Nesta sexta-feira, os líderes do bloco europeu se reúnem em uma Cúpula informal na capital La Valeta, em Malta, para continuar a discussão sobre o futuro da UE, iniciada no ano passado. Porém, as questões sobre Trump devem ofuscar a agenda.
Leticia Fonseca de Bruxelas para o RFI
Ainda aprendendo a difícil arte de lidar com as decisões do novo presidente americano, os líderes europeus vão tentar definir uma nova visão para a União Europeia, com mais coesão nas questões de política externa e aumento dos gastos com defesa.
Diante da crise dos refugiados, da ameaça terrorista, da vitória do Brexit e eleição de Donald Trump, que trouxe incerteza para o futuro da Otan e dos acordos comerciais com a Europa, o bloco europeu enfrenta um dos maiores desafios de seus quase 60 anos de história.
É a primeira vez que os chefes de Estado e de governo europeus se reúnem desde a posse de Trump. Certamente eles devem condenar a política anti-imigração do novo presidente americano. Só não se sabe qual será a intensidade desta crítica.
Apesar de ter sido planejada para discutir a crise migratória e o futuro da União Europeia após a saída do Reino Unido, os debates em Malta devem ser ofuscados pelas questões envolvendo Trump.
UE enfrenta um dos maiores desafios de sua história
A UE se tornou um dos alvos preferidos de Donald Trump. Pouco após assumir a presidência dos EUA, o magnata conservador declarou que o bloco europeu era um instrumento da Alemanha que teria como objetivo ultrapassar os americanos na economia mundial. Declarações como esta fizeram Bruxelas começar a endurecer seu discurso contra os EUA, um parceiro que sempre considerou essencial. Em resposta aos comentários de Trump sobre o Brexit, de que outros países seguiriam o exemplo do Reino Unido, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, qualificou de “preocupantes” as posições da nova administração da Casa Branca.
“O presidente americano, Donald Trump, é uma ameaça potencial para a União Europeia”, afirmou Tusk. No início desta semana, Donald Tusk enviou uma carta aos líderes do bloco, afirmando que a mudança política em Washington e a nova situação geopolítica mundial poderiam ser vistas como ameaças para a UE.
Alguns governos e representantes do bloco pediram cautela e um tom mais conciliador para que Bruxelas não se indisponha com seu principal aliado internacional.
Na Europa, as melhores relações de Trump são com os políticos anti-UE como o eurocético britânico Nigel Farage e Marine Le Pen, líder da extrema-direita na França.
No seu primeiro encontro com Donald Trump, na semana passada em Washington, a primeira-ministra britânica Theresa May disse acreditar que poderia estabelecer uma forte relação pessoal com o novo ocupante da Casa Branca, argumentando que “às vezes, os opostos se atraem”.
Nesta sexta-feira, May se reúne com seus colegas europeus para relatar alguns detalhes de sua recente visita à Washington. No entanto, Theresa May não foi convidada para participar dos debates sobre o futuro do bloco.
Os dirigentes europeus devem ainda discutir os preparativos da reunião de Cúpula na Itália, no final de março, para a comemoração dos 60 anos do Tratado de Roma, marco inicial da UE.
Conselho Europeu planeja fechar a rota migratória
A União Europeia deve tentar definir as medidas para bloquear a rota migratória do Mediterrâneo Central, que se tornou o principal trajeto rumo à Europa.
O combate contra os traficantes de seres humanos, a formação dos guardas costeiros líbios e o apoio financeiro para cooperar com uma Líbia mergulhada no caos são algumas das medidas que serão discutidas em La Valeta.
A presidência rotativa do bloco, que está sob a responsabilidade de Malta, pretende negociar um acordo com a Líbia, de onde a maior parte de imigrantes africanos saem para à Europa.
No ano passado, 4 mil refugiados morreram no Mediterrâneo, principalmente na rota entre Líbia e Itália. Para a União Europeia, a maioria é formada por migrantes econômicos, que deveriam ser devolvidos a seus países.
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