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Linha Direta

Após Brexit, Partido Trabalhista britânico vive racha histórico

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No Reino Unido, o principal partido da oposição, o Trabalhista, está em plena contagem de votos em uma eleição interna para decidir se seu polêmico líder, Jeremy Corbyn, continua no cargo ou não. A legenda entrou em ebulição e, segundo analistas, vive um racha histórico devido ao resultado do referendo que decidiu pela saída do Reino Unido da União Europeia. Muitos membros do Partido Trabalhista acreditam que Corbyn não se esforçou para convencer os eleitores de que a permanência seria melhor para o país.

Jeremy Bernard Corbyn atual líder do Partido Trabalhista e líder da oposição na Câmara dos Comuns.
Jeremy Bernard Corbyn atual líder do Partido Trabalhista e líder da oposição na Câmara dos Comuns. REUTERS/Peter Nicholls
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Maria Luísa Cavalcanti, correspondente da RFI em Londres

Pesquisas de intenção de voto indicam que Corbyn deve sair vitorioso da eleição interna. O resultado será anunciado neste sábado (24), e está sendo muito aguardado por todas as alas da política britânica em meio à crise deflagrada pelo Brexit

Corbyn, que foi eleito para liderar os trabalhistas há apenas um ano e já está sendo desafiado internamente, sempre foi o que os britânicos chamam de “backbencher”. Ou seja, um parlamentar e membro ativo do Partido Trabalhista mas que nunca assumiu uma pasta executiva quando a legenda esteve no governo, nem esteve no gabinete paralelo enquanto os trabalhistas estiveram na oposição.

Além disso, ele sempre foi visto como alguém bastante à esquerda da linha moderada que o partido manteve durante as lideranças de Tony Blair, Gordon Brown e Ed Miliband. Portanto, no ano passado, acabou sendo eleito por aqueles membros do partido que acreditavam que era necessário dar uma guinada à esquerda para fazer frente aos conservadores, que tinham acabado de ser reeleitos para o governo.

Corbyn, que tem 67 anos, conquistou principalmente o voto da parcela mais jovem dos afiliados, que gostam do jeito de ativista que ele tem. Mas entre os trabalhistas que já possuem cadeiras no Parlamento, ele recebeu pouco apoio. Neste último ano, isso acabou pesando contra ele. Para muitos desses políticos, ele não vem fazendo uma oposição muito forte, e o partido perdeu muito terreno em regiões do país que já foram majoritariamente trabalhistas.

Mas a gota d’água foi mesmo o resultado do referendo que decidiu pela saída do Reino Unido da União Europeia. Os demais trabalhistas acreditam que Corbyn não se esforçou para tentar convencer os eleitores que a permanência seria melhor para o país. Corbyn teve sua liderança desafiada e um novo candidato a líder se apresentou, Owen Smith, um ex-jornalista que é parlamentar há seis anos e que vem prometendo reunificar o partido.

Analistas duvidam da liderança de Corbyn

A figura do líder de um partido é fundamental porque é ele quem assume o cargo de primeiro-ministro se seu grupo obtiver a maioria do Parlamento em uma eleição. Após o Brexit, o então primeiro-ministro David Cameron renunciou, e os conservadores deram a liderança para Theresa May. No entanto, a atual primeira-ministra está sendo bastante pressionada internamente para convocar novas eleições o quanto antes.

O grande problema dos trabalhistas é que muitos acreditam que, com Corbyn na liderança, o partido perderia feio, vendo a maioria de seus assentos no Parlamento passarem para outros partidos. Existe uma visão de que, mesmo que Theresa May não convoque eleições, os trabalhistas vão acabar implodindo e tendo que se reagrupar em formações menores.

Para a política britânica, o fenômeno é algo completamente novo. A oposição tem um papel oficial, com um gabinete paralelo que tem o direito e o dever de monitorar as atividades do governo, de se manifestar sobre elas e até de desafiá-las no Parlamento. Um Partido Trabalhista rachado não teria força para exercer esse papel de oposição, pelo menos não da maneira como veio fazendo até recentemente.

Líder trabalhista quer "recomeçar do zero"

Corbyn tem um apoio muito grande dos afiliados ao partido – cidadãos comuns que contribuem com alguma quantia anual mas que não necessariamente estão envolvidos no dia-a-dia da política partidária. Ele sabe que os políticos trabalhistas, principalmente aqueles que têm cadeiras no Parlamento, estão contra ele. Muitos até fizeram críticas diretas a ele.

Mas Corbyn já disse que pretende ouvir mais essas pessoas e que está aberto até à possibilidade de que algumas delas voltem a fazer parte do gabinete paralelo. Em um entrevista, o líder trabalhista afirmou que quer “recomeçar do zero” com todo o partido para poder fazer uma boa oposição ao governo e tentar recuperar terreno em uma futura eleição geral.

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