O ex-presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, foi eleito neste domingo presidente do Partido Social-Democrata alemão. Schulz, que vai enfrentar a chanceler Angela Merkel nas eleições parlamentares de setembro, conseguiu 100% dos votos dos representantes de seu partido. Essa é uma façanha inédita na história dos sociais-democratas alemães, que alavanca definitivamente a candidatura dele ao governo alemão e ressalta a força do “fenômeno Schulz”.
Márcio Damasceno, correspondente da RFI em Berlim
O social-democrata Martin Schulz está sendo visto como uma séria ameaça aos planos de reeleição de Angela Merkel. Depois de anos sendo considerada invencível, a chanceler vê agora surgir um adversário à altura, que dispara nas pesquisas de maneira vertiginosa.
Há diversos fatores que podem explicar a ascensão de Martin Schulz na política alemã. Ele anunciou sua candidatura para disputar as eleições alemãs num momento em que sua legenda, o Partido Social-Democrata, vinha amargando anos de estagnação nas pesquisas de intenção de voto. Já em poucas semanas como candidato ao governo alemão, Schulz levou seu partido a ultrapassar os conservadores da chanceler Merkel nas pesquisas pela primeira vez em 10 anos.
Após atuar muitos anos como eurodeputado e como presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz é um candidato sem o desgaste da maioria dos outros políticos entre o eleitorado. Vale lembrar que o partido dele é atual membro da coalizão que apoia o governo de Angela Merkel. Mas Schulz é alguém de fora, que não ocupou cargos no governo e que tem, por isso, uma relativa liberdade para criticar o governo alemão quase como se fosse um candidato da oposição, que ele, na prática, não é.
Guinada à esquerda
Schulz prometeu uma guinada à esquerda e mais justiça social para os alemães, ampliando benefícios sociais e trabalhistas como, por exemplo, o aumento do tempo do recebimento do seguro-desemprego. Uma de suas principais promessas de Schulz é reverter parte das reformas sociais e trabalhistas implementadas há mais de 10 anos pelo chanceler social-democrata Gerhard Schröder, defendidas por Angela Merkel, e que grande parte dos analistas econômicos consideram responsáveis pelo crescimento econômico da Alemanha nos ultimos anos.
Essas reformas causaram a saída de Schröder e um período de crise entre os sociais-democratas. De resto, Schulz permanece vago, sem se deter em detalhes. Muitos também o criticam exatamente por isso. Mas talvez essa tendência a abordagem de temas gerais, sem maiores especificações, também seja outro motivo do sucesso de Martin Schulz entre os eleitores.
Coalizão
Há chances de que ele realmente consiga derrotar a chanceler. Caso isso aconteça, um governo mais provável é uma coalizão entre sociais-democratas e verdes ou mesmo uma continuação da coalizão entre sociais-democratas e democrata-cristãos, mas com Martin Schulz como chefe de governo no lugar de Merkel. Mas o quadro ainda parece confuso. Nas pesquisas de opinião a diferença é pequena entre os partidos de Schulz e da chanceler Merkel.
A ascensão de Martin Schulz foi muito repentina, pode ser que ele já tenha atingido o ápice de popularidade, que a euforia inicial perca a força e que haja uma queda durante a campanha. Até agora Martin Schulz não tem sido alvo de muitas críticas, por ter atuado principalmente na política europeia e sem desgaste na política interna alemã. Mas isso pode ir mudando.
Merkel ainda está em alta
A crise migratória, que vinha sendo um grande desafio para o governo alemão e para a chanceler, não ocupa mais as manchetes. Merkel continua com a popularidade relativamente alta, não há descontentamento generalizado entre os eleitores com relação ao governo. Muito pelo contrário, Merkel ainda é considerada como uma líder europeia de respeito, como uma garantia de estabilidade em um mundo atualmente cheio de incertezas. Com fatores de incertezas como Trump, como o Brexit, como o terrorismo, Merkel ainda é vista como garantia de estabilidade, que é algo que os alemães prezam muito. Então, ainda é cedo para se arriscar previsões.
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