Crise entre Moscou e Berlim por suposto caso de estupro de menor

A história de um suposto sequestro e estupro de uma adolescente russa por imigrantes na Alemanha está provocando uma crise diplomática entre Berlim e Moscou. Um dia após o ministro do Exterior russo, Serguei Lavrov, cobrar providências das autoridades alemãs pelo caso, o ministro alemão do Exterior, Frank-Walter Steimmeier, acusou a Rússia de usar o caso para interferir em assuntos internos alemães, fazer propaganda e incitar o debate no país sobre imigração.

Germano-russos protestam nas ruas de Berlim contra as violências sexuais ocorridas na Alemanha por imigrantes. 23/01/16 REUTERS/Hannibal Hanschke

Marcio Damasceno, da RFI Brasil em Berlim,

Os meios de comunicação russos divulgam há vários dias a história de uma menina de 13 anos, de cidadanias russa e alemã, que teria sido sequestrada e estuprada por jovens imigrantes em Berlim. A história provocou discussão acalorada na imprensa russa.

A polícia alemã nega que tenha havido sequestro e também nega que tenha havido estupro. Já a mídia russa, que divulgou todo o episódio, acusa a polícia alemã de não estar investigando com o devido rigor. O ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, acusou a Alemanha de tentar “retocar a realidade” e abafar o suposto estupro, por causa do problema migratório.

Versões contraditórias

A adolescente desapareceu por 30 horas. Ao reaparecer, ela teria contado quatro versões diferentes e caído em contradição ao depor na polícia sobre o que teria realmente acontecido.

As autoridades alemãs afirmam que estão investigando um possível contato sexual consentido entre a adolescente e dois jovens com cerca de 20 anos, um turco e outro alemão de ascendência turca. Esse contato sexual teria ocorrido antes do desaparecimento da menina e seria considerado criminoso, apesar de consentido, já que relações sexuais com menores de 14 anos são crime na Alemanha.

A polícia alemã, entretanto, reitera que não houve estupro nem sequestro. Inclusive, o jornalista da televisão russa que divulgou o caso está sendo indiciado por inventar a história, acusado de tentar incitar o ódio contra estrangeiros.

Governo russo “instrumentaliza” caso

Do ponto de vista da mídia alemã, a história foi inventada pela TV russa e está sendo "instrumentalizada" por Moscou para criticar a política europeia em relação à crise migratória e também para mostrar que cidadãos russos morando na Alemanha estão sendo ameaçados por causa da suposta violência praticada por refugiados.

Os meios de comunicação alemães mostraram que as manifestações de imigrantes russos ocorridas neste fim-de-semana em Berlim, usando o caso da adolescente para protestar contra os imigrantes, foram até mesmo organizadas por partidos neonazistas, embora as reportagens da TV russa afirmem que o protesto foi espontâneo.

Segundo especialistas, o governo da Rússia explora o caso politicamente para mostrar à comunidade russa no exterior que se preocupa com os cidadãos mesmo fora do país. É importante lembrar que a suposta preocupação com minorias russas na Ucrânia serviu de “argumento” para anexar a Crimeia.

Outros analistas afirmam que é uma tentativa do Kremlin de desviar a atenção dos problemas internos do país e, ao mesmo tempo, alfinetar a política migratória europeia.