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Erros de análise estão facilitando ação de terroristas na Europa, criticam especialistas

Os países europeus estão errando na análise das informações que dispõem sobre os suspeitos de terrorismo. A crítica foi feita por Claude Moniquet, especialista em questões de segurança e defesa, além de cofundador e diretor do Serviço Europeu de Inteligência Estratégica e Segurança, que concedeu entrevista na manhã desta sexta-feira (25) à RFI.

Controle policial próximo ao aeroporto de Bruxelas.
Controle policial próximo ao aeroporto de Bruxelas. REUTERS/Charles Platiau
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Segundo Moniquet, os países europeus precisam melhorar a troca de informações e sobretudo analisar melhor os dados que já dispõem para evitar novos atentados como os que aconteceram em Bruxelas, no início da semana, e em Paris, no ano passado. “Não existe qualquer dúvida entre a ligação dos atentados cometidos em Paris e Bruxelas, assim como se sabe que todos os envolvidos nos atentados já eram conhecidos dos serviços de inteligência, mas conseguiram agir da mesma maneira”, disse o especialista.
Foram vários os erros cometidos pelas autoridades belgas, entre eles o fato de não terem investigado as informações fornecidas pela Turquia, no ano passado, que expulsou de seu território um dos homens-bomba que agiu em Bruxelas. Ibrahim El Bakraoui foi detido em junho de 2015 na Turquia, perto da fronteira com a Síria e expulso em julho para a Bélgica pela Holanda, por ser um "combatente jihadista". O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse que informou a Bélgica do fato, mas que nenhum providência foi tomada.

O incidente causou desconforto político e os ministros da Justiça e da Defesa da Bélgica, Koen Geens e Jan Jambon, apresentaram ao primeiro-ministro Charles Michel seus pedidos de demissão, reconhecendo que cometeram falhas. No entanto, Michel não acatou os pedidos e prometeu que seu "governo e as autoridades competentes farão absolutamente tudo para esclarecer os atentados".

Em meio às críticas, Estados Unidos elogiam ações da Bélgica
O secretário de Estado americano, John Kerry, chegou nesta sexta-feira (25) a Bruxelas para apresentar suas condolências à Bélgica e oferecer o apoio de Washington na luta contra o terrorismo. Dois americanos foram mortos nos ataques. Em meio às críticas, Kerry apresentou apoio ao trabalho que vem sendo feito pelo governo belga. “Este governo está no poder há um ano e tem agido de maneira muito forte contra o terrorismo”, declarou.

No entanto, o desconforto causado pelas falhas continua. Uma investigação foi aberta para saber, por exemplo, por que Ibrahim El Bakraoui foi posto em liberdade condicional no início do ano passado, depois de ter sido condenado a 10 anos de prisão, em 2010. Ele atirou contra um policial após participar de um assalto a banco. A investigação quer entender também porque ele não voltou para a cadeia, uma vez que saiu do país e foi para a Turquia, como ficou evidente nestes últimos dias.

Khalid El Bakraoui, que cometeu o atentado no metrô de Bruxelas, também é antigo conhecido da polícia e foi condenado a cinco anos de prisão, em 2012, por roubo e agressão. Ele violou as condições de sua liberdade condicional ao visitar um dos antigos comparsas e, também, não voltou a ser detido por conta da infração.
As explicações fornecidas até agora pelas autoridades belgas são de que não se tinha informação de que os irmãos El Bakraoui tinham ligação com terroristas e se desconhecia que ambos estavam se radicalizando.

Polícia belga conhecia paradeiro de Abdeslam há quatro meses
E os erros das autoridades belgas não pararam por aí. De acordo com Moniquet, em entrevista à RFI, em dezembro de 2015 um policial da pequena cidade de Maline, que fica a 30 quilômetros de Bruxelas, recebeu uma denúncia de uma fonte anônima - que disse ser de origem marroquina - informando o local onde estaria escondido Salah Abdeslam, o único terrorista sobrevivente dos atentados de Paris. Moniquet disse que a informação recebida em dezembro pela polícia é exatamente a mesma do local onde Abedeslam foi encontrado na semana passada. “Eles conheciam as informações e isso ficou arquivado num computador por quatro meses, sem ser repassado ao serviço antiterrorismo. É preciso explorar todas as pistas”, critica Moniquet.

Para tentar reagir rapidamente e diminuir a vulnerabilidade da Europa, o parlamento Europeu deve aprovar, no próximo mês, a autorização da divulgação da lista contendo os dados dos passageiros de avião que entram e saem da Europa. O Registro Europeu de Identificação de Passageiros (PNR) é fornecido pelas companhias aéreas mas, em função da legislação europeia de proteção à vida privada, a informação destes dados às autoridades policiais é impedida. No entendimento europeu, a divulgação destes dados abriria precedentes perigosos. A discussão já se arrasta há anos, mas após a reunião de emergência dos ministros de Interior dos países da União Europeia, realizada após os atentados de Bruxelas, o Parlamento Europeu deve colocar fim à proibição.

Outro ponto discutido pelos ministros foi a interligação dos centros de controle de fronteira de países fora da União Europeia. Pontos críticos fronteiriços deverão estar interligados à base de dados dos serviços de inteligência, para dificultar o trânsito de prováveis terroristas.

Os ministros disseram ainda que é preciso intensificar a cooperação com plataformas de internet (como provedores e redes sociais) para obter, de forma mais rápida, provas digitais ligadas à organização de atentados. O que as autoridades querem é rastrear quem está acessando sites e blogs jihadistas, por exemplo, com o intuito de preparar novos ataques.
 

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