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Relatório revela centenas de casos de violência sexual em diocese alemã

Um relatório independente solicitado pela Igreja Católica revelou centenas de casos de violência sexual cometidos pelo clero e por funcionários da maior diocese da Alemanha. O documento foi divulgado pelos autores da investigação, feita pela Igreja, nesta quinta-feira (18).

Um carro alegórico de carnaval mostrando um bispo não nomeado do desfile "Rosenmontag" (segunda-feira das rosas) de Duesseldorf de 2019 é colocado em frente à Catedral de Colônia por ativistas da Fundação Giordano Bruno para protestar contra o abuso sexual de padres católicos em Colônia, Alemanha, 18 de março de 2021.
Um carro alegórico de carnaval mostrando um bispo não nomeado do desfile "Rosenmontag" (segunda-feira das rosas) de Duesseldorf de 2019 é colocado em frente à Catedral de Colônia por ativistas da Fundação Giordano Bruno para protestar contra o abuso sexual de padres católicos em Colônia, Alemanha, 18 de março de 2021. REUTERS - THILO SCHMUELGEN
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O relatório de 800 páginas sobre a diocese de Colônia identificou 202 responsáveis por agressão sexual e 314 vítimas, entre 1975 e 2018, de acordo com um dos advogados que investigou o caso, Bjoern Gercke. "Mais da metade das vítimas eram crianças menores de 14 anos", disse Gercke. 

Cerca de 70% dos autores eram membros do clero e os outros funcionários comuns, detalhou, que foram sancionados. Mas esse não foi o caso dos sacerdotes. O relatório isenta de qualquer culpa o cardeal Rainer Maria Woelki, suspeito de tentar ocultar a dimensão dos abusos.

"Isso nos envergonha profundamente", reagiu Woelki, que suspendeu imediatamente dois sacerdotes da igreja de Colônia – o bispo Dominikus Schwaderlapp e o titular do tribunal, o diocesano Guenter Assenmacher – por "encobrir" os casos de abuso.

"Os atos devem também ter consequências para os membros do clero", afirmou o cardeal. Woelki disse no início de março que suspenderia "provisoriamente, se necessário, as pessoas citadas no relatório", antes de tirar conclusões concretas em 23 de março.

"Maior crise já vivida na Igreja"

O cardeal  provocou um escândalo no ano passado ao se recusar a tornar público um primeiro relatório sobre o período, de 1975 a 2018, alegando infrações e problemas de proteção de dados. A decisão irritou as vítimas, provocou uma saída em massa de sua diocese e a incompreensão de outros membros do clero, o que levou o cardeal a pedir um novo relatório.

A comunicação do monsenhor Woelki é "um desastre", afirmou no fim de fevereiro o presidente da conferência dos bispos, Georg Bätzing. Esta é a "maior crise já vivida pela Igreja", estimou Tim Kurzbach, presidente do conselho da diocese de Colônia que reúne clero e leigos. A polêmica com Woelki surgiu em um momento em que a Igreja Católica realiza alguns progressos no reconhecimento de sua responsabilidade nos casos de violência e na indenização das vítimas.

Em 2018, um relatório encomendado pela Igreja revelou que 3.677 crianças ou adolescentes foram vítimas de abuso sexual por mais de 1.000 membros do clero, desde 1946. A maioria dos responsáveis por esses eventos não foi punida. Sem acesso a todos os arquivos, os autores do estudo alertaram que o número de vítimas provavelmente era maior.

As revelações, semelhantes a outros escândalos em países como Austrália, Chile, França, Irlanda e Estados Unidos, levaram o cardeal Reinhard Marx, um reformador, a pedir perdão em nome da Igreja Católica alemã.

Fuga de fiéis 

A Igreja paga uma indenização – julgada insuficiente pelas vítimas – de € 5.000 (cerca de US$ 6.000) em "reconhecimento ao seu sofrimento", bem como despesas de terapia. Além disso, cada diocese iniciou uma investigação local sob a supervisão de uma comissão conjunta. O caso de Colônia também afeta as possibilidades de modernização da Igreja, atualmente em discussão no âmbito de um sínodo.

Trata-se também de reter fiéis, que pagam impostos na Alemanha e ajudam a financiar, por exemplo, associações de caridade. O número de membros da Igreja Católica, que continua majoritária no país, caiu para 22,6 milhões em 2019, ou seja, 2 milhões a menos que em 2010, ano da revelação dos escândalos de abusos sexuais.

O papa Francisco adotou medidas para combater o silêncio em torno dos abusos de menores na Igreja. Em 2019, aprovou uma medida histórica que exige que o clero denuncie qualquer caso de abuso sexual.

Com informações da AFP

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