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Após recurso contra prisão perpétua, “açougueiro dos Balcãs” volta a ser julgado em Haia

O julgamento do recurso contra a condenação do ex-líder militar dos sérvios da Bósnia, Ratko Mladic, começou finalmente nesta terça-feira (25), depois de ter sido adiado duas vezes. Conhecido como "o açougueiro dos Balcãs", Mladic foi condenado em 2017 à prisão perpétua por sua participação na Guerra da Bósnia e pelos crimes cometidos há mais de duas décadas na ex-Iugoslávia. O julgamento acontece até esta quarta-feira (26) na Justiça internacional de Haia.

Condenado em primeira instância à prisão perpétua, por seu papel no genocídio de Srebrenica, Ratko Mladic tem problemas de saúde e de memória, alegaram seus advogados.
Condenado em primeira instância à prisão perpétua, por seu papel no genocídio de Srebrenica, Ratko Mladic tem problemas de saúde e de memória, alegaram seus advogados. via REUTERS - UN-IRMCT
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Com informações da correspondente da RFI em Bruxelas, Joana Hostein

Em primeira instância, Ratko Mladic foi considerado culpado pelo Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia (TPII). Ele foi condenado à prisão perpétua por crimes contra a humanidade pelo cerco e o bombardeio de Sarajevo que deixou cerca de 10.000 mortos; crimes contra a humanidade pela política de limpeza étnica implantada em cidades e vilarejos da Bósnia contra muçulmanos; genocídio pelo massacre de Srebrenica, em julho de 1995, quando 8.000 homens e adolescentes foram massacrados; e por crime de guerra por ter sequestrado funcionários das Nações Unidas para impedir ataques aéreos da Otan. A guerra na Bósnia (1992 - 1995) provocou a morte de 100.000 pessoas e 2,2 milhões de deslocados.

A acusação e a defesa entraram com recurso contra a sentença. Os advogados de Ratko Mladic denunciam "erros fundamentais" no julgamento, como a identificação equivocada da posição do militar entre os dirigentes sérvios da Bósnia. Eles também alegam que ele pode ser vítima de uma "negação de justiça", em razão de seu estado de saúde.

Problemas de saúde

Inicialmente programadas para março, as audiências foram adiadas pela primeira vez, porque Mladic, de 78 anos, foi submetido a uma cirurgia de cólon, e uma segunda vez, por causa da pandemia de Covid-19.

O ex-militar compareceu à audiência nesta terça-feira de manhã, aparentando fragilidade e usando uma máscara. Ele se queixou de ter problemas para acompanhar os procedimentos do tribunal através de seus fones de ouvido.

"Ele não tem energia" e sua memória pode pregar peças nele, disse o filho Darko Mladic, mas o Mecanismo de Tribunais Criminais Internacionais (MTPI) considerou que as condições dadas não justificavam um novo adiamento.

Genocídio em outras cidades da Bósnia

A procuradoria pede que o TPII considera Mladic culpado por um segundo crime de genocídio cometido em outras seis cidades da Bósnia e Herzegovina em 1992. No primeiro julgamento, o TPII condenou o ex-militar pelas atrocidades cometidas apenas em Srebrenica. Devido à pandemia, as famílias das vítimas não irão a Haia.

"Esta é a primeira vez que não comparecemos a um evento importante ocorrido no tribunal de Haia", disse à agência AFP a presidente da Associação de Mães de Srebrenica, Munira Subasic. Ainda assim, ela rejeita mais um adiamento no processo. O MTPI "não deve perder a motivação e deve completar sua missão", disse ela. "Esperamos que Mladic seja condenado por genocídio por crimes cometidos em outros municípios também, não apenas em Srebrenica", acrescentou.

Ratko Mladic terá a oportunidade de falar pessoalmente nesta quarta-feira, por 10 minutos, no final da audiência. A nova sentença só será conhecida em no mínimo nove meses.

O ex-militar é um dos principais líderes julgados pela justiça internacional por crimes cometidos durante as guerras na ex-Iugoslávia. Antes dele, foram processados o ex-líder político dos servo-bósnios, Radovan Karadzic, e o ex-presidente iugoslavo Slobodan Milosevic, falecido em sua cela em Haia de um ataque cardíaco em 2006, antes da conclusão de seu julgamento. Karadzic foi condenado à prisão perpétua em segundo instância, em 2019, por genocídio, crimes de guerra e crimes contra a humanidade.

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