é ainda muito difícil calcular a extensão dos estragos e das perdas humanas, muitas áreas inundadas continuam inacessíveis e há centenas de desaparecidos.

“Em poucos minutos, a casa foi inundada", diz Cornelia Schlösser, uma comerciante que perdeu tudo dentro de sua padaria centenária em Schuld, cidade no oeste da Alemanha, inundada pela enchente.

"Há 48 horas que vivemos um pesadelo; voltamos, mas não podemos fazer nada", disse a mulher. A vitrine, que exibia os produtos de padaria há dois dias, foi destruída. Na fachada, uma pilha de sucata, vidro, madeira, cimento e galhos.

"Vivemos aqui por mais de 20 anos e nunca vimos algo assim", relatou Hans-Dieter Vrancken, um morador de 65 anos de Schuld.

Como ela, moradores desta cidade de cerca de 700 habitantes andavam pelas ruínas do que era um ponto turístico perto de Bonn, no verde Vale do Ahr. "É como a guerra", comentou Vrancken.

O aumento do nível da água devido às chuvas torrenciais fez com que o rio devastasse tudo por onde passava. Casas foram demolidas, paredes arrastadas, pontes e estradas destruídas.

Todas as lojas do centro da cidade foram devastadas: padaria, cabeleireiro, peixaria, hotel, confeitaria. Cerca de cinquenta casas foram danificadas, várias devem ser demolidas.

Rio Ahr, no oeste da Alemanha, transbordou após chuvas torrenciais
Rio Ahr, no oeste da Alemanha, transbordou após chuvas torrenciais AP - Michael Probst

Um tsunami de lama

Na vizinha Bad-Neuenahr, de 27 mil habitantes, os moradores descreviam a enchente como um tsunami.

Com um computador, um gato e poucos pertences, um casal contou ter tido apenas 15 minutos para recolher o que pudessem e abandonar sua casa. "Não tivemos a menor chance. Nos refugiamos no telhado do vizinho. Perdemos tudo", disse o marido.

A velocidade do desastre surpreendeu a todos. "Às 23h30 só havia um pouco de água, à 1h da manhã estava tudo debaixo d'água. Nosso apartamento, nosso escritório, a casa dos vizinhos. Em 15 minutos", lamentou Agron Berischa, principal autoridade do cantão Bad Neuenahr-Ahrweilercerca.

Na pequena cidade termal, um mar de lama tomava todas as ruas nesta sexta. Escombros do que eram uma casa aqui, uma bicicleta ali, carros torcidos pela força das águas eram algumas das marcas deixadas pela tempestade.

Perto de Colônia, um deslizamento de terra ocorrido hoje, também em consequência das inundações, causou "várias mortes" e há pessoas desaparecidas, segundo uma porta-voz do governo local.

Em Dusseldorf, no noroeste da Alemanha, todo o distrito de Ostparksiedlung está inundado. 

"Nossa casa teve sorte, mas outras pessoas não tiveram tanta sorte. Algumas eram mais antigas e construídas de maneira diferente. Algumas pessoas perderam tudo que tinham em seus porões”, conta uma moradora que teve de deixar sua casa às margens do rio Düssel. “Há dois dias não há eletricidade. Não tenho ideia de quando poderei voltar para minha casa", acrescenta.

Luto nacional na Bélgica

As inundações, que afetam principalmente o leste e o sul da Bélgica, provocaram pelo menos 20 mortes e há ainda outras 20 pessoas desaparecidas. "Ainda estamos esperando o balanço final, mas esta pode ser a inundação mais catastrófica que nosso país já viu", disse o primeiro-ministro Alexander De Croo, que declarou 20 de julho como dia de luto nacional.

Em Liege, a quarta maior cidade do país, os moradores das margens do rio Mosa tiveram de deixar suas casas por conta do transbordamento do rio. Mais de 40 mil casas estão sem eletricidade.

Na cidade de Andler, a poucos quilômetros de Liège, Francine Monsieur teve de abandonar sua casa no meio da inundação.

"Quando deixamos a casa, a água chegava na nossa cintura. Tudo estava boiando na água, as cadeiras, os móveis. Dá vontade de chorar, é muito triste. Mas eu agradeço porque estamos todos bem, meus filhos estão bem", disse, muito emocionada.

A moradora descreveu o cenário na cidade como apocalíptico, “a água arrancou as estradas, levou as pontes, os carros saíram boiando. É apocalíptico, muito grave”.

Aquecimento global?

Nesta sexta-feira, políticos de todos os países atingidos comentaram sobre o papel do aquecimento global no desastre natural.

O chefe de estado alemão Frank-Walter Steinmeier pediu um "compromisso resoluto" na luta contra a mudança climática, a única alternativa em sua visão aos fenômenos climáticos extremos, como as enchentes mortais que atingiram seu país.

"Somente se nos comprometermos na luta contra a mudança climática seremos capazes de controlar condições climáticas extremas como as que estamos vivendo atualmente", disse Steinmeier em um discurso solene, em que afirmou estar "profundamente emocionado".

Com a tragédia, o tema deverá ser central nas eleições legislativas que acontecem na Alemanha em setembro e vão substituir a chanceler Angela Merkel.

(Com informações de Pascal Thibault, correspondente da RFI em Bad Neuenahr, Pierre Benazet, em Bruxelas, Alix Le Bourdon, correspondente da France24 em Bruxelas, e da AFP)

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