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UE/ Turquia

Áustria chama entrada da Turquia na UE de “ficção”

As divisões internas sobre a entrada da Turquia na União Europeia (UE) voltaram a se expor nesta quinta-feira (4), em meio a um gelo das relações entre o bloco e Ancara, após a tentativa fracassada de golpe de Estado no país. O governo austríaco pediu que as negociações entre a comunidade europeia e a Turquia sejam suspensas, mas para o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, o rompimento abrupto “neste momento seria um grave erro de política externa”.

Presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, acha que ruptura das negociações com a Turquia seria "grave erro".
Presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, acha que ruptura das negociações com a Turquia seria "grave erro". REUTERS/Francois Lenoir
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Lideranças da UE criticaram abertamente a reação repressiva do governo turco contra a oposição ao presidente Recep Tayyip Erdogan desde a tentativa de golpe, em 15 de julho. Nas últimas quase três semanas, a troca de farpas entre os dois lados provocou temores sobre o futuro do acordo entre a União Europeia e a Turquia sobre os refugiados e a colaboração contra o terrorismo, mas também jogou um balde de água fria no processo de adesão que Ancara move há anos para ingressar no bloco europeu.

Na noite de quarta-feira (3), o chanceler austríaco, Christian Kern, defendeu que a suspensão das negociações seja avaliada pelos líderes europeus, devido aos problemas “econômicos e democráticos” do país. Para ele, as negociações em curso são uma “ficção diplomática”. “Nós sabemos que as normas democráticas na Turquia são claramente insuficientes para justificar uma adesão à UE”, disse o chanceler social-democrata.

Juncker, no entanto, avalia a proposta como “contraprodutiva”. “Não acho que seria útil dizer unilateralmente à Turquia que as negociações estão encerradas”, declarou o presidente da comissão, ao explicar que, no estágio atual, o país “não pode se tornar membro da União Europeia”. “Principalmente se ela fizer o que alguns estão pedindo, o restabelecimento da pena de morte”, detalhou. A volta da pena capital resultaria na ruptura imediata do processo, ressaltam os europeus.

O ministro turco das Relações Europeias, Omer Celik, disse ter ficado preocupado com as colocações do líder austríaco, “neste momento em que Ancara enfrenta a tentativa de golpe de Estado”. “É preocupante que essas declarações sejam similares às da extrema-direita”, indicou. “Esperávamos solidariedade.”

Mandado de prisão internacional contra opositor turco

Nesta quinta-feira, um tribunal de Istambul emitiu um mandado de prisão contra o clérigo exilado nos Estados Unidos Fethullah Gülen, acusado por Ancara de planejar o recente golpe de Estado fracassado. A agência pró-governo Anatolia informa que o mandado acusa o ex-imã, exilado desde 1999 na Pensilvânia, de "ordenar a tentativa de golpe de 15 de julho", que sacudiu o poder por algumas horas e resultou na morte de 272 pessoas.

A medida abre caminho para um pedido formal de extradição do inimigo do presidente Recep Tayyip Erdogan a Washington. Várias autoridades turcas já pediram a extradição do "terrorista" Gülen.

Até agora, Washington pede de Ancara provas do envolvimento de Gülen na tentativa de derrubar o governo. A Turquia indicou que já forneceu, em duas ocasiões, "dossiês" sobre o papel do religioso no golpe.

O ex-imã, que no passado era um aliado próximo do presidente Erdogan, nega qualquer envolvimento no episódio. A questão de sua extradição promete estremecer as relações turco-americanas.

Rompimento ocorreu há dois anos

Em dezembro de 2014, a Turquia já havia emitido um mandado de prisão contra Gülen por "criar e liderar uma organização armada terrorista". Na época, o presidente Erdogan rompeu com seu ex-aliado devido a um escândalo de corrupção envolvendo parentes do líder turco e seus ministros.

Nesta quinta, o sobrinho de Gülen, Muhammet Sait Gülen, foi colocado sob custódia em Ancara, segundo anunciou a CNN Turk. Ele havia sido detido em 23 de julho na cidade de Erzurum (leste). Além disso, dois juízes do Tribunal Constitucional foram demitidos, segundo Anatolia.

A caça implacável aos simpatizantes, reais ou supostos, de Gulen na Turquia atingiu todos os setores da sociedade, principalmente o exército, a educação, justiça e meios de comunicação. Segundo os últimos dados fornecidos na quarta-feira pelo ministro do Interior, Efkan Ala, quase 26.000 pessoas foram detidas e 13.419 estavam em prisão preventiva.

Com informações da AFP
 

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