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Após demitir jornalistas em greve, Lukashenko convoca russos para cobrir situação em Belarus

Enquanto manifestantes seguem com os protestos e a repressão aumenta em Belarus, nos veículos de comunicação, dezenas de jornalistas de rádio e televisão estatais fizeram greve esta semana. E foram demitidos. O boato que já circulava há 48 horas foi confirmado pelo próprio presidente, Alexander Lukashenko, nesta sexta-feira (21). Ele "convidou" jornalistas russos para substituí-los e trabalhar na televisão estatal com os bielorrussos que permaneceram.

Em Belarus, o presidente Lukashenko convidou jornalistas russos para cobrirem suas viagens, após a demissão dos bielorussos demitidos por terem aderido à greve.
Em Belarus, o presidente Lukashenko convidou jornalistas russos para cobrirem suas viagens, após a demissão dos bielorussos demitidos por terem aderido à greve. Sergei GAPON / AFP
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Esses "convidados" russos foram orientados a seguir o chefe de Estado em suas viagens. Jornalistas bielorrussos que se opuseram ao poder agora buscam criar uma mídia alternativa.

Nos escritórios da televisão estatal, alguns relatam, há policiais nos corredores e russos atrás das telas produzindo boletins diários. Eles estão substituindo os jornalistas bielorrussos que pararam de trabalhar, tendo o acesso aos seus escritórios negado e, em seguida, tendo sido demitidos.

Esta decisão foi particularmente corajosa, opina Sergei Kharytonov, um jornalista freelance. “Acho que foi muito difícil para eles anunciar que não podiam mais serem coniventes com o regime de Lukashenko. É preciso entender que a maioria deles estava envolvida na máquina de propaganda em grande escala que fez lavagem cerebral nos bielorussos por 26 anos”, explica o homem que se tornou um especialista em mídia em um think tank, um grupo de reflexão em Minsk.

Sem um empregador, alguns profissionais querem começar uma mídia independente. “Tecnicamente falando, eles têm muita experiência. Eles dominam técnicas muito avançadas. Mas a pergunta é: quem vai querer investir nesta mídia?”, ele se pergunta.

Encontrar investimento não é tarefa fácil em um país onde jornalistas independentes já são frequentemente perseguidos e ameaçados pela polícia. Com isso, qualquer apoio financeiro vindo do exterior enfraqueceria esta mídia. Recentemente o presidente Lukashenko já repetiu algumas vezes que "toda oposição é organizada e financiada pelo Ocidente".

Uma mídia alternativa

Para esses jornalistas bielorrussos que se opuseram ao poder e agora buscam criar uma mídia alternativa, esta pode ser uma missão de guerra. A Belarus é um país em situação de instabilidade e que ocupa o 153º lugar no ranking anual dos Repórteres Sem Fronteiras (RSF) sobre liberdade de imprensa.

“Esta greve e a onda de demissões nas rádios e televisão estatais são apenas uma pequena parte da repressão ao jornalismo independente em meu país. Por muitos anos, Belarus teve os piores resultados na Europa em termos de liberdade de imprensa”, observa Sergei Kharytonov.

Ele, que agora trabalha em um think tank internacional, afirma “que há um número muito limitado de meios de comunicação que não sejam propriedade do Estado e que produzam uma opinião diferente da verdade oficial. E hoje muitos jornalistas independentes são perseguidos, ameaçados, detidos. Muitos foram presos pela polícia após as eleições presidenciais de 9 de agosto. Diversos jornalistas estrangeiros não foram autorizados a entrar no território."

“O que aconteceu nas últimas duas semanas com a imprensa é simplesmente um resumo do que aconteceu ao setor jornalístico nos últimos 26 anos com Lukashenko no poder”, conclui.

Mais repressão e conflito

O presidente Lukashenko ordenou neste sábado (22) que seu ministro da Defesa tomasse "medidas mais rígidas" para defender a integridade territorial do país, abalado pelo movimento de protesto desde a polêmica eleição presidencial. Ele inspecionou as unidades militares implantadas em Grodno, no oeste do país, perto da fronteira com a Polônia, de acordo com um comunicado publicado no Telegram pela presidência de Belarus. Ao chegar ao polígono militar de Grodno, Lukashenko denunciou o movimento de protesto instigado, segundo ele, "de fora".

Por outro lado, a líder da oposição de Belarus, Svetlana Tikhanovskaya, desafiou Lukashenko nesta sexta-feira, afirmando que o povo bielorrusso "nunca mais aceitará sua liderança", agora que o governo lançou processos judiciais contra a oposição.

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