Presidente turco ameaça enviar refugiados sírios à Europa
O presidente islamita conservador turco, Recep Tayyip Erdogan, farto dos apelos para que abra a fronteira da Turquia a novos refugiados sírios, ameaçou nesta quinta-feira (11) enviar à Europa os centenas de milhares que já estão em seu país.
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"Não tenho a palavra 'idiota' escrita na testa. Vamos ser pacientes, mas faremos o que for necessário. Não acreditem que os aviões e os ônibus estão ali sem utilidade", disse Erdogan, visivelmente irritado, em um discurso em Ancara diante de empresários.
Pouco depois, em Bruxelas o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, anunciou que uma missão naval aliada sob comando alemão iria se dirigir sem mais tardar ao mar Egeu para "ajudar a lutar contra o tráfico humano" de migrantes.
Essa iniciativa foi solicitada por Grécia e Turquia, dois países separados pelo Egeu, mar que constitui uma das principais vias tomadas pelos migrantes para entrar na Europa, com frequência colocando suas vidas em risco.
Mudança inédita
A operação de vigilância fronteiriça constitui uma mudança inédita nas missões da Otan, criada como uma organização militar de defesa. Até agora a Otan havia se recusado a se envolver diretamente na pior crise migratória na Europa desde 1945.
Erdogan também confirmou as negociações reveladas pela imprensa com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e com o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, nas quais ameaçou enviar os migrantes à Europa se não recebesse uma soma suficiente para mantê-los em solo turco.
"Estou orgulhoso de ter dito isso. Defendemos os direitos da Turquia e dos refugiados. Dissemos aos europeus: 'Sentimos muito, abriremos as portas e diremos adeus aos migrantes'", explicou Erdogan.
Essa conversa, que ocorreu em novembro passado durante o G20 de Antalya (sul da Turquia), foi citada pelo site grego Euro2day, que se referiu a "ameaças brutais" contra os europeus por parte do homem forte da Turquia.
Soma módica
Segundo o site, Erdogan considera "módica" a soma de 3 bilhões de euros proposta pela União Europeia (UE), quando seu país gastou 8 bilhões de euros apenas em campos de refugiados.
A UE aprovou em 3 de fevereiro as modalidades de financiamento de um fundo de 3 bilhões destinado aos 2,7 milhões de refugiados sírios que vivem na Turquia, que foi prometido em troca de que Ancara freie o fluxo migratório à Europa.
Desde 1º de fevereiro o regime de Bashar al-Assad, apoiado pela Rússia, lançou uma violenta ofensiva contra os rebeldes da província de Aleppo (norte), que deixou 500 mortos e provocou o êxodo de 30.000 pessoas à fronteira turca.
Esses refugiados, que fogem das bombas, estão reunidos em condições desumanas ante o posto fronteiriço turco de Oncupinar (província turca de Kilis, sul), que permanece fechado.
A Turquia, apoiada por várias ONGs, preferiu ajudar os refugiados em território sírio, enviando a eles toneladas de ajuda humanitária e deixando apenas as pessoas doentes entrarem.
"Nós nos preparamos para o pior", reiterou nesta quinta-feira o presidente turco, que disse que até 600 mil civis podem chegar às portas da Turquia se a ofensiva contra Aleppo não cessar. Também acusou a Rússia, país aliado do regime de Assad e com o qual a Turquia mantém atualmente uma séria crise diplomática, de ser o primeiro responsável pela situação na Rússia.
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