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Linha Direta

Ansiedade pelo fim do confinamento tem pressionado todos os países da Europa

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A volta do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, à linha de frente do combate ao novo coronavírus no Reino Unido não significa que chegou a hora de afrouxar as regras da quarentena, como muitos imaginavam. Existe um debate dentro da sua equipe sobre qual será o momento ideal para que isso aconteça. O premiê reconhece o nervosismo, mas pediu paciência.

A União Europeia sugeriu que os países montassem um cronograma em conjunto.
A União Europeia sugeriu que os países montassem um cronograma em conjunto. REUTERS - Yves Herman
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A ansiedade pelo fim do confinamento tem pressionado todos os países da Europa, que vêem suas economias minguando.

Na Alemanha parte do comércio foi reaberto. Na Espanha, crianças acompanhadas dos pais podem sair para se exercitar. Na Itália, livrarias, feiras, parte da indústria e do comércio também tiveram suas atividades retomadas. No entanto, mesmo nesses países, que supostamente já teriam passado pelo pico da contaminação, as pessoas não parecem estar correndo para as ruas.

A cautela é grande. Na Bélgica, as autoridades estariam cogitando aumentar a chamada "bolha social” em que a população está autorizada a viver, hoje limitada aos membros da casa. Uma ideia seria permitir que as pessoas pudessem se reunir com até 10 indivíduos de sua escolha nos fins de semana. E não poderiam trocar esse universo de pessoas até segunda ordem. Mas como isso seria controlado? Ninguém sabe ao certo como promover a retomada sem o risco de uma segunda onda de contaminação.

A União Europeia sugeriu que os países montassem um cronograma em conjunto.

O chanceler britânico Dominic Raab, que ocupou a cadeira de Boris Johnson em sua ausência, já avisou que o público deve aceitar o que chamou de “novo normal”, com duras limitações impostas por muitos meses. Essa é mensagem que tem sido repetida pela equipe médica do governo.

Certamente, a estratégia de saída da quarentena é um dos temas que mais têm sido discutidos no gabinete de Johnson. Mas as autoridades britânicas sabem que, sem uma vacina à vista e sem número expressivo de testes na população, é difícil retomar o contato social sem desencadear uma temida segunda onda de contágio.

Busca por testes bloqueia site do governo

A meta do governo é de aumentar para 100 mil testes por dia, número que ainda está bem longe do objetivo. Nos últimos três dias, a página do governo que oferece exames de Covid-19, sobretudo para as pessoas dos serviços essenciais, saiu do ar com menos de uma hora de funcionamento.

Além disso, o sistema público de saúde tenta concluir um novo aplicativo de rastreamento da população que está ou esteve contaminada para garantir a desejada segurança no pós-quarentena. Mas existe uma grande discussão no país sobre as tão valorizadas regras de privacidade.

De acordo com Christopher Fraser, da Universidade de Oxford, que lidera o grupo montado com o NHS – o sistema público de saúde –, para rastrear o vírus, em torno de 3% a 10% da população teria sido contaminada, de dois a quase sete milhões de habitantes.

No Reino Unido, a quarentena continua pelo menos até o dia 7 de maio. A regra é que o prazo seja revisto a cada três semanas. Mas o recado de Johnson, que acaba de se recuperar da Covid-19, é o de que não é possível relaxar agora. Ele entende a ansiedade da população, mas diz que não se pode jogar fora todo o sacrifício feito até aqui.

É possível que o Reino Unido esteja passando pelo pico da contaminação. Mas é cedo para dizer. Por mais que o número de internações pareça ter se estabilizado, a situação não está nem próxima do que se consideraria razoável. No fim de semana, o país ultrapassou a barreira dos 20 mil óbitos nos hospitais. O número oficial não considera as mortes nas casas de repouso ou nas comunidades, estimadas atualmente em mais de 7 mil.

A pressão econômica no país é enorme. O Reino Unido registra um número jamais visto de pedidos de ajuda do crédito universal para a subsistência de quem está sem trabalho. Mesmo com o auxílio dos pacotes de estímulo equivalente a mais de R$ 2,5 trilhões anunciados pelo governo, o comércio já avisa que não terá como se manter por muito tempo. No Twitter, o tema mais comentado da segunda-feira (27) era o fim do confinamento.

Paradoxalmente, por mais impaciente que estejam todos, a população reconhece a necessidade de ficar em casa. Quase 90% dos britânicos apoiam a decisão do governo de manter os trabalhadores de serviços não essenciais em casa. Enquanto 87% afirmam que a quarentena deve ser mantida por pelo menos mais três semanas. É o que indica a pesquisa de opinião realizada pelo Winton Centre for Risk and Evidence Communication, da Universidade de Cambridge, que ouviu 2.502 pessoas em todo o país na semana passada.

Debate com a oposição

No pronunciamento de segunda-feira (27), Johnson destacou que vai dar o "máximo de transparência” para a estratégia do governo na nova fase que se inicia.

E avisou que vai procurar os líderes da oposição para que ajudem a traçar as próximas metas. Seu governo tem sido acusado de tomar as rédeas da situação sozinho, sem sequer ouvir o Parlamento, que esteve em recesso até a semana passada. E não é só isso: Johnson e sua equipe continuam recebendo críticas daqueles que acreditam que o país demorou demais para oficializar o isolamento social total.

Os britânicos estão em quarentena desde o dia 23 de março. O anúncio foi feito pelo primeiro-ministro no dia 20 de março, quando o país registrava 177 mortes pela Covid-19. Este também foi o último dia das aulas. O Reino Unido foi a última nação europeia (à exceção da Suécia, que não decretou quarentena) a fechar as escolas.

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