A um dia do plebiscito que vai decidir sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia, os alemães se preocupam com uma possível saída do país do bloco. Do ponto de vista de Berlim, a medida provocaria um desequílibrio dentro da Europa e a Alemanha seria levada a uma desconfortável posição de dominância que não quer e não pode arcar. Outras autoridades europeias voltaram nos últimos dias alertar os britânicos para os perigos de uma saída da União Europeia.
Márcio Damasceno, correspondente da RFI em Berlim
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, disse durante um evento na Grécia que os britânicos se infligiriam uma "automutilação" se votassem a favor da saída União Europeia. Ele afirmou que “dar as costas aos vizinhos e se se isolar seria contrário a tudo o que a Europa e o Reino Unido representam.” Juncker ainda disse que a “Europa é mais forte quando está unida”.
O presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, tambem apelou para uma “Europa mais forte” e falou, diante do Parlamento Europeu, que a autoridade monetária está preparada para as turbulências que possam surgir na zona euro com o resultado do referendo desta quinta-feira. Ele disse que o BCE está “preparado para todas as contingências que possam surgir” após o plebiscito.
Já o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, havia dito na segunda-feira que o plebiscito sobre um possível Brexit é um "sinal de alarme" e que seria "insensato" para a União Europeia (UE) ignorá-lo. Ele falou também que, "independentemente do resultado, seria necessário olhar mais profundamente para o futuro da UE. O clima é de expectativa e, claro, de certa apreensão, ainda mais sabendo que a votação possivelmente será apertada. O tema é destaque na imprensa alemã, ganhando atualmente mais espaço nos jornais que a crise dos refugiados ou terrorismo, por exemplo.
Maioria dos alemães quer que britânicos continuem na UE
Uma pesquisa publicada semana passada atesta que a maioria dos alemães quer que os britânicos continuem na União Europeia. Segundo a sondagem, 78% dos entrevistados apoiam a permanência do Reino Unido no bloco. Apenas 13% dos alemães são a favor de uma saída dos britânicos. E 47% dos entrevistadoos acreditam que a população britânica vai votar contra uma saída, enquanto 38% acreditam que a maioria será favorável ao Brexit.
A chanceler alemã, Angela Merkel, prefere evitar comentários sobre o plebiscito, por considerar esse um assunto interno dos britânicos. Ela diz que os alemães consideram o Reino Unido parte da União Europeia, sempre ressaltando que cabe a eles decidir sobre o futuro do país. Já o ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, já se pronunciou claramente contra a saída do Reino Unido, alertando que a reação do setor financeiro seria imprevível.
Durante um evento ontem em Berlim, Schäuble disse que a economia alemã também deverá ser “consideravelmente afetada” por uma saída do Reino Unido e ressaltou que a “Europa não se encontra em bom estado” e que são necessárias mudanças no bloco após o plebiscito, mesmo que os britânicos decidam permanecer na União Europeia.
Alemanha teme papel de liderança excessivo
Um dos dos temores é que a saída do Reino Unido leve a Alemanha a ter que desempenhar um papel de liderança proeminente demais. A saída de um peso-pesado como Londres, que atua como um contrapeso a Berlim, pode pesar nos ombros alemães em termos econômicos. Do ponto de vista político e histórico, a medida também pode provocar nos outros membros velhos sentimentos sobre uma suposta ambição de hegemonia alemã dentro do continente, o que poderia, a longo prazo, azedar os ânimos dentro da União Europeia.
NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.
Me registro