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Mesmo com acordo pós-Brexit, negociações entre UE e Reino Unido serão permanentes, dizem especialistas

Embaixadores dos países-membros da União Europeia se reúnem nesta sexta-feira (25) em Bruxelas para dar continuidade ao processo de votação e implementação do acordo do pós-Brexit, concluído nesta quinta-feira (24) entre a Europa e o Reino Unido. A RFI ouviu políticos, acadêmicos e empresários sobre as expectativas dessa futura relação entre dois grandes parceiros comerciais.

O primeiro-ministro Boris Johnson após a coletiva de imprensa de anúncio do acordo do pós-Brexit. Em 24 de dezembro de 2020.
O primeiro-ministro Boris Johnson após a coletiva de imprensa de anúncio do acordo do pós-Brexit. Em 24 de dezembro de 2020. REUTERS - POOL
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Os 27 chefes de Estado e de governo do bloco europeu deverão dar seu aval sobre o documento, que reúne cerca de 1500 páginas e levou meses de discussão. Do lado britânico, os parlamentares terão somente o dia 30 de dezembro para debater e depois se pronunciar sobre o novo projeto que transformará o acordo em lei nacional. Depois disso, ainda será preciso obter a ratificação do Parlamento Europeu, no início de 2021.

“Nós podemos esperar, eventualmente, alguma resistência no Parlamento Europeu, já que certos eurodeputados reclamaram que não tiveram tempo para ler o documento”, afirma Emmanuelle Saulnier Cassia, professora de direito público na Universidade de Versailles Saint-Quentin. “Mas o Parlamento Europeu não pode modificar o acordo, só pode aceitar ou recusar em bloco a ratificação”, acrescenta.

De acordo com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, trata-se de um acordo "bom, equilibrado" e "justo" para os dois lados.  "A unidade e firmeza europeias valeram a pena", reagiu, por sua vez, o presidente francês, Emmanuel Macron.

O eurodeputado Sandro Gozi também saudou a vitória do campo francês. “Os britânicos queriam diminuir o acesso à pesca em 80%, mas teremos uma diminuição de apenas 25%, até 2026. Então, considerando as dificuldades da negociação, foi um bom resultado”, analisa.   

A conclusão de um acordo no último minuto, no entanto, não significa o fim das conversas, como explica Fréderic Meran, especialista de questões europeias na Universidade de Montreal. “Se observarmos, por exemplo, a relação da Suíça com a União Europeia, nós observamos que a negociação é permanente, porque há questões sobre as quais é preciso negociar novos acordos”, cita. “Então, sobre essa base que foi acordada haverá uma negociação permanente entre o Reino Unido e aquele que vai permanecer o seu principal parceiro econômico: a União Europeia”, prevê.

“Os europeus não cederam muito, guardaram a integridade do mercado interno, e os aspectos mais polêmicos, como por exemplo a possibilidade de os britânicos terem acesso ao mercado financeiro europeu, foram descartados”, analisa Meran. “Já os britânicos obtiveram aspectos simbólicos, como a soberania marítima, o que é importante para uma potência marítima, mesmo se a contrapartida econômica desse setor pode parecer pequena”, conclui.

Alívio entre o empresariado

O mundo dos negócios deu um suspiro de alívio com o fechamento do acordo, já que há várias semanas os empresários estavam ansiosos por um pacto comercial que regesse a nova relação com o bloco europeu, num momento em que o impacto catastrófico da pandemia de Covid-19 ainda pesa nas contas do setor. O mais importante, afirmam, foi varrer para sempre as possíveis consequências desastrosas de um retorno às barreiras tarifárias, como no caso de um "no deal".

Adam Marshall, diretor administrativo da Câmara de Comércio Britânica, diz que o fim da hesitação política é bem-vinda “depois de quase 4 anos na montanha russa do Brexit”. Contudo, “ainda há muitos detalhes a serem esclarecidos”, diz. “Os empresários precisam entender o que essas milhares de páginas querem dizer em relação à maneira como eles comercializam seus produtos através de suas fronteiras. E eles têm muito pouco tempo para fazer as adaptações necessárias, porque tudo precisa acontecer nos próximos 7 ou 8 dias,” completa.  

Menos oportunidades para estudantes

Com as novas regras, o Reino Unido não vai mais participar do programa de intercâmbios universitários conhecido como Erasmus. “É muito triste para os nossos estudantes porque o Erasmus permite acordos entre universidades e os jovens que vão à Inglaterra não pagam as taxas para estudar lá, o que representa muito considerando que essas despesas são extremamente caras”, lamenta a eurodeputada Fabienne Keller.

“Haverá menos jovens europeus que irão ao Reino Unido e isso pode enfraquecer as relações com a juventude britânica. É uma pena porque são esses programas de longo prazo que reforçam os laços de amizade e que perduram as relações”, acrescenta ela.

Alexandre Mazella, estudante francês que graças ao programa de intercâmbio frequenta a universidade de Warwick, em Coventry, reforça a preocupação. “É uma perda tanto para a União Europeia quanto para o Reino Unido, pois esse programa facilita a cooperação entre os dois países e permite aos estudantes acesso às melhores escolas do continente”, diz. “O financiamento da UE dá aos alunos a chance de encontrarem um alojamento, se alimentarem e aproveitarem da vida de estudante. Com a saída do Reino Unido do programa, haverá muito mais obstáculos”, completa.

 

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